
O substantivo masculino Thunder, ou trovão em português, já deu nome a diversos nomes de heróis da cultura pop. Os mais maduros irão lembrar dos Thundercats e os mais atentos aos Thunderbirds (esses feitos com animação setentista de bonecos que viviam aventuras no espaço e até debaixo dágua).
Mas o “thunder” a que nos referimos é do grupo de anti-heróis dos quadrinhos da Marvel, pouco conhecidos do grande público, mas que, assim como Guardiões da Galáxia, acabam de ganhar um novo holofote no chamado UCM (Universo Cinematográfico da Marvel), os filmes.
Isso porque esses anti-heróis mercenários precisam lutar com um vilão interno, sua saúde mental. Esse é o mote do novo filme da Marvel, que está em cartaz nos cinemas do Brasil: as batalhas internas que estão dentro da mente, da cabeça, desses personagens.
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A cena que abre o filme "Thunderbolts" não poderia ser mais direta ao ponto. Na pele da heroína Yelena e na beirada do topo de um arranha-céu, Florence Pugh abre os olhos e encara o abismo, melancólica por alguns segundos, antes de se jogar do edifício.
É uma situação forte para o prólogo do mais novo filme do Marvel Studios, mesmo que a protagonista logo depois acione seu paraquedas e aterrisse sã e salva em um andar inferior. Na narração, Yelena revela os sintomas clássicos da depressão, da falta de ânimo ao abatimento com a rotina de mercenária.
A personagem tem lá sua razão para se sentir presa a um ciclo enfadonho de destruição. Contratada por uma corporação, a nova Viúva Negra passa os dias eliminando alvos e destruindo laboratórios sem razão aparente. A sua chefe, a política Valentina de Julia Louis-Dreyfus, prospera como chefe da CIA, e as missões da heroína aliviam a vida da comandante diante de uma investigação em Washington.
Yelena logo resolve tomar as rédeas de sua vida e procurar uma saída daquela existência fútil. Mas o filme continua a girar em torno do entorpecimento, e o público descobre rapidamente na história que a protagonista não está sozinha em sua tristeza.
TERAPIA COLETIVA
Em menor ou maior grau, todos os integrantes dos tais Thunderbolts, um grupo improvisado de super-heróis, parecem encurralados pelas circunstâncias. O mundo, também, soa como se andasse em baixa, alimentado pela incerteza da falta dos "Vingadores", um assunto que volta à tona vez ou outra no longa de Jake Schreier.
A sessão de terapia coletiva dá um caldo interessante à trama. Cada guerreiro sofre com a solidão por razões diferentes, e essa sensação de desajuste une os personagens ao longo da aventura. O tema é tão caro ao filme que o roteiro concebe um vilão, o Vácuo, que se alimenta justamente da apatia, em uma escuridão que força o papo para o centro da ação.
A história martela tanto a questão da depressão que a certa altura o longa mais parece uma ação da Marvel para a campanha do Setembro Amarelo, mesmo com o lançamento marcado para maio.
"Thunderbolts" aí lembra a dinâmica de um romance para jovens adultos, ao trazer o subtexto para o texto de forma tão insistente. Apesar das vantagens, essa aproximação passa longe do surpreendente – entre os heróis da Marvel, por exemplo, "Os Jovens Mutantes" fez algo similar em 2020.
O que impressiona mesmo no filme é ele abraçar isso sem abrir mão da grande produção do Marvel Studios, dosando o tom melodramático entre correrias e explosões. A equação funciona ao custo de um ritmo bem mais arrastado, que por vezes trava o andamento para dar conta de elaborar personagens e história em igual medida.
A direção pelo menos equilibra bem os temas mais sérios sem se afundar em debates complexos – os quais sofreria para abarcar – e ideias genéricas – que reduziriam os heróis a figuras iguais e sem graça. A produção é bem mais concatenada sobre suas ideias que outros capítulos recentes do estúdio, um mínimo que hoje parece o máximo.
Nisso também passa batido a lógica de contenção da trama, o que talvez seja o diferencial mais importante do longa. Apesar das tantas discussões sobre a proteção do mundo e o valor do heroísmo, a história se concentra em salvar os personagens do próprio abismo emocional, se redimindo antes de garantir a segurança dos inocentes – o que eles fazem, bem rapidinho.
NAS RUAS DE NOVA YORK
Assim, dá-se um jeito do clímax acontecer a quatro paredes, com o grupo preso dentro de um labirinto de traumas. A grande ameaça, por sua vez, fica confinada à ilha de Manhattan, e a destruição da cidade se restringe a algumas poucas ruas de Nova York. A resolução ainda joga tudo para o emocional, literalmente trocando a porrada por um abraço.
"Thunderbolts" soa como um respiro bem-vindo ao momento. Tudo porque ele se ancora no bom elenco e na boa história, que funciona nas superações pessoais dentro do coletivo.
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