A coluna abre excepcionalmente espaço para a extensa carta enviada pelo amigo e baluarte Aldo Valente, um dos mais renomados pesquisadores brasileiros – dos quadros do prestigiado Instituto Evandro Chagas – e torcedor apaixonado do Papão, clube do qual também é sócio.

Aldo se dirige à nação alviceleste em geral e ao presidente Alberto Maia em particular, questionando a campanha de altos e baixos que o time cumpre na Série B. Faz críticas, mas apresenta sugestões e não deixa de reconhecer os golaços administrativos da atual gestão do clube.

“Carta aberta à Nação Bicolor:

Em primeiro lugar, há que se ressaltar a fase esplendorosa no aspecto administrativo que nosso clube vem passando desde 2013. Dívidas renegociadas, muitas delas já quitadas, outras sendo pagas religiosamente em dia, tanto de jogadores, funcionários e outros credores. Nosso estádio passou por melhorias em todos os aspectos e está mais confortável e com um gramado impecável. O PSC apostou num projeto da marca Lobo e eu testemunhei a duas semanas atrás visitando a loja da sede e o portfólio é invejável! O hotel, recentemente inaugurado, é belíssimo, segundo depoimentos de quem o visitou – eu ainda não visitei. Não há salários em atraso, nem entre jogadores, nem entre funcionários.

A pergunta que ninguém responde é: o que há de errado dentro de campo? Então como as explicações e justificativas não convencem, eu e milhões de torcedores da

Nação Bicolor respondemos, sem pestanejar:

1- Em 2013, na gestão do Presidente Vandick Lima, em que pese ser um cidadão honesto e com relevantes serviços ao clube bicolor, transformou o time numa confraria de amigos, seus ex-colegas de clube que organizaram um grupinho que nenhum treinador conseguia dissolver. Vandick esqueceu que naquele tempo ele era o presidente do Clube e quando acordou já era tarde demais e o PSC caiu para a Série C.

2- Os erros foram razoavelmente corrigidos e, aos trancos e barrancos, no ano seguinte conseguiu subir de novo para a Série B.

3- O presidente Alberto Maia assumiu em 2014 e exerce este cargo com sacerdócio e com a lisura própria de um homem probo que é. Mas seus assessores do setor de futebol cometem os mesmos erros do passado. Logo em 2015 foi contratado um novo técnico e um numeroso plantel que foi eliminado da Copa Verde e do Paraense. Aí, muda o técnico, dispensa uma barca de jogadores e contrata outros tantos, e foram tantos mesmo. O número de jogadores úteis na Série B do ano passado não passava de 18 jogadores (para um plantel de mais de 40 jogadores). Mesmo assim, tínhamos dois alas em plena forma (Yago e João Lucas), dois zagueiros (Gualberto e Thiago Martins) e um volante muito eficiente (Fahel). No ataque, mesmo sem jogadores brilhantes, quando a bola chegava, os gols saíam. Com um pouco mais de competência nas contratações, teríamos conseguido o acesso para a Série A. Mas o saldo de 2015 foi muito positivo.

4- Este ano a pressão por títulos de qualidade e importância – no meu ponto de vista, questionáveis –, um novo time foi montado e daqueles jogadores que mencionei a pouco, os mais importantes deixaram o clube, e os que ficaram não conseguem render por não serem escalados, ou por estarem pessimamente mal acompanhados.

5- O Paysandu disputa hoje a Série B nitidamente com a maioria de jogadores de nível de Série C. Nada tenho contra as figuras humanas destes jogadores: Edson Ratinho, Ronieri, Celsinho, Rafael Costa, Raí, Rafael Luz, Fabinho Alves e Hiltinho. E estou sendo muito generoso nesta lista. Nenhum deles pediu para vir para o Paysandu. Alguém os colocou lá com a anuência do presidente Alberto Maia e estes, sim, devem ser responsabilizados por estas contratações que nada rendem ao time.

6- O primeiro turno da Série B está encerrando e no ano passado no final do primeiro turno tínhamos mais de 30 pontos. Este ano matematicamente poderíamos chegar a 27, se tivéssemos um plantel com um mínimo de qualidade. E não temos.

7- Como é possível com a folha de pagamento deste plantel, especulada em R$ 1,2 milhão, conseguir reunir jogadores tão medíocres?

Presidente, a Nação Bicolor clama por providências, atitudes que chacoalhe este time, dispense os inúteis e saia à caça de jogadores com um mínimo de qualidade. O senhor prometeu um prêmio de 3 milhões de reais pelo acesso à Série A. Pois eu lhe afirmo, presidente, que com este plantel, nem que o Sr. ofereça 30 milhões eles sequer conseguirão manter o time na Série B. Não seria por má vontade deles, mas somente deficiência técnica.

Finalizo com uma entrevista há muitos anos que assisti sobre o supercraque Diego Armando Maradona, que após ser preso e quase eliminado do futebol, levou a Argentina para uma final de Copa do Mundo. O repórter fez duas perguntas:

- Maradona você não se sente constrangido sendo uma referência para milhares de jovens e assumir seu envolvimento com drogas? Você não acha injusto o uso de drogas para tirar vantagens num esporte como o futebol?

Maradona olhou para cima e para os lados e depois mirou a cara do repórter e respondeu:

1- Jogador de futebol, com raríssimas exceções, não servem para ser referência de ninguém. Referências são as pessoas probas, os professores, os cientistas, as autoridades idôneas.

2- Eu uso drogas e o meu dinheiro para me dar prazer, não para tirar vantagens. Pegue um saco de dinheiro e um saco de cocaína e dê para um jogador perna-de-pau que ele será também um homem rico e drogado, mas continuará sendo um perna-de-pau.

Este exemplo de maneira alguma é uma apologia ao uso de drogas, que abomino em todas as esferas da sociedade, mas somente para ilustrar que o dinheiro em dias não está resolvendo os problemas do Paysandu dentro de campo.

Finalizo pedindo à torcida bicolor que não abandone o time, mas, de antemão, presidente, queremos e exigimos mudanças imediatas. Imagine, presidente, se nosso adversário subir para a Série B e nosso time cair para a C. Meu Deus, nem quero pensar na hipótese, mas já incomoda o fato de pensar. Aldo Valente”.

MAIS ACESSADAS