Três semanas foram suficientes para a cantora Anitta, de 29 anos, sair da busca por um "meio termo" para o Brasil e cravar seu voto nesta segunda-feira: "Este ano estou com Lula e quem quiser minha ajuda para fazer ele bombar aqui na internet, TikTok, Twitter, Instagram é só me pedir".
No final do mês passado, pressionada por uma fã para se manifestar sobre Lula, ela havia dito que não tinha decidido o voto, e que aguardaria "o dia limite da candidatura pra estudar os candidatos" e tomar a decisão. Mas quem acompanha seus posicionamentos nos últimos tempos já sabia que endossar a reeleição de Jair Bolsonaro não estava nos planos da artista.
Se hoje adere francamente ao "fora, Bolsonaro", como já manifestou diversas vezes nas redes sociais, sobretudo ao comentar as 500 mil mortes pela Covid-19 no país, a autora do hit "Envolver" tem um passado não muito distante de isenção.
Basta lembrar como em 2018, às vésperas das eleições presidenciais, ela escreveu que não queria "ser obrigada a fazer campanha política quando não foi esse o trabalho que escolhi". Isso se deu sobretudo porque seus fãs notaram que ela tinha começado a seguir o perfil de uma apoiadora de Bolsonaro. "Não quero ser obrigada a odiar ninguém. Não quero ser obrigada a fazer campanha política quando não foi esse o trabalho que escolhi", defendeu-se no Twitter.
A pressão seguiu sobretudo pela base de fãs LGBTQIA+ que, mesmo Anitta falando ser contra o preconceito e a intolerância –sendo ela mesma bissexual–, a considerou oportunista, e as redes compartilharam #AnittaDigaNãoaoFascismo. "É totalmente incoerente dizer que eu apoio a morte à comunidade LGBTQ+ quando eu faço parte dela. Estaria apoiando minha própria morte", se explicou.
Quatro dias depois dessa repercussão, em 23 de setembro, a postura começou a mudar. Foi quando postou um vídeo falando abertamente ser a favor do movimento "Ele Não", contra a candidatura de Bolsonaro.
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"Fui desafiada pela Daniela Mercury a apoiar a #EleNão. Eu sou a favor da democracia e também não apoio a corrupção e o oportunismo", escreveu. Na ocasião, ela pediu a celebridades como Ivete Sangalo a apoiarem a hashtag –para citar outra celebridade que ficou com fama de "isentona" recentemente. Em 2022, ambas foram vítimas de fake news bolsonaristas pelo posicionamento.
Após a eleição de Bolsonaro, em 2019, a cantora ainda não adotava o tom francamente crítico que assumiria após a pandemia. "Meus amigos gays no Brasil têm medo do que pode acontecer, mas sabemos que somos muito fortes. As pessoas que votaram no presidente [Bolsonaro] pensaram nas mudanças que isso poderia causar na economia, na educação e na luta contra a violência, e eu tenho que respeitar isso", disse ela ao site espanhol Shangay na ocasião.
"O problema surge quando vemos que temos um presidente com preconceitos. E também estou muito preocupada com o meio ambiente. Temos que cuidar do nosso mundo, independente de ser gay, rico, pobre, religioso ou não", disse.
Depois disso, em maio de 2020, a pressão dos fãs deu resultado: "Na internet as pessoas cobram tanto que a gente tenha uma posição política que fez eu me questionar: 'Como vou ter uma posição se eu não entendo nada do que estão me pedindo? Preciso começar a entender", disse ela no programa Conversa com Bial, citando que começou a ter aula com Gabriela Prioli, advogada e apresentadora da CNN.
"A Gabriela me ensina os dois lados [direita e esquerda] e eu escolho a minha maneira de pensar", afirmou então.
No mesmo mês, a cantora anunciou que faria lives com Prioli em suas redes para compartilhar os aprendizados, especialmente "para quem não entende nada de política". Daí para frente, menções e questionamentos sobre seu posicionamento político ficaram cada vez mais incisivos.
Questionada pelo americano The New York Times em dezembro do ano passado, ela gravou um vídeo criticando o governo, especialmente sobre o descaso com a situação ambiental do país. "Nossos políticos e nosso governo não estão ajudando em nada com o nosso maior tesouro, que em minha opinião, é a Amazônia. O ministro do Meio Ambiente e o presidente não estão fazendo um bom trabalho em ajudar a Amazônia e as comunidades indígenas de lá", disse a cantora.
Meses depois, perfilada pelo mesmo veículo, ela relembrou a situação de não ter se posicionado nos estágios iniciais da candidatura de Bolsonaro, ainda em 2018. "'Eu estava tendo minha iniciação religiosa", disse ela. No candomblé, que mistura crenças iorubás, fon e bantu, as iniciações normalmente exigem que as pessoas permaneçam isoladas por cerca de 21 dias: 'Eu não tinha como entrar em contato com o mundo exterior'", diz a reportagem.
Em março, em meio à polêmica de permitir ou não manifestações políticas de artistas durante o Lollapalooza, Anitta chegou a dizer que pagaria as multas dos amigos que fizessem isso no festival, a partir do entedimento do Tribunal Superior Eleitoral –depois derrubada.
Sua atual posição também causou burburinho quando Bolsonaro tentou surfar na repercussão da cantora, ironizando a apropriação das cores da bandeira brasileira. Foi o suficiente para ela bloquear o perfil do presidente nas redes sociais.
Tampouco mediu críticas ao mandatário em entrevistas para outros veículos internacionais, como num talk show francês em junho –"[Bolsonaro] não representa os brasileiros"– e ainda encabeçou um movimento em março pedindo para que jovens tirassem o título de eleitor.
Já sem poder responder ao tuíte de Anitta, o perfil de Bolsonaro no Twitter teve que comentar a um print da cantora afirmando que conversara com Leonardo DiCaprio sobre as eleições no país. "Fico feliz que tenha falado com um ator de Hollywood", tentou ironizar.
Gritos de "fora, Bolsonaro" ficaram mais frequentes, incluindo manifestações do próprio balé da artista. Ainda assim, como no caso do show no Coachella, Anitta preferiu só não fazer qualquer manifestação contra o "Voldemort", como ela passou a chamá-lo, em referência ao vilão de Harry Potter, porque "qualquer manifestação contra ele por meio dos artistas vai ser revertido em forma de deboche pelas mídias sociais dele".
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