Por muito tempo, a moda autoral amazônica precisou lutar para sair dos ateliês e conquistar visibilidade. Agora, ela rompe muros, ocupa calçadas e se impõe como linguagem cultural viva, carregada de identidade, memória e pertencimento. Em Vigia de Nazaré, essa força criativa ganha corpo, cor e movimento, mostrando que a Amazônia também dita tendências a partir de seus territórios.
No próximo domingo (21), a cidade vai se transformar em uma grande passarela a céu aberto com o desfile “Costurando Culturas”, a partir das 19h. Arte, moda, sustentabilidade e identidade amazônica se encontram em uma experiência coletiva, gratuita e aberta à comunidade, com a própria rua assumindo o papel de palco principal. A ação conta com o apoio da Secretaria Municipal de Trânsito, responsável pela organização do fluxo no local.
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Idealizado pelo multiartista vigiense Junior Clever e pela estilista Jucilene Alves, o projeto nasce do desejo de descentralizar a moda autoral e reafirmar que a criação pulsa também fora dos grandes centros. “A proposta surge do desejo de valorizar o lugar onde a criação acontece todos os dias: nas casas, nos ateliês e nas ruas de Vigia”, afirma Jucilene.
Com forte protagonismo feminino, o evento estende simbolicamente o tapete vermelho para modelos que desfilam peças criadas especialmente para a ocasião. Moda, dança e identidade amazônica se conectam em um gesto de integração cultural, costurando saberes e narrativas que dialogam com o território. “Tenho me dedicado a criar iniciativas que avivam a cultura da minha cidade, porque acredito que Vigia possui riquezas culturais que também precisam se manifestar por meio da moda autoral”, destaca Junior Clever.
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A programação também dialoga com o audiovisual ETNOCENAS, dirigido por Junior, que lança um novo olhar sobre o ofício das costureiras e artesãs locais. A produção valoriza mulheres que, por muito tempo, foram vistas apenas como prestadoras de serviço, mas que agora ocupam o centro da criação, costurando histórias, memórias e identidades por meio de seus saberes tradicionais.
No coração da passarela estarão as biojoias do coletivo “Em mim a Amazônia Vive”, confeccionadas a partir de escamas de peixe, sementes e outros elementos naturais. Cada peça carrega referências do rio, da floresta, do cotidiano e da ancestralidade amazônica. “Sou mulher de pescador e sempre digo ao meu esposo, quando vai para o alto-mar, para trazer uma gurijuba graúda, porque é a partir das espinhas que consigo criar peças ainda mais bonitas”, conta a artesã Loiane Barata.
Ao lado dela, a artesã Anaile Kravo assina peças exclusivas para o desfile e reforça a relação de cuidado com a floresta. “Vou até a mata e seleciono as sementes que serão transformadas em biojoias”, explica. O uso consciente dos materiais revela uma ética de sustentabilidade e respeito ambiental, mostrando que criar também é preservar e manter viva a conexão com os ciclos da natureza.
As camisarias autorais de Jucilene Alves também ganham destaque. Há mais de 30 anos, a estilista cria peças que acolhem diferentes corpos e trajetórias, incorporando símbolos da cultura vigiense, como a gurijuba, o Círio de Nazaré, as vendedoras de doces e os espaços históricos da cidade. Cada camisa se transforma em uma narrativa visual. “Minha intenção é construir uma vitrine viva. Quem veste uma camisa carrega consigo as marcas identitárias de Vigia”, afirma.
A curadoria do desfile é assinada pela professora e pesquisadora de moda Alcimara Braga, que reforça o papel social da moda. “Uma curadora organiza narrativas, aproxima trajetórias e torna visível o que muitas vezes fica à margem. Aqui, quem protagoniza são mulheres que criam, bordam, costuram e pesquisam. A moda feita em Vigia fala de território, identidade e futuro”, pontua.
Encerrando a noite, o Studio Rosa Marciel apresenta uma performance de dança que costura corpo, música, rua e regionalidade. Mais do que um desfile, “Costurando Culturas” amplia o diálogo com o cenário cultural do Pará e reafirma que a moda autoral amazônica também mora, pulsa e se reinventa em Vigia de Nazaré.
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