De acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Pará há 15.459 pessoas com deficiência visual. Os surdos são 11.284. Pessoas com alguma dificuldade motora, 21.239, e com algum comprometimento mental ou intelectual, 84.194. É possível enxergar essas pessoas além da deficiência, se pensarmos que elas refletem a diversidade da sociedade em que vivemos. Partindo daí, fica mais fácil perceber que são as barreiras sociais criadas ao se ignorar essas pessoas e não incluí-las que geram as verdadeiras diferenças.

E não são poucas as barreiras enfrentadas diariamente por pessoas com deficiência. Algumas tão básicas, como o acesso à saúde, à educação, ao direito de ir e vir, que o debate sobre inclusão quando o assunto é arte e cultura ainda parece em um estágio muito mais primitivo. Um cenário que começa a mudar devagar. 

A acessibilidade cultural é, acima de tudo, uma conquista de cidadania. A Declaração Universal dos Diretos Humanos, de 1948, já diz que toda pessoa tem direito de participar da vida cultural da comunidade. A Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada por unanimidade pela Organização das Nações Unidas em 2007 e ratificada pelo Brasil em 2009, fala sobre a importância de se criar medidas para que as pessoas com deficiência possam usufruir de materiais, atividades e serviços culturais. 

Por aqui, ainda estamos tateando. São poucas as ações e políticas culturais voltadas para a acessibilidade, na maioria das vezes pontuais. Na tentativa de avançar nesse processo, em janeiro deste ano, o Ministério da Cultura (MinC) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) lançaram um processo seletivo para o curso de especialização em acessibilidade cultural, aberto a pessoas de todo o Brasil e todo financiado com recursos do governo federal. O objetivo é instrumentalizar gestores públicos na implantação de políticas de acessibilidade cultural. Em toda a região Norte, apenas uma pessoa se inscreveu e também foi selecionada para o curso: Laurene Ataíde, cientista social e guardiã do Cordão de Pássaro Colibri de Outeiro.

Laurene trabalha há 44 anos com cultura popular no Pará e viu no curso uma oportunidade de aplicar o que vai aprender nesse trabalho com o folclore.“Fui a única pessoa que se inscreveu, é impressionante. Fico feliz por mim, mas triste porque as pessoas não buscam essa oportunidade. Tudo que estou aprendendo tem sido algo novo. A minha vontade é usar tudo que estou aprendendo para montar uma peça de Pássaro, pensada dentro dessa ideia de acessibilidade cultural e fazer alguma gravação para disponibilizar para outros pontos de cultura. Quero trabalhar com audiodescrição, Libras [Língua Brasileira de Sinais], legendas e muitas outras possibilidades”, sonha Laurene. 

“A gente era surdo, mudo e cego. Quando se começa a fazer um curso desses, olhamos o mundo com outros olhos, vemos que a deficiência é nossa. Tem poucas coisas sendo feitas na área de cultura no nosso Estado. Estou em processo de descoberta”, diz ela, empolgada com as possibilidades do curso, que termina em dezembro.

"Quero ser igual ao Chimbinha".

Pelos olhos dela: um convite à cegueira.

Propostas de acessibilidade em Belém.

Inclusão esbarra nos interesses econômicos.

(Diário do Pará)

MAIS ACESSADAS