O delegado Carlos Alberto da Cunha, 43, conhecido como Da Cunha,
tornou-se alvo de nova apuração preliminar da Corregedoria da Polícia
Civil após se envolver, nesta quinta-feira (7), em uma ocorrência
policial quando realizava gravações de vídeos para seu canal no YouTube.
O que se pretende descobrir é se houve irregularidade na conduta do
delegado durante a apreensão de máquinas caça-níquel na zona norte de
São Paulo.
Policiais ouvidos pela Folha afirmaram que o objetivo da apuração é
saber se Da Cunha agiu como delegado da ativa, o que poderia
caracterizar usurpação de função.
Da Cunha está licenciado do cargo desde agosto, quando pediu licença sem
vencimentos após ser afastado das funções. Não poderia, em tese, fazer
abordagens apresentando-se como delegado de polícia -como alegam os
advogados do dono do bar.
Embora ainda mantenha o direito de andar armado, seus superiores querem
esclarecer se houve uso irregular de arma de fogo. Isso porque ele
estava usando uma arma registrada no Exército como de colecionador.
Procurado pela Folha, Da Cunha não se manifestou. Ele também não falou
com jornalistas em frente ao distrito para onde foi após o episódio. Em
suas redes sociais, no entanto, negou que esteja atuando como policial
no período em que está afastado do cargo.
De acordo com registros oficiais e segundo policiais ouvidos pela Folha,
Da Cunha acionou a Polícia Militar às 18h17 desta quinta-feira para
pedir apoio na apreensão de máquinas de jogos. Cinco equipes da PM foram
até o local.
Ele disse aos policiais que apurava uma denúncia anônima sobre tráfico
de drogas em uma rua próxima ao 73º DP (no Jaçanã, zona norte de SP)
quando tentou abordar um suspeito, que saiu correndo.
Da Cunha disse ter perseguido o rapaz até um bar na mesma rua. Não achou
o suspeito, mas encontrou cinco máquinas caça-níqueis que estavam atrás
de uma parede divisória, três delas em funcionamento.
Ainda de acordo com o registro oficial, os PMs perceberam que Da Cunha
estava armado e, como sabiam que ele estava afastado da polícia, ficaram
em dúvida se ele poderia portar arma. O policial apresentou o
certificado de registro de arma de fogo da pistola que portava, uma
Glock calibre .40 –documento com validade até março de 2023.
Os PMs acionaram, então, a Polícia Civil para participar da ocorrência.
Foram ao local dois delegados do 73º DP, o plantonista Denis Kiss e o
titular do distrito, Ivair Martinho Graça. Ainda segundo o registro
oficial, Graça conversou com Da Cunha e solicitou que ele mostrasse a
arma, que "foi prontamente entregue ao delegado titular". Todos seguiram
para o distrito policial, onde Da Cunha foi ouvido como testemunha na
ocorrência de jogo de azar, segundo a polícia.
O registro oficial aponta ainda que os policiais acionaram a
Corregedoria. O delegado do órgão pediu que fosse feito o registro do
boletim do caso e que todos os envolvidos fossem ouvidos imediatamente.
Da Cunha tornou-se celebridade na internet desde o ano passado com a
divulgação de operações policiais das quais participava –só no YouTube,
por exemplo, conseguiu mais de 3,7 milhões de inscritos.
Por conta desses vídeos, porém, acabou infringindo regras internas da
Polícia Civil e passou a ser alvo de uma série de investigações da
Corregedoria. Os inquéritos apuram se ele teria cometido abuso de
autoridade, violação de sigilo funcional e improbidade administrativa
–algumas investigações já foram arquivadas. Com tudo isso, acabou
afastado temporariamente do cargo.
A advogada Moara Beatriz Adonis, representante do dono do bar, disse que
acionou a Corregedoria contra o policial e, também, estuda processá-lo
por danos morais causados pelo constrangimento na abordagem. "Ele disse
que vai voltar ao bar. E, nós vamos fazer de tudo para pará-lo."
Segundo ela, Da Cunha chegou ao local filmando, tentando se passar por delegado e intimidando o cliente dela.
Em vídeo divulgado para seus seguidores, Da Cunha disse que analisava o
tráfico de drogas na zona norte quando se deparou com uma
"situaçãozinha" de jogo de azar e precisou acionar a PM e a Polícia
Civil pelo telefone. "E lembrando que eu não estou fazendo ocorrências.
Eu sou um comunicador digital do YouTube", disse.
Sobre a presença dos delegados no local da ocorrência, o policial
elogiou os colegas e disse que tudo foi resolvido de forma rápida. "Já
chegaram, resolveram a ocorrência e me liberaram rapidamente porque eu
era testemunha", disse.
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