Miguel Chikaoka é paulista de nascimento e paraense por amor e opção. Mas é, antes de tudo, de raízes japonesas e, movido pelo desejo de conhecer essa história que corre em suas veias, encontrou na leitura de “Oku no Hosomichi”, o mais famoso relato de viagem do poeta japonês Matsuo Bashô (1644–1694), a inspiração para mergulhar na sua ancestralidade. A pé e de trem, Chikaoka atravessou a ilha desde a costa do Mar do Japão até o Pacífico, numa viagem solitária que durou 45 dias, passando por pequenas cidades e vilas, zona rural e sendas do poeta, paisagens que, claro, registrou com seu olhar único. Esse mergulho em sua própria história será por ele relatado hoje, no Café Fotográfico da Fotoativa, às 19h. É claro que uma viagem dessa envergadura não culminaria apenas em um trabalho fotográfico, mas em uma mudança profunda no próprio ser de Chikaoka, com desdobramentos em sua vida e carreira. “Falo de uma busca no sentido maior do que é estar aqui, no sentido político de ser”, antecipa o artista. Chikaoka nasceu na zona rural do município paulista de Registro, Vale do Ribeira, em uma comunidade essencialmente japonesa que mantinha as tradições nas questões de família, alimentação, literatura e religião. Foi ainda da infância e juventude às margens do rio Ribeira de Iguape que veio a primeira inspiração para um projeto de investigação pessoal, esboçado em 2015, já em uma tentativa de encontro com suas raízes ancestrais.  Ele se propunha a traçar um mapa afetivo e espiritual a partir de conexões geográficas e culturais entre o Rio Ribeira de Iguape e o Rio Mogami, que encontra o mar na cidade de Sakata, região de Tohoku, norte de Honshu, a maior das ilhas do arquipélago japonês, de onde, há mais de 80 anos, o seu pai partiu rumo ao Brasil, trazendo consigo um irmão mais novo e sonhando retornar em melhores condições. “Meu pai falava muito pouco, e pouco soube da história dele e seus ancentrais”, conta.  No Brasil ele casou e teve sete filhos, e da mãe Chikaoka traz lembranças de uma mulher que sempre colocava questões sobre o que seria “ser”. “Uma pessoa questionadora e que assumiu muito cedo a condição de mulher, quando perdeu a mãe, aos 12 anos”, pontua. É nessa tríade entre seu pai, sua mãe e o poeta Matsuo Bashô a inspiração para a viagem solitária que o artista fez em 2017, partindo da cidade onde seu pai nasceu, passando quase dois meses por áreas rurais e urbanas numa experiência única que rendeu escritos e imagens. “Bashô fez o caminho no sentido de busca interior. Fui por ele inspirado para buscar o meu caminho”, diz. Serviço: Café fotográfico com Miguel Chikaoka Quando: hoje às 19h Onde: Associação Fotativa (Praça das Mercês,19- Campina) Quanto: Gratuito informações: (91) 3225-2754

(Diário do Pará)

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