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HISTÓRIA E CULTURA

Desde 1945! Descubra como surgiram as aparelhagens no Pará

De festas familiares até os grandes shows de pirotecnia que conhecemos hoje, as aparelhagens sempre entregaram o que há de melhor para o público. Conheça a história das máquinas sonoras que são o motor de grandes festas no Estado.

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Imagem ilustrativa da notícia Desde 1945! Descubra como surgiram as aparelhagens no Pará camera As aparelhagens são patrimônio cultural do Pará. | (Rafael Miyake)

Música e tecnologia andam juntas desde o início de suas constituições. Ritmos computadorizados, sons que instrumentos sozinhos não são capazes de alcançar, aparatos visuais sincronizados. Muitos estilos podem ter vindo à sua cabeça, mas nada comparado às festas de aparelhagem.

Criadas entre os anos 1945 e 1950, as aparelhagens surgiram a partir das já conhecidas “rádios-cipó”. Empresários que usavam as “boca de ferro”, como eram chamados esses sistemas instalados em postes de energia elétrica, compraram aparelhos de som e mixagem para as suas divulgações, logo esses aparelhos foram ressignificados e começaram a ser usados em festas comunitárias.

“No interior, nas situações em que houvesse dificuldade de se colocar uma banda ou um grupo musical para se apresentar, as aparelhagens substituíram, e havia até a preferência por alguns mais do que por outros. Com o tempo, esses aparelhos foram sendo cada vez mais requisitados e esses empresários foram acrescentando recursos tecnológicos e acompanhando as novas tecnologias”, explicou o professor Andrey Faro, doutor em antropologia e especialista em Música, Cultura, Identidade e Sociedade na Amazônia da Universidade Federal do Pará (UFPA).

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Ele explicou que, a partir daí, os nomes das festas de aparelhagem começaram a surgir com a necessidade de diferenciação entre os diversos empreendimentos que utilizavam os aparelhos. Entre as principais aparelhagens deste período estão o Rubi, o Calhambeque da Saudade e o Brasilândia, que surgiram em Belém.

“Esses empreendimentos se tornaram uma grande atração. Eles eram não apenas o equipamento que trazia o som para a festa, mas se tornaram uma atração específica, uma espécie de estrela, que as pessoas iam assistir”, contou o professor Maurício Costa, historiador e doutor em antropologia com especialidade em Festa, Lazer, Música e Cultura de Massa também da UFPA.

Maurício Costa é historiador e doutor em antropologia.
📷 Maurício Costa é historiador e doutor em antropologia. |(Reprodução/Arquivo Pessoal)

As aparelhagens eram os Sonoros, os DJs eram, na verdade, duas pessoas diferentes: os Controlistas que, acredite ou não, ficavam de costas para o público, e eram geralmente contratados apenas para cuidar do som de festas locais ou populares, e os Locutores, que comandavam a atração e serviam como uma espécie de mestre de cerimônias.

As festas de aparelhagem só começaram a surgir nos anos 80, e o formato que conhecemos hoje, com os DJs de frente para o público e a grande estrutura, só passaram a existir na virada do século, com o surgimento da Nave do Som do Rubi.

“Isso está ligado diretamente à expansão da música eletrônica nos anos 80, quando as festas foram se tornando cada vez mais juvenis, e nesse momento surgiram também os Bailes da Saudade, enquanto um modelo de festa de aparelhagem, embora já existisse esse tipo de evento”.

Nos anos 2000, então, começou o boom das aparelhagens, com uma grande visibilidade nacional e internacional. A febre, infelizmente, acabou nos anos 2010, mas as grandes aparelhagens já estavam estabelecidas como parte do patrimônio cultural de Belém e do Pará. O professor Andrey explicou também que, nesse período da febre das aparelhagens, as festas deixaram de ser somente um espaço de cultura e sociabilidade da periferia e alcançaram outras classes sociais e espaços do estado.

“Hoje em dia, as aparelhagens entremeiam o dia a dia da cidade. Embora as festas de aparelhagem sejam festas, elas se misturam com o cotidiano urbano”.

