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Documentário sobre obra de Dalcídio é produzido

Em 2011, quando passou pelo Pará trabalhando na pesquisa do longa-metragem “Órfãos do Eldorado” (filme estrelado por Dira Paes a partir do romance de Milton Hatoum lançado no ano passado), a cineasta e escritora baiana Letícia Simões teve um encontro que

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Em 2011, quando passou pelo Pará trabalhando na pesquisa do longa-metragem “Órfãos do Eldorado” (filme estrelado por Dira Paes a partir do romance de Milton Hatoum lançado no ano passado), a cineasta e escritora baiana Letícia Simões teve um encontro que iria muito além. Ela conheceu a obra de Dalcídio Jurandir. Por coincidência – ou não -, a editora carioca 7 Letras, pela qual Letícia havia lançado seu primeiro livro de poemas, também tinha acabado de lançar uma nova edição de “Chove nos Campos de Cachoeira”, revisada a partir das anotações e rascunhos sobre o livro feitos pelo autor e que pertecem ao acervo da Casa Ruy barbosa.

“O impacto da escrita de Dalcídio foi imediato. Apaixonei- me pelo mundo construído por ele e, ainda mais, pela maneira como ele descreve esse mundo. Algumas teses acadêmicas acerca da linguagem de Dalcídio chamam atenção para esse aspecto aquoso de sua escrita e termino por repeti-las: ler Dalcídio Jurandir é navegar um rio, com horas de mergulho e horas de contemplação fora d'água. Alguns momentos de tempestade, outros de seca. ‘Cachoeira’ me leva a escritores tão diferentes como William Faulkner, Gabriel Garcia Márquez e Yasunari Kawabata. Escritores que partem do mais profundo íntimo de um personagem para atingir a dimensão de um espaço, de uma história, de um lugar, mas sob a ótica do sonho, do desejo, do assombroso”, conta Letícia.

Foi com esse arrebatamento que ela mergulhou na obra do escritor paraense e, cavucando entre sebos, coleções de amigos e visitas a diferentes bibliotecas, conseguiu ler “Belém do Grão-Pará”, “Três Casas e um Rio”, “Marajó” e “Primeira Manhã”, em quatro anos. “Portanto, ainda me falta mais da metade de sua obra completa”, contabiliza.

A paixão foi tanta que tinha que virar filme. Foi assim que surgiu o projeto do documentário em longa-metragem “O Chalé é uma Ilha Batida de Vento e Chuva”, ainda em fase inicial de captação e de pré-roteiro. O nome, pinçado de um trecho de ‘Cachoeira’, também é provisório. “O ponto principal é fazer a referência à casa de Alfredo e sua modificação ao longo do tempo (a passagem do tempo, a cidade moderna e o Marajó da infância..). E sob a superfície, a visão encharcada de sonhos que é uma casa ser uma ilha batida de vento e chuva”, explica Letícia, em entrevista concedida por email, enquanto ela cumpre um projeto na Alemanha.

SEMPRE OS LIVROS

Letícia não é marinheira de primeira viagem na aventura de trazer a obra de um escritor para a tela grande. Em 2011, ela lançou o documentário “Bruta Aventura em Versos”, sobre as múltiplas interpretações artísticas a partir da obra da poeta Ana Cristina Cesar, com depoimentos de gente como Alice Sant'anna e Laura Liuzzi, os bailarinos Márcia Rubin e Oscar Saraiva, as atrizes Patrícia Nierdemeier e Ana Kutner e o diretor, dramaturgo e ator Paulo José. No final do ano passado, saiu seu segundo filme, sobre o escritor Rodrigo de Souza Leão. “Rodrigo foi diagnosticado com esquizofrenia aos 23 anos e toda sua obra literária trabalha nessa zona limítrofe da auto-consciência e ironia autobiográfica e também uma metalinguagem poderosa”, conta a cineasta.

“Se ‘Bruta Aventura em Versos’ foi um documentário construído como uma carta de amor à Ana Cristina Cesar, ‘Tudo Vai Ficar da Cor que Você Quiser’ teve o corpo de um fanzine punk audiovisual. Em ambos, está o cuidado de priorizar a obra em relação ao artista, a procura pelo diálogo entre a literatura e outras formas de arte e a profunda pesquisa no acervo dos escritores. ‘O Chalé é uma Ilha Batida de Vento e Chuva’ também terá essas mesmas características na abordagem da vida e da obra de Dalcídio Jurandir”, adianta Letícia.

Para ela, a importância de resgatar a obra de Dalcídio e divulgá-la ainda mais através do cinema se justifica em seus próprios termos, pela própria trajetória do autor paraense. “Para responder, copio um trecho do projeto do filme: ‘Caboclo, nascido na Vila de Ponta de Pedras, na Ilha do Marajó, em 1909, e sem ter terminado os estudos, Dalcídio lidou durante toda a vida com dificuldades financeiras e preconceitos decorrentes de sua cor e origem. Já adulto e romancista, trabalha como lavador de pratos, estivador e, finalmente, se estabelece como inspetor escolar. Sobe e desce o rio Tapajós, sem temer febre, chuva, rompendo atoleiros, andando em montarias, para visitar as escolinhas auxiliares, perdidas no mato e no campo’, como escreve em seu diário. Sua literatura vira-se exatamente para este universo: um olhar plástico da existência humilde de personagens que são pequenos proprietários de terra, campeadores, pescadores, barqueiros, empregados de fazendas. A matéria humana que Dalcídio descreveu, como a ‘farinhad’água de meus beijus’. Através dos dez livros que compõem a Saga do Extremo Norte, Dalcídio nos introduz a um mundo fascinante, povoado de desejo, sonho e realismo fantástico", dia a diretora.

Outra questão a resolver será a distribuição do filme, problema que Letícia enfrentou em seus filmes anteriores, que fizeram carreira em festivais e canais fechados, mas ficaram limitados pelo baixo orçamento. “Recebo quase que semanalmente pedidos vindos de todo o Brasil para ver o filme ou comprar o DVD. Cheguei a ter reuniões para lançar o documentário em DVD, mas que nunca foram adiante pelo custo”. Mas essa é uma preocupação para deixar adiante.

(Diário do Pará)

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