É legítimo dizer que o Campeonato Brasileiro já tem um vencedor, o Palmeiras, que não festejou ontem, mas que praticamente encaminhou a conquista. Depende de um ponto em seis a disputar. Só perde o título se fizer duas lambanças monumentais. Por outro lado, já se conhece o grande perdedor: o bom futebol. 

É verdade que as últimas edições não foram brilhantes, mas a deste ano se superou em baixa qualidade. Triunfou outra vez o estilo inaugurado por Muricy Ramalho em 2006-2207 e justificadamente apelidado de “muricybol” – isto é, bolas cruzadas na área para ver o que acontece.

Cronistas fãs de numerologia e técnicos cheios de marra irão jurar nos programas esportivos que esse jeito de jogar é o mais moderno, por valorizar o coletivo e ser mais pragmático, além de outras platitudes do gênero. 

Na verdade, é a forma mais primária de praticar o nobre esporte bretão. Ao assimilar o infame muricybol, os times retroagem ao estágio do futebol de várzea ou daquilo que foi praticado durante anos pelos times ingleses. 

Tite teve a clarividência de fazer com que a Seleção Brasileira abandonasse o aleijão de chutões, ligações diretas e cruzamentos a esmo, que prevaleciam desde a Copa do Mundo de 2014.

Aliás, um sinal óbvio da pauperização do futebol brasileiro é ausência de craques nas últimas edições da Série A. Neste ano, o vazio de craques ainda é mais acentuado. Nenhum jogador matou a pau, como se diz no jargão das arquibancadas. Por isso, os jogos se repetem monotonamente, sem encantar ou impressionar. Poucos lances são memoráveis.  

Desafio o leitor a apontar um craque indiscutível. Duvido que consiga, mesmo depois de muito esforço. Exigirá um esforço monumental apontar o melhor jogador da competição. 

Como exercício, vamos a alguns nomes. Astro do Palmeiras, Gabriel Jesus foi apenas razoável no cômputo geral. Na reta final, o volante Tchê ganhou até mais importância que o jovem atacante da Seleção. 

No vice-líder Santos, Lucas Lima fez bons jogos, mas está longe do que poderia se chamar um destaque do campeonato. No Flamengo, nenhum jogador se sobressaiu a ponto de ser lembrado aqui. O mesmo acontece com Atlético-MG, Atlético-PR e Botafogo, times que completam o G6.

Nos anos recentes, o Brasileiro foi vencido por times operários, sem maior brilho e que se sustentavam na força do conjunto. Bom futebol mesmo só o Cruzeiro de 2013 mostrou, sob o comando de Marcelo Oliveira, com Everton Ribeiro e Ricardo Goulart como homens de referência. 

Com méritos óbvios pela campanha mais regular, o Palmeiras não irá quebrar a sequência de equipes medianas, focadas na marcação e nas jogadas aéreas. Cuca é o técnico, mas a receita leva o DNA de Muricy. 

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