Longe do oba oba de torcedores que não analisam e refletem de fato sobre o que as pessoas mostram de si e representam no BBB ou de ufanismo regional quando a paraense Alane cita - por minguadas vezes - Belém, mais uma análise ampla e detida foi feita sobre o programa e a paraense. E, mais uma vez, a avaliação é negativa de seu comportamento e, principalmente, o que ela representa fora da casa.

Desta vez, a análise foi feita por Luciana Bugni, colunista do UOL, que demonstrou o quanto o jogo (ou conjunto de hábitos) de Alane a faz uma das piores participantes do reality, por sempre se colocar na posição de vítima, esvaziar pautas e achar que o mundo gira ao seu redor. Veja o texto na íntegra da colunista:

Alane, no BBB, disse que a colega Fernanda não conseguia subir a perna muito alto. Ela, mais flexível, alcança lá em cima. Fernanda retrucou dizendo que a colega era muito "molinha". A mais jovem desde então repete isso todos os dias, como se não tivesse criticado o corpo da outra antes. A situação da discussão é deplorável. Entretanto, mostra como a geração Z (a paraense tem 24 anos) está acostumada a achar que o mundo gira ao seu redor e se colocar na confortável posição de vítima sempre.

Outro exemplo: Juninho disse que ficaria com Alane. A moça se irritou e o acusou de assédio — é muito grave que a gente coloque impressões pessoais que podem favorecer o jogo em cima de causas importantes como essa. Dizer que quer ficar com alguém não é assédio, ou ninguém mais se beijaria nessa vida. E imagina que tristeza seria.

Claro, quando é assédio mesmo é preciso botar a boca no trombone. Mas cada vez que alguém diz que foi violentada sem ter sido, contribui para que mais gente duvide das futuras vítimas. É o que a gente chama de esvaziamento de pauta. Usar o tema sem necessidade deixa todo mundo cansado do assunto. Sabe aquela fábula do menino que gritava que o lobo estava chegando e era mentira? Quando o lobo chegou de verdade, ninguém acreditou. É grave porque prevenir assédio salva a vida de mulheres. Não se brinca com esse assunto.

A geração Z e seus pais

Outro dia vi a mãe de uma garota de seus 23 ou 24 anos empenhada em conseguir outro estágio para a filha, que estava se sentindo muito mal tratada no trabalho que tinha. Achei curioso: não seria o caso da própria garota, adulta, correr atrás do que quer? Natuza Nery falou sobre o assunto garantindo que não vai deixar herança para o filho. O popular "ele que lute". Costuma funcionar. A inteligente Pitel, que também tem 24 anos no BBB parece ter lutado para conseguir o que queria e é cheia de opiniões sensatas — periférica, de origem humilde e família grande, assistente social, tem uma visão do todo que a tira do centro. Ela vê a sociedade a partir da individualidade de cada um.

A imagem da mãe que faz tudo pelos filhos adultos como se eles fossem crianças volta à minha cabeça quando vejo as postagens do pai de Vanessa Lopes, ex-BBB, que desistiu do programa em janeiro. Ali, ele mostra esporadicamente a evolução psiquiátrica da filha, revelando inclusive que ela não deve se expor muito e precisa se manter mais reservada. Contraditório, no mínimo: se ela precisa ficar reclusa, porque o pai deve postar imagens dela?

No programa, a garota tinha convicção de que o mundo estava girando ao seu redor. Alimentada pelo próprio sucesso nas redes sociais enquanto deveria estar amadurecendo, Vanessa teve dificuldade de lidar com o coletivo no programa e pediu para sair. Ali, fora de casa e longe dos likes, por mais que estivesse em um reality show, a vida era mais real. E, por isso mesmo, não formatada como a gente queria que fosse. Sabemos como é faz tempo. Ela só entendeu ali. E não aguentou, não.

Enquanto o público se irrita com a postura dos 20+ no BBB, eu daqui de fora penso na enrascada em que nos metemos. Não conseguimos arrumar estagiários, porque eles não aguentam o ritmo de trabalho. Não conseguimos tirar do TikTok, porque a vida sem prazer é muito puxada. E vamos assistindo nosso próprio fracasso como educadores, como pais, como chefes. Já viu o reality Geração Z no Perrengue, na Netflix? Se o negócio é passar raiva, corre lá ver.

Urge uma conversa detalhada sobre o uso de redes sociais e eletrônicos e seu impacto no intelecto e saúde mental dos jovens. A turma que descobriu o Facebook e a Farmville em 2008, na primeira infância, está aí mostrando para a gente que o caminho não é o mais saudável. Está na TV, está no escritório, está por todo lado. Pais e mães circulam meio desesperados tentando entender o que é para fazer, sem sucesso. É melhor que a gente, como sociedade, se coloque a pensar. E logo.

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