Em 2009, Geisy Arruda era uma simples estudante do curso de Turismo que decidiu ir à faculdade usando um pequeno vestido rosa. Essa decisão, no entanto, mudou a vida da jovem, que tinha 20 anos na época.
Geisy foi atacada de forma misógina por centenas de colegas da faculdade, sendo alvo de xingamentos e ameaças. Sob gritos de "puta", Geisy precisou ser escoltada para fora da universidade pela polícia.
"Quem chamou a polícia foi um professor porque o perigo iminente deixou de ser só comigo e começou a ser com todos os alunos que estavam na sala", lembra. "A violência poderia ter se tornado física porque eles pulavam a porta, se penduravam na sala. Eu poderia ter sido estuprada --e coisas até piores--, coletivamente", complementa Arruda que, hoje, aos 35 anos, é empresária, atriz e influencer.
Violência sexual pela internet
A violência não terminou ali. Diversos estudantes compartilharam vídeos da estudante com seu vestido rosa curto no Orkut, rede social mais popular entre os brasileiros naquela época. Ela foi alvo de violência sexual pela internet, com a retaliação alcançando níveis nacionais.
Pensando hoje sobre o episódio que mudou sua vida para sempre, Arruda se lembra da vulnerabilidade que sentiu. "Naquele dia eu me senti muito frágil, me senti culpada também. Mas aí eu consegui ver que eu não era culpada por ser quem eu sou", afirma ela.
Ainda hoje, no entanto, as marcas do dia traumático reverberam na vida da ex-estudante de turismo. "Hoje eu sou uma mulher mais madura, mas eu tenho cicatrizes daquele dia e ainda venho lutando contra o machismo até hoje de maneiras diferentes."
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Apesar de ter sido vítima, a faculdade Uniban, de São Bernardo do Campo, emitiu dias depois uma nota pública, divulgada na imprensa, informando que Arruda havia sido expulsa por "uma postura incompatível com o ambiente da universidade".
"Eles fizeram isso sem falar comigo e com a minha família. Eles simplesmente acharam melhor colocar a culpa em mim me expulsando, só que aí a repercussão foi muito negativa. Alguns dias depois voltaram atrás e me convidaram para voltar. Mas não tinha como, e eu acabei optando por processá-los", conta.
Festa de debutante para o vestido rosa
Hoje em dia, o que Geisy Arruda viveu é considerado crime de importunação sexual pela lei 13.718, que tipifica, entre outras, as violações à liberdade sexual. A legislação foi instituída em 2018, nove anos depois da fatídica noite em que ela usou o vestido rosa curto.
Para lidar com o ocorrido, a influencer decidiu dar um tom de humor para a efeméride. Ela reuniu amigos próximos e familiares para uma festa de debutante da peça de roupa.
"Hoje a gente comemora, faz bolo, faz festa, mas só eu sei o quão traumático foi para mim esse dia e o quão triste significa olhar o vestido, pegar no vestido, usar o vestido, então existem traumas ainda, traumas que vão ficar para sempre", afirma ela.
Para ela, trata-se de uma tentativa de ressignificar a lembrança. "Eu costumo dizer que a única maneira de enfrentar o machismo é com sarcasmo, então é uma festa um pouco irônica, é a maneira que eu tenho de ser superior e de mostrar que eu venci a agressão."
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Confira a publicação de Geisy sobre o vestido rosa:
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