Anne Carrari recebeu aos 40 anos, em 2015, o diagnóstico de câncer de ovário metastático, ou seja, a doença estava em estágio avançado e já tinha atingido outros órgãos. A única queixa que ela tinha era um inchaço constante na barriga.

“Eu sabia que aquele inchaço não era normal para mim, as minhas calças não fechavam. Eu acabei sendo diagnosticada em um pronto-atendimento, já em estágio avançado com metástase no peritônio, no fígado, no baço, na bexiga, na vesícula”, disse Anne.

Ela já tinha passado por três partos vaginais, fazia acompanhamento com um ginecologista e estava com os exames preventivos em dia. A paciente passou por três médicos que não encontraram a doença e, segundo ela, sinalizaram que os sintomas seriam apenas gases.

Ela passou por três médicos que não encontraram a doença e, segundo ela, sinalizaram que os sintomas seriam apenas gases.
📷 Ela passou por três médicos que não encontraram a doença e, segundo ela, sinalizaram que os sintomas seriam apenas gases. |Reprodução

Dificuldade para diagnosticar

“Fiquei muito indignada porque eu não sabia nada sobre esse câncer e eu me achava super esclarecida sobre a minha saúde. Sempre me cuidei muito e eu me senti até culpada. Fui acometida por um câncer que ninguém fala, não tem exame de rastreamento, nunca foi motivo de conversa nas minhas consultas médicas”, contou a paciente.

Segundo o oncologista Fernando Maluf, fundador do Instituto Vencer o Câncer (Ivoc), o câncer de ovário é o sétimo câncer que atinge as mulheres no Brasil. O médico explicou que ainda não existe um exame específico para encontrar a doença, como uma mamografia ou um papanicolau.

“É o tumor ginecológico mais perigoso e talvez o grande motivo disso é que a gente ainda não conseguiu se antecipar ao diagnóstico precoce da doença”, disse Maluf, na última quarta-feira (10), em evento da farmacêutica GSK sobre cânceres ginecológicos.

Baixa sobrevida

Quando Anne começou a se informar sobre a doença, ela descobriu que 20% das mulheres com câncer de ovário sobrevivem mais de cinco anos. Nesse momento, ela decidiu criar o perfil no Instagram Sobrevivi ao câncer de ovário.

“Instintivamente, eu digitei ‘sobreviveu ao câncer de ovário’ e não achei ninguém. Naquele momento eu estava no escuro, sozinha e com um prognóstico péssimo e sem saber o que iria acontecer. Eu criei exatamente com esse nome para que as mulheres me encontrassem”, contou.

Sobrevivente

Anne está com 47 anos, estuda saúde pública na Universidade de São Paulo (USP), já passou por cirurgias, quimioterapias, intercorrências e continua sua luta pela vida e para divulgar informações sobre a doença.

“Lembra daquela taxa de sobrevida de cinco anos? Eu estou aqui há sete anos. Em janeiro, faço oito”, disse orgulhosa. ‘Viver com câncer metástico é como se você vivesse em uma montanha russa. Já fiquei careca mais de uma vez”, relatou.

Novo tratamento

Há um ano ela começou a tomar um novo medicamento, o niraparibe, e está conseguindo ter mais qualidade de vida. Antes, Carrari não conseguia tomar banho em pé. 

Outra conquista nesse período foi não ter mais recidivas do câncer, algumas metástases diminuíram e outras estabilizaram.

“Ele age diretamente no meu DNA, faz com que o meu sistema imunológico não deixe que as células continuem se multiplicando desordenadamente, porque a minha mutação é exatamente essa: meu sistema imunológico não reconhece quando é uma célula invasora”, disse.

A paciente tem a mutação BRCA, mesma alteração genética que motivou a atriz Angelina Jolie a retirar as duas mamas.

Recém aprovado no Brasil

Anne afirmou que enfrentou várias barreiras para conseguir ter acesso ao remédio para câncer de ovário aprovado no Brasil em março do ano passado.

Segundo Anne, ter informação de qualidade foi fundamental para conseguir buscar e ter acesso a novos tratamentos. “Oportunidade de tratar o câncer como se fosse uma doença crônica, os pacientes estão vivendo mais e melhor”, disse sobre a nova droga.

Para outras mulheres que tenham a doença, Carrari ressaltou: “O estatuto da pessoa com câncer prevê que a gente tenha o tratamento mais adequado e menos tóxico”.

Veja também:

Ministro diz que país está preparado para enfrentar a doença

Atendimento a vítimas de trânsito dobrou em Marabá

Inibidores de PARP

De acordo com o oncologista Fernando Maluf, os medicamentos da linha inibidores de PARP, como o niraparibe, são a maior evolução no tratamento de câncer de ovário nos últimos 20 anos.

Os remédios dessa classe são via oral e atuam diretamente no mecanismo de reparo do DNA das células cancerosas.

Anne Carrari recebeu diagnóstico de câncer de ovário metastático. A doença estava em estágio avançado e já tinha atingido outros órgãos Foto: Reprodução

MAIS ACESSADAS