No começo do mês, o Vasco da Gama-RJ resolveu encerrar seu departamento de esportes paralímpicos, um dos mais tradicionais do Rio de Janeiro, em meio a crise causada pela pandemia de Covid-19. Ao todo, 128 atletas e alunos deixarão de ter atividades no clube.
O isolamento social tem trazido muitas dificuldades às agremiações em todo o país. Nesse cenário, os paralímpicos acabam sendo escanteados. No Pará, a referência na categoria, o All Star Rodas, tem uma rotina de exercícios diários para seus atletas que tem sido mantida, mas técnico e atletas reconhecem as dificuldades.
“Muito me preocupa a situação dos atletas. A maioria tem poucos recursos e tenho até dificuldade em ter contato com eles”, observa o técnico e coordenador do projeto, Wilson Caju. Ele ressalta que o All Star vive de patrocínios e apoios, a maior parte de ocasião, não tendo as mesmas condições de clubes mais estruturados.
“Acredito que o isolamento é o correto, temos que pensar na saúde. Mas, as equipes poderiam ter mais apoio, as Ongs que cuidam de idosos, paralisados, autistas, vários segmentos que precisam ser amparados”.
Entre os atletas, a ordem é se manter em forma como der. Mas, a maioria deles depende de aparelhos para o esporte, equipamentos que por causa do tamanho ficam na sede do clube. “Estou treinando em casa com as orientações do (Wilson) Caju. Mas, infelizmente muitos atletas não conseguem treinar por conta do espaço, pois a cadeira de rodas é nosso principal material de treino. Eu utilizo a garagem de casa e lá eu consigo desenvolver os exercícios que mandam pra gente”, observa Davi Pontes, paratleta de basquete em cadeiras de rodas e atletismo.
TREINO POSSÍVEL
Uma das principais atletas paralímpicas do Brasil, especialista em basquete e atletismo, Vileide Almeida ressalta as dificuldades dos treinos sem a cadeira adaptada. “A pedido do (Wilson) Caju, estamos fazendo as atividades em casa. Está bem reduzido e não com a mesma intensidade, mas estamos conseguindo fazer em casa. Tenho feito flexões, abdominais, trabalhos com liga, entre outros. Está sendo difícil fazer a parte do trabalho de cadeira, devido ela ficar no clube”.
Já Rildo Saldanha admite que o dia a dia de treinos requer algumas adaptações para poder fazer os exercícios. “Minha rotina antes da pandemia era bastante intensa então estou treinando em casa em dois períodos, pela parte da manhã treino mais focado em força e potencia, no período da tarde trabalho mais a parte aeróbica”, disse, que elenca algumas dificuldades encontradas. “Acredito que de não só minha, mas de grande parte dos atletas, uma das principais dificuldades nesse momento, está ligado a não ter equipamentos adequados de treino em casa, mas vamos seguindo improvisando, mas sem dúvida a parte mais difícil é o treino psicológico que conseguir manter a rotina de treinos em casa”.
Chances olímpicas existem
Os dias anteriores ao isolamento pela pandemia de Covid-19 foram de busca de índice para os Jogos Paralímpicos de Tóquio. O evento foi adiado para o ano que vem, dando mais tempo para que as vagas sejam conquistadas. Vileide tenta ir ao Japão com o atletismo, mas a possibilidade com o basquete em cadeiras de rodas não está totalmente descartada. “Nós ficamos em terceiro no Parapan, não conseguimos classificação para as Paralímpiadas, eram somente duas vagas. Mas, ainda há possibilidade do Brasil conseguir uma vaga caso um país que ainda não tenha equipe completa de feminino não pode ir”.
Rildo comenta que os dias estão sendo difíceis devido à situação atual. Ele busca os índices nas competições de atletismo. “Um pouco antes da Covid-19 chegar no estado, participei do Circuito Caixa, etapas Norte e Nordeste, e consegui índices para disputar as etapas nacionais e no open na cidade de São Paulo, e que me permitiriam briga por a vagas nas Paralímpiadas”.
O atleta faz um apelo para que a categoria não seja esquecida e tenha mais apoio. “Nesse momento tão complicado para todos, vários clubes e atletas perdendo apoio e patrocínio, e precisamos de toda a ajuda para quando essa fase passar”, finalizou Rildo.
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