O município de Vigia, nordeste paraense, vai celebrar a Semana Santa com canto lírico e música de banda. O eventos serão em formato live e são considerados como um “aproveitamento cultural ” da tradição religiosa, que no município inclui a música – produto cultural  herdado dos jesuítas, desde o século XVIII. Serão uma noite de entretenimento de qualidade na fanpage da prefeitura, às 19 horas.  Na Sexta–feira Santa será exibido o concerto de canto lírico, e no Sábado da Aleluia, o documentário das bandas. 

No início do século XVIII, os jesuítas fundaram em Vigia um colégio e construíram a igreja da Mãe de Deus. E foi nesse colégio (o prédio não mais existe) que os padres da Companhia lecionaram os rudimentos da arte musical. Mas somente em 1876 é que surgiu a primeira banda vigiense, a “31 de Agosto”. Até hoje atuante. Hoje, o município tem seis bandas musicais.

Nos dias atuais, a Universidade do Estado do Pará (Uepa) mantém um curso de licenciatura em música. E as próprias bandas formam seus instrumentistas em escolas próprias – agora fechadas por causa da pandemia. Durante o período de restrições, essas bandas  receberam recursos da Lei Aldir Blanc e produziram pequenos concertos na internet.

O rito da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo é uma tradição que a pandemia se encarregou de reduzir às celebrações também à internet. Neste ano, outra solução encontrada pela Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, para manter viva a música dos rituais da quinta e da sexta-feira santas, foi a live, informa o secretário de Cultura, Nélio Palheta.    .

“A música fúnebre é comum ao repertório das bandas do interior do Brasil, mas no Pará não se conhecem outras obras desse gênero além das composições vigienses” – diz Cleyson Rodrigues Ataíde, músico e professor vigiense, que  se dedica à pesquisa do tema. Ele acrescenta que “essa tradição vigiense  precisa ser  preservada  e repassada às novas gerações”

As três mais tradicionais de Vigia - “31 de Agosto”, “União Vigiense” e “Maestro Vale” têm em seus repertórios a marcha fúnebre, tradicionalmente executada no funeral dos músicos e na Procissão do Senhor Morto. “Saudade de Caetano” foi composta por Alcides Paranhos, padre e vigário local, falecido em 1951; “Descansa em Paz”, de Serafim Raiol -  falecido em 1962, foi mestre da Banda União Vigiense e “Adeus”, de autoria de José Vale, mestre da banda  que leva seu nome, é a mais recente.

As lives serão transmitidas pelo Facebook da prefeitura, nos dias dois e três, respectivamente, um concerto de canto lírico e um documentário com vídeos das bandas “União Vigiense”, “31 de Agosto” e “Mastro Vale”, que executarão marchas fúnebres tradicionalmente tocadas na Procissão do Senhor Morto, novamente cancelada por causa da pandemia.

Outro músico vigiense, Diego Costa, formado em canto lírico pela Fundação Carlos Gomes, diz que  “o repertório estritamente ligado à tradição milenar da igreja, ainda hoje é executado na Semana Santa. Um dos cantos mais apreciados é    “Estava a Mãe Dolorosa”; entoado nos rituais da Paixão, é uma versão do canto gregoriano “Stabat Mater”. Ele acrescenta que “a falta de uma referência estética faz interpretarem esses hinos, nos dias atuais, descaracterizando-se este rico patrimônio que, especialmente em Vigia, precisa ser preservado.”Com o apoio da prefeitura de Vigia, Diego Costa produzir um recital de música sacra com do repertório local, além de clássicos universais.”

O projeto da Secretaria de Cultura de Vigia,  reuniu na live “Música de Paixão e Glória” o concerto de Diego e as peças fúnebres das bandas locais. “Nossa intenção é mostrar que a Semana Santa abriga no seu ritual um conteúdo cultural marcado pela música de orquestra ou de banda, e pelo canto. E isso tem valor que precisa ser preservado, principalmente em Vigia, município musicalmente rico. Esta é uma oportunidade para valorizarmos nossos compositores e intérpretes – um compromisso de governo, assumido pelo prefeito Job Xavier Palheta Júnior” – diz o secretário de Cultura, Nélio Palheta.

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