O modo de fazer, servir e vender tacacá, que caracteriza o trabalho das tacacazeiras, pode se tornar Patrimônio Cultural do Brasil. Ontem, em Belém, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em parceria com o Núcleo de Estudos Interdisciplinares em Sociedades Amazônicas, Cultura e Ambiente da Universidade Federal do Oeste do Pará (Sacaca/Ufopa) prestaram informações e ouviram propostas e demandas das tacacazeiras do Pará, visando o registro do ofício. A ação faz parte de uma pesquisa em andamento nos estados da região Norte (Pará, Acre, Amazonas, Amapá, Roraima, Rondônia e Tocantins).

De acordo com o Inventário do Ofício de Tacacazeira na Região Norte, o registro tem o sentido de trazer à luz e valorizar um ofício e um saber especiais que são parte da riqueza cultural do país. Envolve a complexidade dos sistemas culinários amazônicos, de um paladar bem específico, amplamente disseminado em vários estados e cidades e imerso em um universo simbólico denso, e uma prática tradicional que é também meio de vida para muitas famílias.

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“A gente até o momento tem encontrado características peculiares do tacacá nos lugares onde a gente tem andado. Entendo que tem a Joelma ‘voando para o Pará’, que tem uma conexão do tacacá com o Pará, que é muito forte, mas ela se repete em Manaus, Porto Velho, e as mulheres têm histórias muito parecidas. Não temos motivos para não incluir o Amazonas, Rondônia nesse estudo. No Amapá, a gente já está com a pesquisa em andamento também, registrando uma presença significativa do tacacá, algumas das quais [tacacazeiras] vêm do Pará, até porque o Amapá e Pará têm uma relação histórica, já que houve um desmembramento [que formou o Amapá]. Mas a gente tem histórias próprias, tem maneiras que são peculiares do lugar”, falou a professora Luciana Carvalho, membro do Sacaca/Ufopa e coordenadora da pesquisa.

O inventário começou em 2000, durante uma pesquisa sobre os modos de fazer associados à mandioca, que incluía aspectos do plantio à preparação de produtos derivados. Daí surgiu a proposta de trabalho envolvendo as tacacazeiras.

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“Fizemos muita coisa e a pesquisa anterior não é jogada fora. O que a gente faz agora é complementar, ver o que mudou. Basicamente, o tacacá não mudou e a importância dele para vida das famílias também não mudou. A presença do tacacá na propaganda oficial, nas ruas, a importância dele como alimento-identidade, nada disso mudou, só se fortaleceu. Se posso dizer que alguma coisa mudou, é que ele se tornou ainda mais visível”, disse a professora.

Luciana acredita que o ofício será reconhecido como bem cultural e elenca três motivos de por que acredita na aprovação do registro: “Em primeiro lugar, chamaria atenção para os conhecimentos tradicionais que estão associados na preparação do tacacá. São conhecimentos tradicionais associados a recursos naturais que são muito característicos da região amazônica, que são muito valorizados na região e que envolvem extensas cadeias produtivas. A gente vai lá na roça, a gente está falando de tacacá numa banca aqui na cidade, na José Malcher, mas a mandioca vem de algum lugar. Então, o tacacá está conectado em cadeias produtivas que juntam a cidade ao meio rural. Tem muitos conhecimentos tradicionais e isso é importante do ponto de vista do patrimônio estrutural”, disse ela.

Outro ponto, segundo a pesquisadora, é que o tacacá também está totalmente ligado à presença das tacacazeiras nas ruas, que estão associadas à história da cidade, de urbanização e industrialização da Amazônia, além de ser uma história também da projeção da mulher para além do ambiente doméstico.

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