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OLHO NA DIVERSIDADE

Curta paraense sobre mulher trans integra festival

Trajetória na periferia de Belém é retratada no documentário “VRÁAA".

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Imagem ilustrativa da notícia Curta paraense sobre mulher trans integra festival camera História de Xuryu Gonçalves é contada em curta. | Divulgação

As vivências de Xuryu Gonçalves, mulher trans paraense e moradora no bairro do Guamá, em Belém, compõem a principal narrativa do documentário “VRÁAA”, único trabalho paraense selecionado para participar do “Olhar Periférico Festival de Cinema”. O evento vai exibir, de hoje até dia 14 deste mês, de forma on-line, gratuitamente, 33 curtas-metragens de diversos estados brasileiros que foram selecionados entre mais de 500 filmes inscritos, retratando as diferentes realidades da vida nas periferias do Brasil, pelo olhar de cineastas que moram ou atuam nesse contexto social. O melhor filme do Festival ganhará o Troféu Olhar Periférico.

O documentário de 20 minutos é de 2019, sob direção do jornalista e produtor audiovisual Caio de Jesus, em parceria com Xuryu. O conteúdo mostra a história da mulher que cresceu e se criou a maior parte da vida na periferia, onde diz ser o seu lugar. Ela conta que foi no Guamá que desenvolveu inúmeras habilidades, como promoter de festas, organizando ações sociais, chegando a trabalhar como cabelereira e fazendo o nome ser reconhecido pela própria história de vida. “VRÁAA” é encontrado na categoria “Olhar Diversidade”, ao lado de mais cinco filmes, que serão exibidos a partir do dia 5 de agosto.

O documentário é resultado de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) elaborado em 2018, época em que Caio de Jesus era estudante de Jornalismo e conheceu Xuryu, na elaboração do projeto que falava da presença do público LGBTQI+ na quadra junina. Xuryu tinha um personagem de índia, Cunhã-Poranga, em uma das festas no bairro do Guamá. Desde então, se tornaram amigos.

“Foi algo natural. Percebia que ela, além de representar muita coisa naquele lugar, tinha algo com que as pessoas se identificavam. A presença dela modificava nossas vidas, ela tem uma energia de afeto”, comenta.

Segundo Caio, o nome dado ao documentário é um bordão muito utilizado pela personagem do curta. “É o saber chegar, saber se apresentar. É só tu chegar, com teu ‘close’, que tudo para. É um termo que ela usa”.

O documentário foi exibido em diversos eventos em Belém, inclusive na Universidade Federal do Pará (UFPA). “A gente está muito feliz em expandir esse material. A gente quer continuar produzindo, nesse caminho de produção independente”, acrescenta Caio.

Para Xuryu, o documentário representa muita coisa, pois além de ser um registro de luta de uma pessoa da periferia que conquistou outros espaços, “representa o poder periférico de uma bicha negra que veio da favela que não teve medo de encarar a sociedade, que enfrentou o preconceito do jeito dela”. “Quero mostrar para outros gays que podem sim ser felizes, pode realizar o sonho e ser respeitada”, diz.

TEMAS BRASILEIROS

Além da luta LGBTQI+, outros assuntos comuns nas periferias do Brasil são tratados nos filmes, como racismo, preconceito, intolerância religiosa, aliciamento de jovens, a luta de mães para criar sozinhas seus filhos, além de cenários, cultura e religiosidades típicas de diferentes estados brasileiros. Estão representadas obras audiovisuais da Bahia, Goiás, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Norte, Ceará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Paraíba, Pará,Sergipe e Santa Catarina.

O evento surge como um novo festival de cinema para ampliar o acesso aos jovens e aos cineastas das periferias de todo o Brasil, além de valorizar as iniciativas comunitárias periféricas que representem a diversidade dos territórios. Os 33 curtas estão divididos em quatro mostras por categorias: “Olhar Feminino” (dirigido por mulheres), “Olhar Diversidade” (dirigido pelo público LGBTQI+), “Olhar Jovem” (dirigido por jovens de até 29 anos) e “Todos os Olhares” (dirigido por pessoas acima de 29 anos). Também contará com a Mostra Cult, com oito longas-metragens convidados, que traz um recorte das principais produções brasileiras das periferias nos últimos anos, entres elas, “Cidade de Deus – 10 Anos Depois”, de Cavi Borges e Luciano Vidiga, documentário que resgata os dez anos passados desde o lançamento do longa de Fernando Meirelles e Kátia Lund indicado ao Oscar.

Cada categoria conta com o trabalho de um curador diferente. No caso de “Olhar Diversidade”, o curador é Jhonatan Bào que participou da seleção dos curtas. O melhor filme do Festival será escolhido por um júri técnico composto por cinco profissionais brasileiros renomados do audiovisual. O filme vencedor ganhará o Troféu Olhar Periférico. O resultado da premiação será postado nas redes sociais do Festival, no dia 14.

Curta paraense sobre mulher trans integra festival
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