José Luiz Datena, 63, rebateu nesta segunda-feira (24) uma fala do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), 65, que chamou jornalistas de "bundões" durante evento pró-cloroquina no Palácio do Planalto. Segundo o presidente, um jornalista, se infectado pelo coronavírus, tem mais chance de morrer por ser "bundão".

"Eu não sei se é crime ou não o que o senhor presidente da República fez", disse o apresentador durante o programa Brasil Urgente (Band). "Mas [...] ele abre um caminho de duas mãos, porque ele também não pode ofender qualquer cidadão brasileiro da forma como ele ofendeu, seja ele da imprensa ou não".

"Bundão é o senhor, presidente." Datena, José Luiz. https://t.co/ccofBDg0we

— Jayson Keyby (@jaysonkeyby) August 25, 2020

"Eu, por exemplo, sou jornalista, e não sou bundão, senhor presidente Bolsonaro" [sic], continuou Datena. "Agora, o senhor me dá o direito de chamar o Jair de bundão. Então, bundão é o Jair. Bundão é o senhor. Não o presidente da República -este eu respeito. Mas a partir do momento que você chama a minha classe toda de bundão, eu também posso chamar o senhor de bundão".

Em seguida, o apresentador questionou novamente a fala do presidente, afirmando que jornalistas "deram suas vidas durante o regime militar" fazendo matérias.

"A imprensa brasileira foi fundamental na mudança deste país em várias oportunidades. Os jornalistas brasileiros não são bundões. É gente que vai para a rua trabalhar", disse. E reforçou: "Com todo o respeito ao cargo de presidente da República que o senhor tem, bundão é o senhor. O senhor vai me desculpar. Essa é a minha opinião".

EVENTO NO PLANALTO

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) liderou nesta segunda-feira (24) um evento no Palácio do Planalto para defender que o Brasil está "vencendo a Covid-19" e para fazer apologia do tratamento com a hidroxicloroquina –medicamento que não tem tido eficácia comprovada para a doença em estudos recentes e que representa risco de efeitos colaterais.

No ato, ele voltou a criticar a imprensa e disse que jornalista, se infectado pelo coronavírus, tem mais chance de morrer por ser "bundão". O ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, não participou da agenda por estar em compromisso no Ceará.

Referindo-se à repercussão negativa de quando disse em março que, por seu "histórico de atleta", sentiria apenas uma "gripezinha" se infectado pela Covid, Bolsonaro se referiu a jornalistas com a expressão "bundão".

"O pessoal da imprensa vai para o deboche [na frase do histórico de atleta]. Mas quando [a Covid] pega num bundão de vocês a chance de sobreviver é menor", afirmou.

"[Jornalista] só sabe fazer maldade, usar caneta com maldade em grande parte. Tem exceções, como aqui o Alexandre Garcia. A chance de sobreviver é bem menor do que a minha", disse, sinalizando o ex-apresentador da TV Globo, hoje na CNN e um defensor do bolsonarismo nas redes sociais.

Essa foi a segunda fala polêmica de Bolsonaro sobre jornalistas dita nos últimos dias. No domingo (23), ao ser questionado sobre depósitos que somam R$ 89 mil feitos pelo ex-assessor Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama Michelle, Bolsonaro disse que tinha vontade de encher a cara do repórter com uma porrada.

Foto: Reprodução

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