Andrey Faro é professor doutro e especialista em música, cultura, identidade e sociedade na Amazônia.
📷 Andrey Faro é professor doutro e especialista em música, cultura, identidade e sociedade na Amazônia. |(Reprodução/Arquivo Pessoal)

Para o professor Antônio, por sua vez, as aparelhagens se constroem em espaços sociais para diferentes grupos, não só pela festa em si, mas também pela identificação desses grupos a partir de músicas próprias das “galeras” e pelas chamadas dos DJs.

A festa de aparelhagem é representativa não apenas em termos musicais. Não é só a música ou a dança que mobiliza as pessoas a participar. Mas também essa celebração coletiva dos laços sociais invocados na festa, que são laços facilmente percebidos por quem é de dentro”.

Por dentro do búfalo

Para quem vive a aparelhagem, a experiência fala além do conhecimento acadêmico. Viver a experiência da aparelhagem “por trás das cortinas” ou, nesse caso, por cima do búfalo, é ter uma nova perspectiva da festa e do que ela representa.

Para o DJ Silvinho, do Carabao, por exemplo, sente a energia do público quando está tocando. “Em cada música que a gente toca, o público tem aquela energia, sente aquela vibração e transmite para a gente, isso é maravilhoso demais”.

De acordo com ele, a seleção das músicas pelos DJs depende do público da festa e do que mais funciona com ele.

As festas de aparelhagem reúnem pessoas de todo o Pará.
📷 As festas de aparelhagem reúnem pessoas de todo o Pará. |(Rafael Miyake)

Segundo o produtor da festa, Marcelo Araújo, é um mês de trabalho e organização para cada festa, em um esforço conjunto entre os funcionários e o contratante da festa. “Tem que ter essa união, essa sincronia. Se não tiver, não funciona”.

Ele explicou, também, que músicas de artistas de aparelhagem e tecnomelody são encomendadas pelas produtoras para divulgação da festa e, geralmente, as aparelhagens trabalham com artistas específicos, como é o caso, no Carabao, da Viviane Batidão.

Mas, para além da música e da festa, as aparelhagens também são espaços de divulgação da cultura paraense e oportunidade de crescimento para pequenos empreendedores. Uma das donas do Carabao, a empresária Andresa Gonçalves, explicou que as divulgações de empreendimentos nos telões são feitas, muitas vezes, de graça, como uma forma de alavancar pequenos empreendedores parceiros.

Ela contou também que considera a aparelhagem um importante instrumento de disseminação de música e cultura paraenses. “A gente torce muito para que a nossa cultura seja ainda mais forte, que ela seja reconhecida pelos outros estados”. O Carabao fez um show para 300 mil pessoas em Macapá, capital do Amapá.

As grandes estruturas e o enorme público das festas de aparelhagem provam que o paraense é, sim, um grande fã da própria cultura e que a cultura popular segue viva e forte como nunca antes.

DJ André Máximo, Andresa Gonçalves e DJ Tom Máximo.
📷 DJ André Máximo, Andresa Gonçalves e DJ Tom Máximo. |(Rafael Miyake)

Equipe Dol Especiais

  • Laura Vasconcelos é reporter do portal Dol, jornalista formada pela Universidade da Amazônia (Unama), nascida em Belém do Pará. É também autora de dois livros de crônicas: "Fugacidade dos dias" (2020) e "A distância" (2022).
  • Rafael Miyake: Rafael é repórter do portal DOL. Nascido e criado em Belém do Pará, é formado em comunicação social com ênfase em jornalismo pela Universidade Federal do Pará. É pós-graduando em Jornalismo Digital pela Anhanguera.
  • Anderson Araújo é editor e coordenador dos conteúdos especiais do Dol. Formado pela Universidade Federal do Pará (UFPA), em 2004, e mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade do Porto (Portugal), em 2022. É também autor de dois livros de contos e crônicas publicados em 2013 e 2023, respectivamente.
  • Thiago Sarame e Vicente Crispino são profissionais multimídias do Dol, que prepararam tecnicamente fotos, áudios e vídeos que dão vida e registram a experiência nesta reportagem.

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