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Jesus nunca se uniu a intolerantes nem julgou os diferentes

Em um mundo cada vez mais licenciado de bondade, atos de amor e respeito se tornam cada vez mais escassos. Pessoas que escolheram uma orientação sexual diferente dos demais sofrem na pele, dia após dia , a discriminação. Hoje a coluna traz mais uma história vivida no cotidiano e que busca no evangelho o auxílio para enfrentar os dilemas da fé.

Imagem ilustrativa da notícia Jesus nunca se uniu a intolerantes nem julgou os diferentes camera DEMAX SILVA SARMENTO

Uma das coisas que mais me fascina sobre a vida de Jesus é verificar que ele não seguia um padrão moral, e nem se preocupava com a moralidade dos religiosos da época. Além de sempre estar presente no cotidiano daqueles que estavam ao seu lado, ele também pouco se importava com o "status social" de quem o seguia. Pouco importava se era rico ou pobre, preto ou branco, se vivia de um jeito ou de outro… Para Cristo, todos eram iguais.

Esse talvez seja o motivo que me leva a olhar para o evangelho, tentando aplicá-lo de uma forma prática no meu dia a dia. Seja através da minha vida ou dos textos que escrevo. Onde procuro relatar experiências vividas por pessoas comuns. Pessoas que estão longe de serem as mais espirituais no meio congregacional, mas que mesmo assim, encaram com muita fé, as dificuldades.

A história que irei contar é mais uma dessas vividas no cotidiano. É sobre amor, luta, fé e respeito. O texto não tem a intenção de evangelizar ninguém, nem possui palavras motivacionais ou palavras carregadas de religiosidade. Mas tem a intenção de trazer à consciência coletivasobre como podemos viver o evangelho e como ele pode auxiliar, nos dilemas diários da fé.

Joana acorda assustada. Um barulho que veio da cozinha faz ela despertar no meio da madrugada. Ainda atordoada por conta do sono, desce lentamente as escadas. Ao se aproximar da cozinha, um latido! Era seu cachorro, que ao tentar pegar a vasilha da ração, que estava sobre a mesa, acabou derrubando um copo de vidro.

O celular tocou. Era Patrícia, avisando que estava chegando. Patrícia era enfermeira e havia passado a noite tirando plantão num hospital no centro da cidade.

Ainda enrolada por lençóis, Joana abre a porta para sua companheira. Elas moravam juntas há três anos.

O início da relação não foi fácil, pois além de enfrentar o julgamento de algumas pessoas, tiveram que encarar o da família. Mas para Joana, as coisas foram mais complicadas.

Filha de um casal de pastores de uma igreja tradicional, Joana teve que enfrentar as duras críticas de seus pais. E foi durante uma discussão acalorada, que ela decidiu sair de sua casa. O mais complicado desse dia, foi ter que ouvir o pai dizer: que não a considerava mais como filha. Sua mãe ainda tentou impedir, mas não teve jeito. Ela foi embora.

Os dias não eram bons, Joana havia ficado desempregada. Durante a pandemia de Covid 19, ela foi mandada embora da empresa em que trabalhava. Mas para ajudar, passou a fazer bolos caseiros, que Patrícia vendia para os amigos de trabalho. Isso ajudava no pagamento de algumas contas.

Joana tinha muita fé de que as coisas iriam melhorar. Todos os dias, durante a madrugada, ela se levantava para orar. Pela manhã colocava "louvores". Mesmo não indo mais à igreja, ela sentia falta de poder estar na "casa de Deus". A última vez que foi quando ainda morava com seus pais.

Certo dia, Joana acordou animada, era domingo de manhã. Ela preparou o café, e foi levar para Patrícia que ainda dormia. Durante o café, Joana aproveitou e convidou a companheira para ir à igreja. Patrícia ficou assustada e não escondeu a preocupação, pois sabia que não seriam bem recebidas.

Mas o fato é que Joana já tinha planejado tudo. Como havia recebido um convite de um amigo, pastor de uma igreja batista, e que tinha um pensamento diferente dos demais líderes evangélicos. Joana sentiu-se encorajada.

