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LANÇAMENTO

“Renaissance” de Beyoncé evoca o calor das boates

Queen B está de volta em álbum dançante

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Imagem ilustrativa da notícia “Renaissance”
de Beyoncé evoca o calor das boates camera Beyoncé quer fazer público dançar, mas não no TikTok, com novo trabalho | Divulgação

Beyoncé está de bem com a vida em seu novo álbum, "Renaissance", obra dançante que marca o retorno de uma das maiores estrelas da música pop do planeta, seis anos depois de "Lemonade", seu último disco solo de inéditas. Com 16 faixas, o trabalho, vazado na internet às vésperas de seu lançamento, é uma convocação ao movimento, conversando com o passado e o presente e imaginando o futuro da pista de dança.

"Renaissance" segue o caminho aberto por "Break My Soul", single que antecipou o álbum, calcado na house music dos anos 1990, com um sample do hit "Show Me Love", de Robin S, de 1993, e vocais de Big Freedia. A faixa anuncia uma espécie de libertação. "Acabei de me apaixonar, e acabei de deixar meu emprego", ela canta.

O novo disco é um reencontro de uma das maiores artistas da música contemporânea com seus fãs, já que desde "Lemonade" ela até lançou outros trabalhos, mas todos paralelos à sua carreira solo. O mais celebrado deles foi "Everything Is Love", álbum em parceria com o marido Jay-Z, de 2019, sob o nome The Carters, mas ela também lançou o ao vivo "Homecoming", gravado no festival americano Coachella e o disco "Black Is King", que acompanha o remake do filme "O Rei Leão", da Disney, entre outros projetos.

E mesmo em "Lemonade" Beyoncé não aparecia tão alinhada com a música dançante que a alçou à fama nos anos 2000 -não é à toa que "Break My Soul" tenha sido produzida por Tricky Stewart e The-Dream, mesmo time por trás de "Single Ladies", um dos maiores hits da artista, de 2008. O disco de 2016 até tinha faixas com apelo pop, mas também tocava em temas sociais, como feminismo e racismo -em especial no hit "Formation", com alusões aos Panteras Negras, que a pôs em rota de colisão com forças policiais americanas.

"Renaissance" também reflete um reencontro mais amplo, depois de anos de pandemia e isolamento social, como se anunciasse que o momento é de celebrar e festejar. No novo disco, Beyoncé está disposta a prover a trilha sonora para esses encontros.

Foi mais ou menos o que ela disse à edição americana da revista Harper's Bazaar, no fim do ano passado. "Com todo o isolamento e injustiça do ano passado, eu acho que nós estamos prontos para escapar, viajar, amar e rir de novo. Sinto um renascimento emergindo e eu quero fazer parte disso nutrindo esse escapismo de qualquer forma possível."

Mas, se "Renaissance" marca uma volta ao pop escapista, esse retorno passa longe de ser uma recuperação saudosista dos clássicos da pista que ela enfileirou nos anos 2000. Agora, Beyoncé faz um estudo de um espectro amplo de gêneros que balançam a pista de dança, oferecendo um caleidoscópio de ritmos que se revelam mais ou menos explicitamente ao longo do álbum.

"Renaissance" começa arrastado com "I'm That Girl" e a temperatura vai subindo já na música seguinte, "Cozy", em que Beyoncé fala de amor próprio e diz estar confortável na própria pele -samples de vozes esclarecem que ela está falando de uma pele escura. É uma faixa que estabelece o clima de confiança que domina as letras e o sentimento da Queen B.

"Alien Superstar" cria um clima pop futurista, e a cantora rima como uma MC e sussurra no refrão, enquanto a palavra "único" -numa celebração das particularidades de personalidade- é repetida ao fundo. "Cuff It" conta com a guitarra do lendário Nile Rodgers numa incursão pela música disco que remete ao trabalho de Dua Lipa em "Future Nostalgia".

Em "Renaissance", Beyoncé imagina um pop dançante, cintilante e insolente para uma nova era, feito a partir de disco, house, techno, dancehall, synthpop, afro beats, trap e R&B, entre outros ritmos que se entrelaçam ao longo do disco. "Energy" é a parceria mais explícita da obra, em que a cantora divide o microfone com o cantor jamaicano Beam.

"Church Girl", assinada pelo renomado produtor No I.D., traz um sabor gospel, mas o clima ameno é subvertido por batidas eletrônicas duras e aceleradas. "Plastic Off the Sofa", um R&B suave e levado por um baixo inquieto, surge como um respiro de candura em meio à euforia dançante. Beyoncé fala sobre situações mundanas em que o amor se revela, numa espécie de declaração romântica.

Mas a tranquilidade dura pouco, já que "Virgo's Groove", com um título que faz referência ao signo da cantora, leva o ouvinte de novo ao balanço. Ao longo de mais de seis minutos, Beyoncé distribui harmonias vocais complexas, uma de suas marcas registradas desde a época da banda Destiny's Child, por cima de uma base que poderia ser retirada de uma música do Prince da década de 1980.

"Move", com participação da jamaicana Grace Jones e da nigeriana Tems, se conecta com o pop contemporâneo feito no continente africano em mais um chamado à dança, enquanto "Heated" faz as pontes com o dancehall. "Thique" exala sensualidade e embola elementos do trap com batida de house, ritmo que também aparece em "Pure / Honey", desta vez entremeado em momentos R&B, colagens de samples, arranjos de sopro e coros vocais, tudo guiado pelos vocais versáteis de Beyoncé, emendando rimas em falsetes delicados.

"America Has a Problem" se insinua como um Miami bass -ritmo que está na gênese do funk brasileiro-, mas se transforma num pop com a cara da obra mais clássica de Beyoncé, que lembra o personagem Tony Montana, de "Scarface", e se apresenta durona na letra. Já "Summer Renaissance" encerra o disco evocando a cena ballroom, numa construção que vai crescendo até desembocar num refrão resgatado da clássica "I Feel Love", de Donna Summer -referência da cantora desde pelo menos "Naughty Girl", de 2003-com o guru da disco music Giorgio Moroder, enquanto ela enumera marcas de luxo.

Francamente dançante, "Renaissance" conversa com o corpo numa premissa parecida com o que Lady Gaga fez, com outras referências e estética, no álbum "Chromatica", de 2020. É um álbum com a cara de Beyoncé, com algum nível de autorreferência, mas que também expande o entendimento da cantora em torno do que significa fazer música para dançar.

À beira dos 41 anos, Beyoncé parece se divertir sem se preocupar em se encaixar na cartilha atual da indústria fonográfica, trazendo em "Renaissance" faixas longas e bem distantes do apelo instantâneo do TikTok. "Renaissance" vai muito além da urgência do pop mais farofa, sem contudo negar isso, numa ode à pista de dança feita por uma das maiores conhecedoras de seus mecanismos.

RENAISSANCE

Quando Lançamento na sexta (29)

Onde Nas plataformas de streaming

Autor Beyoncé

Gravadora Sony

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