Se em muitos estados as competições locais, os chamados Estaduais, perderam muito do encanto que tinham em função de sua limitada lucratividade aos seus participantes, no Pará, o campeonato segue com o mesmo vigor de sempre. Não que a disputa garanta tantos cifrões aos participantes, mas, sim, pela força de sua rivalidade e tradição. Por conta desses fatores, ficar mais de um ano sem levantar o troféu de campeão no plano local já é motivo de preocupação e, mais ainda, insatisfação por parte do torcedor. Pois é o que vem acontecendo com o torcedor do Paysandu, que há duas temporadas não festeja o título do Parazão.

A insatisfação da Fiel é ainda maior pelo fato de as duas temporadas - 2018 e 2019 - terem sido comemoradas pela torcida do maior rival, o Clube do Remo, e este ano o clube sequer ter chegado à decisão, fechando sua participação no campeonato na 4ª posição. E não é só. Com o bicampeonato, o tradicional adversário passou a ameaçar mais de perto a liderança isolada do Papão no ranking de campeões locais: 47 a 46 títulos. Marca que pode cair em 2020, caso o Leão venha a festejar o tricampeonato, o que deixaria os titãs locais em pé de igualdade na somatória de campeonato.

A ameaça faz com que aumente a exigência do torcedor bicolor para a montagem de um time forte, capaz de voltar a dar alegria à Fiel e, ao mesmo tempo, brecar a disparada do arquirrival rumo ao topo da lista dos maiores campeões locais. A liderança em títulos estaduais há algum tempo é motivo de ufanismo por parte dos simpatizantes do Papão, que não cansam de lembrar que o clube só foi fundado 9 anos depois do maior rival e ainda assim lidera a contagem de campeonatos. Diferença está cada vez mais curta, o que representa um fantasma que o torcedor alviazul espera ver afastado do clube o mais breve possível.

Ainda que descontentes com as duas últimas participações do time no Parazão, o torcedor do Paysandu tem pelo menos um alento. O clube divide com o Rio Branco, do Acre, a terceira colocação no ranking dos clubes brasileiros com maior número de conquistas locais. A liderança segue sendo do ABC-RN, que soma 55 conquistas do Campeonato Potiguar, seguido pelo Bahia-BA, detentor de 48 campeonatos, vindo depois Papão e Estrelão, apelido da equipe acreana, com 47 títulos.

Mas para começar bem mesmo 2020, o torcedor do Paysandu, mesmo o menos exigente deles, não abre mão de voltar a ver o seu time como campeão local, independente do Parazão render ou não rios de dinheiro. O que continua valendo mesmo por aqui é a acirrada rivalidade, cantada em prosa e verso em todos os cantos do país.

OS RECORDISTAS ESTADUAIS

l ABC-RN - 55 títulos

l Bahia-BA - 48 títulos

l Rio Branco-AC - 47 títulos

l Paysandu - 47 títulos

l Clube do Remo - 46 títulos

l Ceará-CE - 45 títulos

l Internacional-RS - 45 títulos

l Atlético-MG - 44 títulos

l Nacional-AM - 43 títulos

l Fortaleza-CE - 42 títulos

l Sport Recife-PE - 42 títulos

l CSA-AL - 39 títulos

l Grêmio-RS - 38 títulos

l Coritiba-PR - 38 títulos

l Cruzeiro-MG 38 títulos

Um bom começo de ano é fundamental

Para o torcedor acostumado a ver seu time levantar o troféu de campeão, alguns de competições de grande relevância, como o da Série B do Brasileiro e da Copa dos Campeões dos Campeões, por exemplo, é mesmo duro passar um ano inteiro sem poder soltar o grito de campeão. Pois foi o que aconteceu este ano com o simpatizante bicolor, que viu seu time cair nas quatro competições que disputou - Parazão, Copa do Brasil, Série C do Brasileiro e Copa Verde. Nem mesmo no, teoricamente, mais fácil deles, o Estadual, o Papão conseguiu sequer chegar à final, ficando na 4ª colocação na classificação geral.

