Um resgate das origens de danças populares do Pará, como o brega, o merengue e o carimbó, são o foco do documentário “Danças do Pará”, lançado no YouTube. Dando destaque também para a diversidade de corpos e realidades, com dançarinos da vida real e artistas regionais, o filme mistura linguagem poética, a narrativa dos personagens e os sons típicos do estado, com participação do cantor Nelsinho Rodrigues e direção do coreógrafo Rolon Ho, diretor da Cia de Dança Cabanos e da Corporação do Brega.

“Muito se fala da música paraense, programas de TV, rádio e os artistas que fazem suas músicas estourarem, mas nós, dançarinos, temos um questionamento: será que se a música não fosse dançante ela teria tanto sucesso? Acreditamos que não, pois o povo paraense gosta de dançar uma boa música. Então, fomos em busca de mostrar a dança como um todo e suas particularidades, tipo como o que é o cavalo manco, como é o tal do caqueado; o merengue, que é uma música mundial, mas que no Pará criou-se uma forma única de se dançar que chamamos de merengue paraense; o brega, que podemos dizer que já é conhecido pelo Brasil inteiro... E com tudo isso, sem ser tão profundo, necessitamos de mais aberturas para mostrar a dança do estado do Pará”, diz Rolon Ho.

As cenas do documentário foram gravadas na Estação das Docas e na sala de ensaio da Cia. de Dança Cabanos, realizadora do filme que tem narração e participação do professor e pesquisador Josué Moura. “O narrador do documentário mostra as características de cada estilo, por exemplo, o brega, onde temos várias vertentes como o tecnobrega, melody, calipso e brega saudade. Precisa explicar a característica de cada um e a forma como é dançado, é necessário fazer o povo entender, pois temos várias maneiras de se dançar o brega”, detalha Rolon Ho, que destacou ainda que o desafio hoje é propagar a dança, seja em forma de documentário e também nas TVs locais para mostrar ao povo paraense e ao mundo inteiro como é o nosso gingado.

“Também queremos fazer alguns paraenses assumirem o papel de ‘eu gosto de brega’, porque vejo algumas pessoas que dançam esporadicamente e não assumem gostar, acham cafona. O brega hoje é qualidade de vida, é alegria, é dança, é transformação. Sou dono de escola e já vi muitas pessoas entrando na minha academia com problemas, com ansiedade, depressão e outros, e a dança e o brega fizeram uma diferença enorme, pois os alunos começaram a ter outros objetivos, de aprender a dançar e automaticamente fazer novas amizades, e tudo de ruim é amenizado ou zerado da vida das pessoas”, conta.

Mas para o coordenador e idealizador do documentário, a importância não é só propagar a essência e a cultura popular paraense. Em 2010, em busca de um tema para o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), ele não conseguiu encontrar quase nada sobre nossa dança, nada escrito ou documentado, e isso o fez mudar o tema do último trabalho na faculdade. “Hoje tenho certeza que esse documentário pode servir de base e referencial teórico para todos os estudantes que desejam falar sobre nossa dança. Também espero que daqui a 30 anos os grandes profissionais possam ver esse documentário, fazer uma análise e ter uma referência”, projeta.

MAIS ACESSADAS