Carlos Lorenzo produz "Amends" que mostra "cancel culture”

Os filmes são um tipo de mídia que é muitas vezes utilizado e associado ao escapismo, devido à supersaturação que vem com a explosão comercial do cinema, com muitos filmes modernos não tendo muito valor fora de simplesmente distrair o espectador com luzes brilhantes por duas horas sem ter uma mensagem bem desenvolvida. Porém, mesmo com essas tendências modernas, o cinema ainda tem potencial de comunicar crenças e críticas que têm relevância a o mundo moderno. Esse seria o caso do filme "Amends", um curta produzido por Carlos Lorenzo.

No curta, vemos uma exploração do fenômeno moderno que veio lado a lado com o grande boom em redes sociais desde os anos 2000, o “cancel culture”, ou a cultura do cancelamento. O filme majoritariamente ilustra o movimento como algo perigoso e volátil, que leva as pessoas a influenciarem umas às outras a terem fortes opiniões sem muita fundamentação, apenas seguindo o fluxo. O filme discute o poder que a internet tem sobre o indivíduo no mundo moderno, e como assim pessoas que individualmente não teriam influência, podem se juntar para “destruir” a vida de uma pessoa considerada tóxica. Amends demonstra isso nos colocando no ponto de vista de um protagonista cancelado, e mostra o efeito dominó que vai levando ao cancelamento de algo que impede a pessoa não só pessoalmente, mas que ataca a vida profissional do indivíduo, e até se espalha a pessoas que não teriam envolvimento direto, como membros da família ou amigos do individuo cancelado.

Porém, tanto como na vida real, o filme concorda que não é possível dizer que o movimento é algo puramente negativo e destrutivo. Ao decorrer do filme, o protagonista começa a entender que o seu cancelamento veio por um motivo, e isso lhe força a buscar auto reflexão para poder se tornar uma pessoa melhor. Com isso o filme deixa em aberto e na mão de cada espectador a chegar as suas próprias conclusões sobre o mérito do cancel culture.

Fora o roteiro interessante é bom remarcar que Carlos Lorenzo não foi apenas o produtor do filme, mas também seu próprio protagonista. Como o Covid-19 limitou muito a capacidade de grandes equipes se juntarem para produzirem filmes, é revigorante ver que atores e cineastas como Lorenzo não perderam a motivação para a criatividade. A performance de Lorenzo foi muito bem trabalhada, e você pode muito claramente sentir a progressão de seu personagem no decorrer do seu isolamento social por conta do cancelamento. O filme não demonstra a presença de outras pessoas fisicamente, e por isso podemos sentir com toda a imersão possível o quão isolado o protagonista está, e isso foi um bom uso das limitações trazidas pela quarentena que Lorenzo usou a seu favor.

O filme de Lorenzo faz uma crítica bem elaborada e criativa a um dos movimentos mais polarizantes da atualidade, porém deixando a desejar no quesito de ambiguidade, pois o filme faz uma tentativa de mostrar os lados positivos da cancel culture, porém fica preso por muito tempo nos aspectos negativos. Se o filme tivesse se estendido a uma duração maior, teria mais tempo de explorar essa dualidade, porém para um filme com uma duração de menos de cinco minutos, sua nuance é impressionante. Lorenzo atualmente está com altos espíritos de que seu curta tenha uma chance de vencer o altamente disputado Sundance Festival, um dos festivais de cinema mais condecorados no mundo todo. Quem sabe se ao vencer o festival, ele consiga patrocinadores suficientes para desenvolver a ideia inovadora mais em um longa metragem.