Inspirado em “Rupal’s Drags race”, o movimento Noite Suja criou um reality show virtual para movimentar a cena Drag paraense. Com a necessidade da reafirmação do espaço LGBTQIA+ na sociedade, o “Noite Suja Drag Race” teve inicialmente a participação de 13 drags.

O concurso ocorreu nas redes sociais por um mês e meio, com provas semanais, eliminações e votações com a participação das internautas.  Além da reafirmação do espaço o reality também incentivou o isolamento social. Uma das suas provas, inclusive, foi inspirada no cenário atual, com a confecção de máscaras, contando com toda a criatividade e desenvoltura das participantes para a criação de máscaras originais e únicas.

A final do concurso ocorreu na noite do último sábado (04), e foi transmitida ao vivo no Facebook do NoiteSuja. A grande campeã foi Yndjáh Báh, que é paraense e participou de forma remota de São Paulo, Gabrielly Rivera Raia, de Cametá, e Joanne Versace, de Vigia.

Conheça as campeãs:

O QUE É O MOVIMENTO NOITE SUJA?

O movimento foi criado em 2013 como um projeto artístico do “Duo Noite Suja”, composta pelos agentes culturais do projeto Tristan Soledade e S1mone, que notaram não haver na cidade um grupo dedicado a produção cultural Drag, como também uma produção que viabilizasse a nova safra de artistas LGBTQIA+. 

“O Noite Suja surgiu com uma urgência de tentar criar espaço onde artistas LGBTQ pudessem se encontrar”, informa Tristan Soledade.

O projeto saiu do papel através de festas noturnas organizadas pelo coletivo. Esse organismo começava a tomar forma, e os artistas drags adotaram o NoiteSuja como um espaço seguro e propício a experimentos cênicos, musicais, audiovisuais e performáticos. Longe de apoiar o espírito competitivo entre drags, o coletivo preocupa-se principalmente com as trocas artísticas dentro de seus eventos.

A ocupação dos espaços públicos da cidade de Belém é tida como uma demanda urgente do projeto, e pensando nisso o NoiteSuja também se faz na rua: “NoiteSuja Baile das Urubichas” na Feira do Açaí (2017), “Saudade do Oito” na Praça da República (2017), “NoiteSuja Carnevale” na Praça da República (2016), na Passagem do Horto (2017), na Doca de Souza Franco (2018) e na Praça do Arsenal (2019). O projeto é sem fins lucrativos, e os próprios organizadores tiram dos seus bolsos para realizar os eventos. “Dos nossos, para os nossos”, afirma Tristan.

O nome do projeto foi pensando para atingir as pessoas e ocupar um espaço que é seu por direito. A ideia de “sujar” se vem para sujar a cena do patriarcado o e da misoginia quanto a noite refere-se a aquelas pessoas que estão à margem da sociedade, que são marginalizadas, como a comunidade LBTQIA+ e as minorias. 

Para além de uma festa, trata-se de uma reunião de corpos que dialogam publicamente enquanto sociedade civil. Em suas performances, os artistas do grupo abordam temáticas como feminicídio, LGBTIfobia, gordofobia, racismo, e outras lesões sociais urgentes. As questões políticas, os desejos, os afetos, os medos, as interdições e tudo aquilo que afeta a vida desses artistas materializa-se pelo grito que vem do palco.

São especialmente as mulheres (como as artistas Safira Clausberg, Brigitte Liberté, Chapada Diamantina e Cruela) que, por viverem e pensarem de forma não hegemônica, tiveram que estabelecer estratégias e ações políticas para ocupar esse território tão disputado: o espaço/palco dos discursos. Em cinco anos de atuação e mais de 30 eventos idealizados, compreendemos o NoiteSuja como uma expressão artística necessária como palco dos nossos desejos e demandas sociais.

Em 2017 o grupo foi contemplado com o “Prêmio Pauta Livre - Apoio a Produção Artística”, podendo realizar o “1º Festival NoiteSuja” no Teatro Margarida Schivasappa.

Reportagem especial de Karoline Peres para o DOL. Edição de Enderson Oliveira.

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