Com tantos tropeços em 2019, com o time chegando perto do acesso à Série B e do título da Copa Verde, que seria o terceiro da história do clube, soa natural a exigência do torcedor do Papão, que não abre mão de ver o Papão campeão estadual de 2020. É a única maneira, dizem os torcedores, de a equipe iniciar a próxima temporada de bem com a Fiel. “Não dá para tolerar três anos seguidos sem vencer o campeonato”, afirma Leomir de Souza Rodrigues, de 47 anos. “Só o torcedor que frequenta estádio, apoia o time, como é o meu caso, é que sabe o quanto é duro encarar tantos insucessos”, salienta.

A conquista local pode até não representar tanto, levando em conta a importância de um acesso no Brasileiro ou mesmo uma boa participação na Copa do Brasil, mas para muitos torcedores ela é uma espécie de aperitivo para grandes comemorações. “Dificilmente o time que vai mal no Estadual consegue fazer sucesso em competições mais importantes”, acredita Elielton Santana Marques. “A conquista do Estadual, no meu entendimento, serve para colocar ‘pilha’ no time e ver onde o grupo precisa de reforços, além de motivar o torcedor e aumentar a disputa com o maior rival”, acredita o torcedor.

E MAIS...

 Em apenas uma vez, em 2005, o jejum bicolor de dois anos sem título foi encerrado com derrota imposta ao grande rival. Nas demais temporadas, o Papão decidiu com equipes do interior, batendo o São Raimundo (2009), Paragominas (2013) e São Francisco (2016). A temporada do ano que vem se apresenta com o grande desafio para, mais uma vez, o time bicolor colocar água no chope do tricampeonato do maior rival, só não se sabendo se em um novo Re-Pa decisivo ou se diante de uma equipe do interior.

 Da última vez em que foi campeão, após jejum de duas temporadas, o Paysandu foi dirigido pelo técnico Dado Cavalcanti. A decisão de 2016 teve como palco o Mangueirão, onde o Papão derrotou o São Francisco, por 2 a 1, gols de Fernando Lombardi e Fábio Alves, com Andrelino descontando para a equipe santarena. A equipe bicolor formou com Émerson; Ronyeri (Rodrigo Andrade), Fernando Lombardi, Gualberto e Lucas; Ricardo Capanema, Augusto Recife, Raí (Raphael Luz) e Celsinho; Fabinho Alves e Leandro Cearense (Betinho).

GRANA

Financeiramente é interessante, sim

Da mesma maneira que o torcedor comum do Paysandu, o presidente do clube, Ricardo Gluck Paul, não abre mão de ver o time bicolor voltar a triunfar no Parazão na próxima temporada, depois de amargar a perda da disputa nos dois últimos anos. “A responsabilidade, com toda a certeza, é muito maior. É obrigação de nossa equipe voltar a vencer o campeonato local. Não dá para ficar três anos seguidos apenas disputando o Parazão sem chegar ao objetivo principal, que é o título”, afirma Gluck Paul, que não vê a competição local como um estorvo no caminho dos clubes.

O dirigente se diz completamente contrário à ideia de se acabar com o Estadual, como é sugerido por muita gente do meio esportivo. “Acho que o campeonato deve ser mantido, agora precisamos brigar para que ele ganhe um maior atrativo”, recomenda Gluck Paul, sugerindo o modelo adotado pelos clubes da região Nordeste, que criaram a Copa do Nordeste, tendo os seus respectivos estaduais como uma espécie de trampolim para a participação dos times em uma competição de maior envergadura, como é o torneio interestadual.

A alegação daqueles que são favoráveis ao fim dos Estaduais, por se tratarem, na maioria dos casos, de campeonatos deficitários, segundo o presidente, não se enquadra à realidade do Parazão. A competição, salienta o dirigente, chega a ser até mais viável, financeiramente, que a Terceira Divisão do Brasileiro, competição que é disputada pelo Paysandu. “A Série C não paga nada. Nem patrocínio e nem transmissão. O Estadual paga os dois. O que acontece é que na Série C são mais jogos e, consequentemente, os clubes têm mais renda. Mas, tanto para o Paysandu quanto para o Remo, o Parazão não é deficitário”, explica o dirigente.

Foto: Fernando Torres

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