Com perdão do trocadilho de pé quebrado, não caio na infantilidade de considerar a Copa russa como a melhor de todas, como fez o presidente da Fifa, em gesto de empolgação marqueteira. Penso que os mundiais do Brasil e a da Alemanha, em organização e qualidade, foram superiores.

O decantado domínio europeu, com quatro seleções semifinalistas, precisa ser analisado ao longo dos próximos anos para se ter ideia mais clara do que seria uma nova ordem estabelecida no futebol, longe disso.

Na verdade, a competição que acontece de quatro em quatro anos é uma fotografia do momento, às vezes tendo a felicidade de captar pequenas revoluções em campo (Holanda de 1974), gênios indomáveis (Maradona em 1986) ou fenômenos em ação (Ronaldo em 2002), mas em geral não registra nada de importante pelo simples fato de que nada está ocorrendo. E é justamente o que acontece neste ano da graça de 2018.

O futebol não vai evoluir um centímetro em relação ao que era antes da Copa. Os times continuarão, no mundo inteiro, a investir na força bruta e a lançar 400 bolas na área em busca de um cabeceio ou desvio acidental.

De todos os jogos que pude ver – passei batido apenas nas peladas entre Bélgica e Tunísia e Inglaterra x Panamá -, o que merece de fato destaque é a incrível bravura dos croatas, seguidos de perto pelos próprios russos nesse esforço muito mais físico do que cerebral.

A chegada da Croácia à primeira decisão de sua história é um acontecimento a ser enaltecido. Afinal, representa o triunfo de um país que emergiu de intrincada divisão territorial e política, merecedor de todo respeito pelo esforço de seus jogadores. A seleção veio da repescagem nas eliminatórias e transformou a caminhada na Rússia em algo épico.

Pode-se (e deve-se) discordar das cantorias com tintas fascistas de alguns de seus jogadores, mas é admirável a determinação com que se lançou aos confrontos eliminatórios, superando oponentes difíceis como Dinamarca, Rússia e Inglaterra.

Os puristas podem reclamar, mas Modric e seus companheiros têm sido o ponto fora da curva de uma Copa bastante enfraquecida no aspecto da tradição por ausências importantes – Itália e Holanda nem se classificaram; Argentina, Alemanha e Espanha dançaram logo de cara.

A França de Mbappe e Griezman conseguiu representar o lado da “normalidade” tradicional, mas não jogou o suficiente para que seja vista como favorita absoluta na grande final deste domingo.

Se Modric, Rakitic e Subasic brilham intensamente, algumas estrelas de primeira grandeza saíram apagadas da Rússia. Cristiano Ronaldo, Messi e Neymar não fizeram a diferença, como se esperava.

O que fez a diferença, no fim das contas, foi a velha gana de vencer e a capacidade indomável de não desistir nunca. Por esse quesito, a Croácia já pode ser considerada a melhor das seleções que passaram por esta Copa.

Thiago e Coutinho incluem Brasil na lista dos melhores

Não poderia fugir à tradição de eleger a seleção da Copa. Ao contrário da Fifa, que vai escolher os melhores em cima das semifinais e finais, o escrete da coluna foi em busca de talentos que saíram mais cedo do torneio.

O goleiro é o croata Subasic, que agarrou até pensamento e foi decisivo nas partidas de mata-mata, batendo recorde de penalidades defendidas.

Escolhi três zagueiros levando em conta o deserto criativo nas laterais: o francês Varane, o uruguaio Godin e o brasileiro Thiago Silva.

O meio-campo começa por Pogba, que se consolida definitivamente como o principal médio do mundo, superando o brasileiro Casemiro.

Os meias Modric, Griezman e Philippe Coutinho complementam o quadrado. O croata é o mais regular da Copa. Liderou, criou e assumiu a responsabilidade criativa de sua seleção. Só perde o troféu de melhor do Mundial se o menino Mbappe estraçalhar na decisão.

Griezman trafegou numa faixa diferente daquela que ocupava na seleção francesa da Euro 2016 e no Atlético de Madrid. Recuou alguns metros para render mais, funcionando como o motor criativo da França.

Coutinho foi uma das vítimas da derrocada brasileira. Não fez um mundial perfeito, mas encantou com seus toques refinados e com participações minimalistas na formação ofensiva do time de Tite.

O ataque vai de Hazard, Cavani e Mbappe. Cavani saiu logo, mas deixou assinalada sua participação com grande atuação diante de Portugal. Hazard foi o mais efetivo da badalada Bélgica. Mbappe assombra pela velocidade, pela fúria definidora e os dribles à brasileira. Vai longe.

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