Lesionado na reta final da última temporada, Italo Ferreira, 28, trabalhou para chegar ao Mundial de surfe de 2023 com o corpo saudável. Deixar a mente da mesma forma, percebeu ele, era igualmente importante.
Por isso, enquanto tratava do problema no pé esquerdo que o atrapalhou na luta pelo título do ano passado, ele conversou bastante com sua psicóloga, que identifica como "doutora Lu". Em entrevista à Folha, mencionou espontaneamente, repetidas vezes, suas sessões com a profissional.
O potiguar a acionou enquanto fazia sua pré-temporada em Fernando de Noronha. Em momento de lazer, pescou enormes peixes, publicou fotos no Instagram e viu que nem todos aplaudiram a façanha --muitos condenaram a caça marítima.
"Foi o que eu conversei com minha psicóloga: o que tem na internet é tudo fantasia. Você dá importância se quer. Se você tem na cabeça que fez o certo, não vai se colocar em uma posição de se prejudicar. Por que vou dar importância?"
Filho de um vendedor de peixe, Italo fez questão de dizer que sua pesca foi dentro da lei, diferentemente do que acusavam alguns internautas. Em seguida, voltou a se concentrar "no que importa", sua preparação para o Mundial.
O campeonato tem início neste domingo (29), quando se abre a janela para a etapa de Pipeline, no Havaí. Foi nessas ondas que Ferreira conquistou seu título, em 2019, em batalha com Gabriel Medina.
Na tentativa de repetir a conquista, ele precisou se conter na tentativa de voltar a surfar. A lesão em ligamentos dos dedos do pé esquerdo se agravou na final de 2022 --da qual saiu vitorioso Filipe Toledo--, e uma fissura óssea o obrigou a ficar longe do mar por pouco mais de um mês.
"Tempo demais!", disse, na entrevista para esta reportagem e para a doutora Lu.
"Ela está comigo desde criança. Tem me dado um pouco mais de força nos últimos anos, porque é muita coisa para pensar, para levar. Não sou muito de falar o que estou sentindo, o que estou pensando. Com ela eu consigo desabafar um pouco e falar o que está dentro de mim. Ela consegue me ajudar e mudar alguns pensamentos", afirmou.
O que não mudou foi sua contrariedade com o formato adotado pela WSL (Liga Mundial de Surfe) desde 2021. Em vez de uma disputa por pontos corridos, como ocorria tradicionalmente, agora o campeonato é resolvido em uma batalha final entre os cinco primeiros do ranking.
As duas competições definidas na nova fórmula tiveram a etapa do troféu em San Clemente, nos Estados Unidos, um tipo de onda que não é particularmente bom para o potiguar. Terceiro em 2021 e segundo em 2022, ele terá de superar a irritação, pois a decisão será no mesmo local na temporada 2023.
"Eu sempre falo que uma hora a bola entra. Eu estou ali no topo, realmente disputando, é algo que exige muita energia. Tenho uma nova chance de disputar o título mundial e estou realmente focado 100%, muito determinado para isso", disse.
Determinado, o intenso Italo se incomodou com a dificuldade para treinar e acertar as pranchas nas concorridas ondas de Pipeline nas últimas semanas. Além dos surfistas da elite, a praia tem muitos locais disputando o espaço.
"Realmente, exige muita paciência. Estava falando com minha psicóloga. Ela disse: 'Você tem que pensar que já venceu aí, já tem experiência. Entra na água, analisa o mar, isso automaticamente vai lembrá-lo de tudo o que viveu'. É só aplicar agora", afirmou.
É o que ele tentará fazer a partir deste domingo. O campeão mundial --e primeiro campeão olímpico da história do surfe-- assegura estar forte, no corpo e na mente, para executar seus famosos aéreos: "Estou voando".
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