A Encefalopatia Traumática Crônica (ETC) é uma doença neurodegenerativa causada por traumas repetitivos na cabeça. Conhecida como "demência pugilística", foi inicialmente associada a boxeadores, mas hoje sabemos que ela também afeta atletas de esportes de contato, como jogadores de futebol americano, rugby, lutadores de MMA, e soldados expostos a explosões. 

O que é a Encefalopatia Traumática Crônica?

Identificada pela primeira vez na década de 1920, a ETC é caracterizada pela presença de emaranhados da proteína tau no cérebro, que se acumulam após múltiplos traumas cranianos. Esses emaranhados causam morte celular e afetam diversas funções cerebrais, levando ao comprometimento cognitivo, distúrbios de humor e anormalidades motoras. A condição pode levar anos ou até décadas para se manifestar após os traumas, dificultando o diagnóstico precoce.

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Entre os sintomas mais comuns estão:

  • Mudanças de humor: Depressão, irritabilidade e desesperança.
  • Alterações comportamentais: Agressividade, impulsividade e explosões emocionais.
  • Comprometimento cognitivo: Perda de memória e dificuldades em funções executivas.
  • Distúrbios motores: Tremores, ataxia e parkinsonismo.

Maguila, conhecido por sua longa e vitoriosa carreira no boxe, desenvolveu esses sintomas gradualmente ao longo dos últimos anos, com declínio em suas capacidades cognitivas e físicas.

Como a ETC se desenvolve?

A ETC é causada por lesões repetidas no crânio. Essas pancadas fazem com que o cérebro se mova dentro da caixa craniana, provocando microlesões e rompimentos de vasos sanguíneos. Com o tempo, essas lesões acumuladas levam ao desenvolvimento da proteína tau em áreas profundas do cérebro, afetando principalmente regiões responsáveis pelo controle motor, comportamento e memória.

Estudos científicos apontam que aproximadamente 3% dos atletas que sofrem concussões repetitivas desenvolvem a ETC, mas a razão pela qual apenas alguns indivíduos são afetados ainda não é completamente compreendida. Fatores genéticos e a intensidade dos traumas podem estar envolvidos.

Diagnóstico e tratamento

Atualmente, o diagnóstico definitivo da ETC só pode ser feito após a morte, por meio de um exame neuropatológico. Durante a vida, médicos baseiam o diagnóstico em um histórico de traumatismos cranianos, sintomas apresentados e exclusão de outras possíveis causas.

Não há cura para a ETC, e o tratamento consiste em medidas paliativas. Como em outras formas de demência, o foco é oferecer ao paciente um ambiente seguro, com dispositivos de orientação, como relógios e calendários visíveis, além de acompanhamento médico constante. Nos estágios mais avançados, o paciente pode perder a capacidade de se alimentar e se hidratar sozinho, necessitando de cuidados intensivos.

O caso de Maguila e o impacto da ETC no esporte

Maguila é apenas um dos exemplos de atletas que tiveram suas vidas impactadas pela ETC. Atletas de contato, como o lendário boxeador Muhammad Ali, também enfrentaram essa condição. No caso de Maguila, os golpes acumulados durante sua longa carreira no boxe contribuíram para o desenvolvimento da doença, levando ao declínio progressivo de sua saúde.

Muhammad Ali foi sofreu com a doença de Parkinson por mais de 30 anos. A doença era associada aos vários traumas sofridos na cabeça durante as lutas. O ex-lutador morreu em 2016.
📷 Muhammad Ali foi sofreu com a doença de Parkinson por mais de 30 anos. A doença era associada aos vários traumas sofridos na cabeça durante as lutas. O ex-lutador morreu em 2016. |Reprodução

Neurocirurgiões explicam que impactos repetitivos, como os presentes no boxe e em esportes de alta colisão, aumentam significativamente o risco de desenvolver doenças neurodegenerativas. Isso reforça a necessidade de maior conscientização e prevenção em esportes de contato, com regras mais rígidas para proteger os atletas e reduzir o número de concussões durante competições e treinamentos.

“Evidências que apontam que, ao longo dos anos, é possível que esses impactos repetitivos no crânio elevem as chances de desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, especialmente entre os jogadores com carreiras mais longas e aqueles que jogam em posições com a maior probabilidade de impacto na cabeça”, disse o neurocirurgião Feres Chaddad em entrevista ao Metrópoles.

Maguila foi diagnosticado com Encefalopatia Traumática Crônica há 11 anos.
📷 Maguila foi diagnosticado com Encefalopatia Traumática Crônica há 11 anos. |Reprodução

A história de Maguila destaca o impacto da Encefalopatia Traumática Crônica. A doença afeta não apenas a vida de atletas e seus familiares, mas também a forma como enxergamos a segurança nos esportes de contato. Com o avanço dos estudos sobre o tema e maior conscientização, espera-se que medidas de proteção sejam reforçadas, prevenindo que futuras gerações de atletas sofram os mesmos efeitos debilitantes dessa grave doença.

Com informações do Manual MSD. 

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