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FUTURO DAS ARTES

Para a eternidade: PV Dias transforma tecnobrega em NFTs

Você já ouviu falar em NFT? Se não, é hora de conhecer o que pode ser um dos caminhos para as produções artísticas no presente e no futuro. O artista paraense PV Dias já entrou neste “mundo” e levou o Tecnobrega com ele. Conheça!

Imagem ilustrativa da notícia Para a eternidade: PV Dias transforma tecnobrega em NFTs camera O artista paraense PV Dias é o primeiro a inserir obras relacionadas a tecnobrega no mundo dos NFTs. |

Walter Benjamin, no ensaio A obra de arte e sua reprodutibilidade técnica, já definira a “aura” artística como “uma figura singular, composta de elementos espaciais e temporais: a aparição única de uma coisa distante, por mais perto que ela esteja”. A aura era (e ainda é, se/ quando existe), fundamental para a autenticidade de uma obra e para a “definição” de seu “valor”. Quase um século depois, as reflexões do filósofo alemão seguem fundamentais para pensarmos as relações entre arte, mercado, autenticidade e autoria. Contudo, caros leitores, calma. Apesar do início “acadêmico”, este não é e nem pretende ser um texto filosófico.

Aqui, cabe observar(mos) algo que está ocorrendo e, mesmo que não seja palpável, dá pistas sobre o futuro. Uma nova alternativa de investimento vem atraindo cada vez mais atenção e alcançou diversas áreas, como as artes: os NFTs, abreviação de “Non Fungible Token”, ou seja, token não fungível. O termo é complexo e denomina, de forma bem simples e superficial, um registro (em áudio, texto, imagem ou outro formato) único e original, com uma autoria bem definida. É isto que valida e fortalece a importância dos NFTs.

No Pará, alguns artistas já estão atentos a isto. Um deles é o artista Paulo Victor Santos Dias, o PV Dias, 27 anos, que recentemente se tornou a primeira pessoa a publicar um NFT com referências ao tecnobrega neste “novo mundo”, mais especificamente, na plataforma Open SEA, uma das principais do ramo.

O tecnobrega, nascido e desenvolvido exatamente pelos avanços tecnológicos e, ironicamente, repleto de versões e pastiches de outras obras, chega agora como trilha em 3 peças de Paulo: “Tecnobrega, dancing alone shrugging shoulders” (algo como “Tecnobrega, dançando sozinho encolhendo os ombros”); “Tecnobrega, couple dancing between the north and south of Brazil” (“Tecnobrega, casal dançando entre o norte e o sul do Brasil”) e “TecnoBrega, the dance”. (“TecnoBrega, a dança”).

Frame da obra "Tecnobrega, um casal dançando", disponível em formato de GIF na Open Sea.
📷 Frame da obra "Tecnobrega, um casal dançando", disponível em formato de GIF na Open Sea. |Arte: PV Dias

São obras que juntei em uma série chamada ‘Movimentos Amazônicos’, onde penso alguns movimentos dentro do território, sejam as danças, brincadeiras, transportes. São 10 trabalhos a partir de intervenções em fotografias e vídeos que faço entre Belém e a região do baixo Tocantins, no Pará. Há passos de tecnobrega, rabeta cortando o rio e histórias repensadas e registradas visualmente dentro de um cenário amazônico, entre prédios e rios”, detalha o artista.

É ainda PV que afirma que os NFTs são uma inovação necessária para as artes e mesmo para o mercado de investimentos financeiros. “É uma possibilidade de se trocar ou apresentar um trabalho dentro de uma plataforma digital. Eu tenho obras em diferentes meios, como GIF e realidade aumentada, mas o mundo do NFT se destaca porque agrega ao trabalho um contrato digital de originalidade, o que é uma solução interessante e pode ser rentável”, explica.

FUTURO DAS ARTES?

Os NFTs, por serem registros únicos, conferem ao produto digital não apenas um valor financeiro que pode ser elevado, por causa de sua originalidade, mas também proporciona a “eternidade” da autenticidade das obras, o que ocorre quando os artistas fazem o upload delas em algumas plataformas específicas, como, por exemplo, a já citada Open Sea. Cartórios tornam-se espaços do passado. O registro digital, com a possibilidade de transações financeiras diretas entre público e artistas, parece ser o lugar do futuro para as artes.

