Belém está no circuito da turnê da peça “Simples Assim”, que traz ao palco do Theatro da Paz o texto de Martha Medeiros, uma das mais célebres cronistas brasileiras.
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Com direção de Ernesto Piccolo e dramaturgia assinada pela própria autora ao lado de Rosane Lima, a partir dos livros “Quem Diria Que Viver Iria Dar Nisso” e “Simples Assim”, a montagem conta ainda com as atrizes Georgiana Góes, Maria Eduarda de Carvalho e o ator Mouhamed Harfouch no elenco.
Serão três apresentações na capital paraense, sendo nesta sexta-feira, 14, no sábado, 15, às 20h, e no domingo, às 18h.
Admirador confesso da obra de Martha Medeiros, o diretor Ernesto Piccolo conta que esta é sua quarta peça baseada em crônicas dela. “Eu sou muito fascinado pela Martha desde que dirigi o ‘Divã’ com a Lília Cabral. Depois vieram ‘Doidas e Santas’, ‘Feliz Por Nada’ e agora ‘Simples Assim’. É o universo que eu gosto de transitar. Ela é uma cronista do dia a dia e tudo o que ela escreve é o que a gente está sentindo”, descreve.
Em “Simples Assim”, os personagens possuem histórias entrelaçadas. Elementos reais são pinçados na narrativa, que geram grande identificação pelo público. Assim, existe um casal que interage apenas pelo celular, uma mulher que contrata uma dublê de si mesma e uma jovem que decide viajar para Marte e abandonar o amante. “É uma história dentro da outra. É uma jornalista que está com a editora-chefe, depois começa outra história com outra personagem. São várias crônicas adaptadas que formam uma teia”, explica o diretor.
A peça, que já está em cartaz há quatro anos, com outras atuações, já circulou por várias cidades brasileiras nesta turnê e tem a característica de ter pessoas que já se conhecem de outras parcerias artísticas.
“O Gustavo Nunes [produtor responsável pela idealização e concepção do projeto] é meu parceiro há muitos anos, já tinha trabalhado com a atriz Maria Eduarda em ‘Feliz Por Nada’. Dessa forma, tudo o que é feito é sempre com muito afeto”, afirma Ernesto Piccolo, que diz estar feliz em rever o Theatro da Paz, o qual, em suas palavras, é um dos mais lindos do mundo.
Para o ator Mouhamed Harfouch tem sido intensa a rotina desde que recebeu o convite para estrear na peça, pois ele já estava circulando com a peça “Quando Eu For Mãe Quero Amar Desse Jeito” e gravando outras duas séries.
"‘Simples Assim’ é um espetáculo que eu sempre assistia e eu tenho um carinho enorme pelo coletivo que cuida da produção da peça. O Neco [Ernesto Piccolo] é um diretor muito afetuoso, ele foca no sentimento, na palavra. O espetáculo me deu a oportunidade de conhecer de perto o trabalho da Maria Eduarda e de atuar ao lado de Georgiana Góes. São duas potências femininas, tal qual o outro espetáculo [‘Quando Eu For Mãe Quero Amar Desse Jeito’] que traz Vera Fischer e Larissa Maciel, que também possui duas mulheres e eu, o único homem”, diz o ator, que já esteve em Belém, mas será a primeira vez que pisará no Theatro da Paz.
Mouhamed Harfouch diz que é uma honra atuar em uma peça com texto de Martha Medeiros. “A gente vive em um momento tão importante, onde o teatro se faz mais necessário do que nunca. Vivemos num momento em que o digital e essa agilidade da informação com as telas de smartphones, somada a pandemia e o home office, da ausência de afeto. A gente precisa resgatar a presença, o convívio familiar. Então, o espetáculo vem com a ideia do ‘simples assim’ mostrar que essa complexidade do mundo contemporâneo está levando a gente para um vazio. Sendo que a melhor busca que se pode ter é o olhar do outro, o afeto, a troca, compartilhar o silêncio com o outro, o aperto de mão, o choro, a risada. A gente não pode viver isolado em ilhas. É o que a peça vem propor de forma divertida”, analisa.
As crônicas, segundo ele, foram amarradas para proporcionar o jogo cênico, assim, cada personagem completa o outro.
“São seis personagens femininos e três masculinos. O espetáculo brinca com esses arquétipos para dar esse colorido e toda a brincadeira do espetáculo. Cada um vai colocando a tinta sobre a outra para formar essa aquarela do ‘Simples Assim’”, resume Mouhamed Harfouch, para quem Belém é uma cidade linda e tem um teatro maravilhoso.
Georgiana Góes compartilha do mesmo sentimento do colega e diz que a cidade está em suas grandes lembranças.
“Adoro a comida de Belém, sou muito fã do povo, que é uma gente muito bonita, indígena e misturada. Vocês representam muito do que é o nosso país. Em 30 anos de carreira, foi em Belém que eu vivi um ‘branco’ depois de me distrair com a beleza do Theatro da Paz. Isso ocorreu quando estava na peça ‘Confissões de Adolescente’, pela terceira vez em Belém. Lembro que deu um ‘branco em cena’, olhando a coisa do dourado, não sei bem ao certo, mas para mim, a sensação é como se eu tivesse ficado cinco minutos sem falar nada, claro que foi muito menos. Lembro de passear depois pelo Theatro, de observar os detalhes lindos de marcenaria”, conta a atriz, que acumula recordações de outras vezes que veio ao Pará.
Um desses momentos foi bem antes, no ano de 1998 em uma peça com a atriz Camila Pitanga. “Naquela época, a gente fez uma escala em Carajás e me lembro da sensação de contato com a floresta, vendo as copas das árvores de cima”, recorda Georgina, que em outro momento, ainda esticou um pouquinho sua estada pelo Norte e viajou até o povo Macuxi, entre a Guiana Francesa e a Venezuela, depois saiu de Manaus, passando por Belém e seguiu para Alter do Chão, em Santarém.
“É a nossa terceira turnê com a peça. Uma preocupação válida desta produção é a descentralização do eixo Rio-São Paulo, que é uma proposta do idealizador, o Gustavo Nunes. Trabalho desde muito cedo, mas sempre busquei conhecer os lugares do Brasil. Assim, já conheci diversas cidades do país. Levar a peça até Belém, traz uma sensação de cumprir com a tradição do teatro, que é a de ir aonde o público está. Seria maravilhoso, um mundo ideal que as peças pudessem circular por cada cidade do país, porque isso cria uma sensação de pertencimento”, destaca a atriz.
Georgina, que está com uma filha com um pouco mais de um ano, dá vida a vários papéis femininos na peça. “A peça tem uma pitada de ficção, mas a mulher tem vários papéis na vida. Nós precisaríamos ser duas para dar conta de todo o acúmulo de funções do dia. Eu adoro atuar com diversos personagens em cena que, para mim, isso é um exercício maravilhoso para os atores e uma condição da profissão que é fazer três, quatro personagens. É um desafio delicioso de composição, de qualidade energética, então é muito gostoso”, considera.
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