A igreja em questão, era pastoreada por Marcos. Ele sabia da situação conjugal da amiga, e apesar de não concordar, respeitava a escolha de Joana.

Marcos fazia questão de ensinar para as pessoas, que Jesus veio para todos e jamais julgou ninguém. Dessa forma, todos eram bem-vindos para frequentar a sua comunidade..

Ao chegarem na igreja, as duas ficaram surpresas com a receptividade. Elas foram muito bem tratadas, se sentindo acolhidas pela comunidade (algo quase impossível de acontecer em muitas igrejas).

No caminho que dava acesso às cadeiras, perceberam alguns olhares e alguns cochichos. Nesse instante, Patrícia se sentiu desconfortável, mas Joana segurou bem forte em sua mão e as duas seguiram. Foi nesse instante que Marcos apareceu, fazendo questão de cumprimentá-las.

Durante a mensagem, algo chamou a atenção. Não ouviram nada sobre medo, culpa ou julgamento. Só ouviram o quanto Jesus acolhe a aceita a todos. Marcos fez questão de enfatizar que quando Deus nos olha, ele não nos vê como pecadores, mas sim como filhos amados. E que mesmo cheios de erros, defeitos e pecados, ele nos chama para andar lado a lado com Ele.

No final do culto, Marcos se dirigiu novamente a elas. Patrícia agora, já mais tranquila, agradeceu ao pastor pelo convite e surpreendeu, quando disse que pretendia voltar. Em toda sua vida, era a primeira vez que ela havia ido à uma igreja.

O jovem pastor se sentiu muito feliz e relatou que, infelizmente, muitas igrejas, que deveriam ser as primeiras a reconciliar pessoas à Deus, eram as primeiras a expulsar.

Antes de ir, Patrícia fez uma pergunta ao pastor. Ela questionou o fato de ser homossexual, e, se continuasse a frequentar a igreja, se isso não traria problemas.

Marcos riu, e falou a respeito de uma experiência que teve com um jovem, também homossexual. Certo dia, esse jovem chegou à sua igreja. Sentou-se bem no fundo do salão, e pouco interagiu com as pessoas. No final do culto, Marcos se aproximou e perguntou se estava tudo bem. O jovem chorou antes mesmo de poder falar, mas conseguiu forças para relatar tudo que vinha passando. Contou que havia começado a ter atração por pessoas do mesmo sexo ainda com 14 anos, e que tentou por várias vezes lutar contra isso. Pensou em falar com seus pais, mas tinha medo da reação deles. Chegou a ir em outra igreja, e falou com o pastor. Mas, em vez de receber ajuda, ouviu que estava com o "Diabo no corpo" e que aquele local não era lugar de gay.

Marcos disse que ao ouvir o relato do jovem, sentiu raiva, pois não conseguia entender como as igreja, não conseguiam ajudar pessoas nessa situação. Não entendia o porquê das igrejas serem tão "diabólicas" em suas doutrinas. Marcos ajudou esse jovem, e hoje ele faz parte da banda da igreja. Continua a ter sentimentos por outros homens, mas permanece na luta e tem fé que um dia encontrará paz em seu coração.

No final, Joana e Patrícia foram embora, mas prometeram que iriam voltar. Haviam entendido do que se tratava o evangelho de Cristo.

A história contada aqui, relata uma realidade enfrentada por muitas pessoas. Pessoas que, por terem escolhido uma orientação sexual diferente dos demais, enfrentam diariamente, o julgamento e a discriminação. E no meio disso tudo, estão os que se dizem seguidores de Cristo. Pessoas que deveriam ter como marca, o amor e respeito. Mas ao invés disso, estão promovendo profundas separações. E tudo, em nome de uma moralidade, que em nada tem haver com o evangelho.

Jesus não nos julga pelas nossas escolhas ou pelos nossos atos. Não tem interesse em apontar nossos erros. Ele simplesmente nos ama, independentemente de orientação sexual.

Sua verdade além de absoluta, tem o poder de libertar, mas nada é feito por pressão ou imposição. O evangelho de Cristo, sempre será um convite amoroso, para aqueles que buscam descanso e paz.

Demax Silva é colunista do podcast Outside

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