Para PV, “quem está dentro do universo da criação artística já está ouvindo muito sobre NFT desde o ano passado. Ao ver uma gama de amigos e artistas que confio bastante aderindo ao modelo, fiquei um pouco mais seguro de entrar. Dentre esses artistas há desde gente que conheço com mais de 30 anos de produção artística, como o fotógrafo Luiz Braga, até novos artistas com uma produção mais recente, como Labō, Jean Petra e Fierce, comercializando na plataforma Foundation”, sintetiza.

Se este mercado e tudo que o envolve ainda é pouco conhecido no Pará, mundialmente já é uma realidade, tanto que “NFT” foi eleita a palavra do ano 2021 pelo dicionário Collins, que a definiu como “um certificado digital único, registrado em um blockchain, que é usado para registrar a propriedade de um ativo como uma obra de arte ou um colecionável”. Tal escolha não é resultado do acaso e aponta para uma relação cada vez mais próxima entre arte, tecnologia e economia. Em meio a este caleidoscópio de produções, discussões e referências, Walter Benjamin talvez ficasse assustado. Ou entusiasmado.

“Eu gosto de pensar que temos que observar bem os novos meios e sempre investigar o que há de novo, para somar na nossa vida, nossos estudos, nossos trabalhos. Acho que a tecnologia está possibilitando a cada momento novas formas de pensar e ver o mundo. A arte é uma forma de ver o mundo. Por que não olhar para estas tecnologias como possíveis aliadas para nossas poéticas? Hoje em dia, a rede nos aproxima de diversas pessoas, discursos variados e artistas de múltiplas habilidades, de todos os lugares do planeta”, finaliza PV.

O ARTISTA

Ilustrações feitas com tons e traços fortes. De um lado, sujeitos perdidos na confusão tecnológica e urbana, marcados por expressões cansadas, talvez blasés. Cidades em ruínas, decadentes. Situações históricas revistas ou (re)criadas em locais contemporâneos, mas que demonstram chagas do passado, apresentando críticas ao racismo e a outras tristes e preocupantes formas de preconceito. De outro lado, cidades em que se aproveita e em que ainda se vive a natureza. A compreensão de corpos como festa e em festas, individuais ou coletivas. Corpos dançantes, felizes, revolucionários.

Artistas pretxs que protagonizam a arte contemporânea no Pará

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As obras de PV Dias percorrem estes caminhos, sempre atento ao papel social que a arte pode ter e com um vigor estético instigante e singular. Nascido em Belém, o artista atualmente vive entre o Rio de Janeiro e o Pará e vem ganhando destaque na produção artística contemporânea. É comunicólogo e mestrando em Ciências Sociais na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, com formação pela Escola de Artes Visuais Parque Lage no programa Formação e Deformação do ano de 2019.

Com quase uma década de carreira, de 2013 a 2015, PV participou da organização do Festival de Audiovisual de Belém. Em 2019 foi destaque na revista eletrônica VICE; participou de exposição coletiva “Arte Naif: Nenhum Museu a Menos”, no Parque Lage-RJ, com curadoria de Ulisses Carrilho. No mesmo ano, foi destaque na Revista Dobra, de Portugal, e assinou a capa da antologia poética “Poesias para se ler antes das notícias”, da Revista Cult.

O paraense PV Dias reside no Rio de Janeiro atualmente, mas suas obras passeiam por Belém, Cametá e a capital carioca.
📷 O paraense PV Dias reside no Rio de Janeiro atualmente, mas suas obras passeiam por Belém, Cametá e a capital carioca. |Foto: Gabriel Stefanini

Também integrou a exposição coletiva no espaço Caixa Preta, com curadoria de Rafael Bqueer e expôs no Instituto Goethe da Bahia, com curadoria do Tiago Sant’Ana e no espaço Pence, com curadoria de Silvana Marcelina. Em 2020, foi convidado para produzir um desenho animado para o primeiro projeto de animação do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, o Animam e também trabalhou junto ao instituto novaiorquino Creative Time. Em 2021, abriu sua primeira exposição individual no Rio de Janeiro: “Desarmonia”, com curadoria de Aldones Nino, na galeria Simone Cadinelli.

Em constante processo de reflexão e (re)formulação, o paraense atualmente possui como referências o russo Andrey Kasay, Nina Chanel, Rafael Bqueer; Márcia Falcão; Labō; Heloisa Hariadne; Marcela Cantuária; Herbert De Paz e Bonikta. “A maioria daí não necessariamente faz trabalho digital, mas influenciam minha produção como um todo, em temas, em traços, em cores”, finaliza.

Enderson Oliveira é jornalista, coordenador de conteúdo no DOL, professor e doutorando em Sociologia e Antropologia.

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