"No meio da pandemia era impossível conseguir um PC gamer", diz Samuel Lima, 21. Até recentemente, era comum ouvir a mesma reclamação feita pelo estudante de administração de outros interessados em games. Nos últimos meses, no entanto, o cenário mudou.
Lima conta que, durante a pandemia, precisaria desembolsar cerca de R$ 8.000 para ter um setup gamer. No início de dezembro, ele conseguiu a mesma configuração por R$ 3.900.
Durante a crise sanitária, o setor enfrentou uma combinação de alta demanda com baixa oferta. O resultado foi uma explosão nos preços, também impulsionados pela mineração de criptomoedas -os equipamentos turbinados são usados também nessa tarefa.
Passado o ápice da crise, peças que antes eram encontradas por R$ 12 mil custam hoje um terço disso, R$ 4.000.
Ao mesmo tempo que consolidou o trabalho remoto e incentivou a compra de PCs, a crise restringiu a produção de chips semicondutores no Leste Asiático.
Passados os gargalos de oferta, comentários em grupos de Facebook, canais especializados no YouTube e influenciadores mostram que os entusiastas ou estão comprando um PC gamer pela primeira vez ou já voltaram a atualizar seus componentes.
"Por conta da pandemia, muita gente foi obrigada a entrar nesse mercado, o que fez subir os preços. Mas, quem já era gamer antes da crise, esperou esse boom passar", afirma Luiz Carlos Junior, diretor de conteúdo da Pichau, uma das principais lojas do ramo no país.
Os ecommerces brasileiros observam um revival dos PCs após a estabilização dos preços dos componentes. A Terabyte, por exemplo, viu o número de vendas na Black Friday deste ano quase dobrar em relação à de 2020.
No mesmo período, marketplaces asiáticos como Shopee e AliExpress também ganharam força entre os gamers mais experientes. Isso porque oferecem preços menores, a despeito de prazos de entrega maiores e menos suporte ao consumidor.
Um PC gamer é composto por placa-mãe, processador, placa de vídeo, memória RAM, armazenamento, cooler, gabinete e fonte de alimentação. Para jogar, ainda são necessários mouse, teclado, monitor e fones de ouvido.
O preço depende do tipo de necessidade de cada usuário. Computadores de entrada, que têm desempenho equivalente ao dos consoles PS4, Xbox One e Xbox Series S, custam entre R$ 2.000 a R$ 4.000.
Em máquinas mais poderosas, esses valores correspondem a apenas um dos componentes. Um PC gamer topo de linha, que supera os principais aparelhos da geração atual de videogames, PS5 e Xbox Series X, pode chegar aos R$ 10 mil, e sempre há espaço para mais modificações.
E isso porque os preços baixaram. Segundo a Pichau, durante a pandemia uma placa de vídeo (GPU) de entrada, como a NVidia GeForce GTX 1650, chegou a custar R$ 2.500. Agora, sai por cerca de R$ 1.200.
Uma das melhores GPUs disponíveis no mercado brasileiro, a RTX 3070, custava de R$ 12 mil a R$ 15 mil. Hoje, é vendida por cerca de R$ 4.000. E a redução também ocorreu com processadores e memórias RAM.
Segundo a consultoria Newzoo, o mercado de games deve cair 4,3% em 2022 -a primeira vez que espera uma contração do setor desde que começou a acompanhá-lo anualmente. Isso se deve a uma autocorreção após dois anos de crescimento alavancado pela Covid.
Na divisão por setores, contudo, o mercado de jogos para PC é o único que deve crescer neste ano. A estimativa é de um crescimento de 0,5%, movimentando US$ 40,5 bilhões (R$ 211 bilhões).
O que deve puxar o crescimento do setor é o crescimento de 1,8% do mercado de download de jogos para PC, que representa US$ 38,2 bilhões (R$ 200 bilhões) desses US$ 40,5 bilhões. O mercado de consoles e de jogos mobile (para celular), por outro lado, deve contrair 4,2% e 6,4%, respectivamente.
Isso acontece porque as receitas do segmento não estão ligadas a grandes lançamentos, como no caso dos consoles, segundo Tom Wijman, analista da Newzoo. Por exemplo, enquanto o PS5 atrai jogadores com títulos exclusivos pouco frequentes, como "God of War: Ragnarok", o PC é mais usado para jogos lançados há alguns anos, como "GTA V", "Minecraft" e "Fortnite".
Além dos jogos, a decisão de comprar um PC ou um console, que em alguns casos têm preços equivalentes, é resolvida com base nas necessidades de cada usuário.
"O ideal para o consumidor é ver o que vai atender ele. Se ele usa um PC só para jogar e não tiver muito poder aquisitivo, o ideal seria que ele adquirisse um console. Mas, se for usar para trabalhar, para editar, para fazer streams, o PC gamer faz mais sentido, mesmo que perca um pouco da qualidade da imagem. Mas isso depende de público para público", explica Ivan Rapanos, analista de marketing da Terabyte.
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