A maioria dos bebês, ao ver um celular, tablet, ou computador, já sabem que aproximar o indicador da tela pode trazer uma surpresa. E é para essa geração superconectada que a jornalista paraense Su Carvalho pensou o conto de Natal “O Que Eu Quero de Presente?”, que chega aos leitores em forma de e-book, com a história da época natalina na visão de um garotinho paraense em um dezembro chuvoso.
O livro, lançado pela editora e-galáxia, tem ilustrações da artista visual paraense Dani Sá, ajudando a imaginar o universo de João, que persiste com a dúvida: “O que eu quero de presente?”.
“Eu quis construir uma história onde a atmosfera de dezembro em Belém, as chuvas, as férias escolares, o nosso inverno amazônico, fosse também personagem, interagisse de alguma forma com os protagonistas. Parte, certamente, das minhas lembranças de dezembro, do clima de Natal da minha infância. Além disso, gostaria de refletir, mesmo que de maneira singela, sobre o apelo de consumo a que tanto as crianças, quanto nós, adultos, somos submetidos nessa época do ano”, explica a autora.
Ela conta que João, o personagem principal, se vê em uma questão que nunca enfrentara antes: decidir o que ganhar. A mãe o questiona e o convida a escrever uma carta ao Papai Noel anunciando a escolha. A partir de uma conversa com um pássaro encharcado pelo inverno amazônico, ele filosofa sobre o problema natalino.
“A pressão pelo consumo foi transformando a experiência do Natal e acabou se desalojando até o menino Jesus”, comenta a jornalista.
“Mas eu não queria dar esse tom. Tanto que os desenhos não remetem ao Natal, não têm aquelas cores. Eu queria falar mais da relação que temos com o presente de Natal, com o desejo de ganhar algo de presente, com uma escolha que sempre temos que fazer quando alguém pergunta ‘o que queres ganhar?’. É a primeira vez que o João tem que fazer essa escolha”, explica Su Carvalho.
O livro também aborda um Brasil que ainda não considera as diferenças regionais. “O resto do país, que comemora a chegada do verão [no fim do ano], simplesmente ignora que para uma imensa região do Brasil chegou a estação das chuvas fortes. É um conto de Natal em um inverno desconhecido para a maioria dos brasileiros, sem neve, sem frio, mas ainda assim, inverno”, conclui.
Para Su, o interessante de trabalhar a literatura infanto-juvenil é lidar com a imaginação das crianças. “Eu acho o universo infantil muito atraente e, digamos assim, mais real do que livros de ficção que fazem o esforço da verosimilhança, como deve ser. Eu observo muito as crianças, sobretudo os meus sobrinhos. Acho maravilhoso o modo como enxergam o que a gente nem percebe. Mas tenho que confessar que não escrevo muito para a criança, colocando limites de entendimento. Eu escrevo para mim, para um outro que eu jamais vou saber quem será”, explica a escritora, que ao mesmo tempo se impõe uma máxima sobre as crianças: “É melhor não subestimá-las”.
“Como Fernando Pessoa costumava dizer, um livro para crianças jamais deve ser escrito para crianças. Parto dessa ideia para escrever histórias infantis. Foi assim para esse livro e também para os outros que estão na gaveta já prontos, esperando a publicação”, revela a jornalista.
Apesar do lançamento em e-boolk, a autora admite que os livros impressos ainda são seus preferidos. “Eu acho que há algo de radicalmente analógico no ato de ler que não se perde, independente do meio. O leitor estará sempre lendo. Já que as crianças se habituaram, de certa forma, a jogar e ver vídeos em tablets. É importante que elas descubram que também podem ler nessas plataformas. De qualquer forma, eu ainda gosto mais do papel, gosto de pegar no livro e não acredito que essa alternativa de leitura vá se extinguir. Porém, pelos custos de investimento e distribuição, não é tarefa fácil encontrar um editora que aposte na impressão de um livro. Decidi lançar em e-book por isso”, finaliza.
(Gustavo Aguiar/Diário do Pará)
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