Convidado para ministrar um masterclass de canto lírico em Belém, o barítono Miguelangelo Cavalcanti é solista do Teatro Nacional de Praga, na República Checa, e um grande exemplo para jovens cantores que sonham ultrapassar os limites geográficos e sociais para alçar o voo de uma carreira internacional. De 2004 a 2011, o brasileiro nascido em Recife já era solista da Ópera Estatal de Praga e hoje, além do repertório de ópera, dedica uma atenção especial às canções de Schubert, Brahms e Ravel, assim como cantatas, oratórios e missas de Bach, Händel e Haydn.

“O meu trabalho em Praga é uma continuação do que eu já vinha realizando em outros países da Europa. A diferença está no aprimoramento da técnica, a oportunidade de fazer repertório – do mais leve até um repertório verdiano (mais pesado)”, diz ele. Mozart escreveu ópera para o Teatro Nacional da cidade. “Estou no país onde nasceram grandes mestres da música, muito próximo da Alemanha e da Áustria, que são fantásticos”, destaca.

Disciplina é essencial para sucesso 

A República Checa é limitada ao norte pela Alemanha e ao sul pela Áustria. “São quatro horas de Praga até Berlim, o nível de música que encontro em todos estes lugares é altíssimo. Sou cidadão austríaco com reconhecimento no Ministério da Cultura de lá, sem perder minha nacionalidade brasileira”, comenta Miguelangelo, cujo primeiro trabalho como cantor de ópera foi no Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa. 

Mas não foi no exterior que ele começou. Antes de estudar em países como Inglaterra e França, foi na própria cidade de Recife que ele começou sua formação. O barítono, que esteve em Belém também em julho do ano passado ministrando outro curso, comenta a cena paraense. “Aqui ainda tem a temporada de apresentações e o estudo de ópera funciona melhor que em Recife. Os professores estão mandando vozes para fora, como o tenor Atalla Ayan, contratado por grandes teatros. Passei anos sem vir ao Brasil. Do sul, não posso falar nada, sei que sempre tiveram mais condições financeiras para seus conservatórios, para trazer pessoas de fora para ensinar do que nós, no Norte e Nordeste. Mas, apesar de não ter muito dinheiro, talentos nós temos”, garante.

A continuidade dos estudos também é uma vantagem paraense, afirma Miguelangelo. “Além de ter curso médio, tem bacharelado, estudo direcionado à ópera. Os alunos aqui têm a opção de chegar ao teatro e fazer suas escolhas, quando em outros Estados, após o conservatório, ou eles vão para um coro ou dar aulas. Aqui há uma continuidade que permite aos alunos sair com base muito boa sobre canto lírico, literatura vocal, técnica vocal”, diz ele.

Mas, para chegar a uma carreira internacional, como ele, algumas qualidades são essenciais. “Voz só não adianta. Tem que ter cabeça inteligente e uma coisa chamada disciplina. Ainda precisa muito para chegar nesse nível. Música não requer dedicação pouca, requer a gente por inteiro. Se você não é capaz de se entregar dessa forma, nunca atinge esse nível”.

(Lais Azevedo/Diário do Pará)

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