Graduada em Comunicação Social pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e pós-graduada em Comunicação Integrada no Centro de Pós-Graduação da Escola Superior da Amazônia, Mayra Leal apresentou há quase duas semanas a dissertação de mestrado na UFPA intitulada “Torcida, Substantivo Feminino: interações e relações de gênero nas torcidas do clássico Remo x Paysandu”. Por mais de um ano ela frequentou os clássicos Re-Pa no Mangueirão se inteirando com as torcidas para pesquisar o universo feminino nesse recorte da sociedade paraense e brasileira.

No trabalho, aprovado sem ressalvas ou correções, Mayra mostra um pedaço desse universo de provações, cobranças, assédios das torcedoras nos estádios. Embora a dissertação não tenha sido necessariamente sobre esse tema, as violências institucionalizadas eram constantes. Ela ressalta, por exemplo, a necessidade constante de quase todas serem cobradas de uma forma que os torcedores homens nunca passam.

“O machismo é naturalizado. Existe uma postura das mulheres terem, a todo o tempo, se firmarem como torcedoras, mostrarem que entendem de futebol. O homem não é questionado por estar no estádio, nunca é cobrado por isso”, conta.

No resumo de sua dissertação, Mayra observa que no trabalho há “o objetivo de analisar como as questões de gênero se manifestam nas interações constitutivas do ser torcedora destes clubes (Papão e Leão) e nas performances das torcidas do clássico”.

Tanto os dois grandes da capital quanto alguns clubes do interior já possuem torcida exclusivamente feminina, ou alas só de mulheres nas torcidas organizadas tradicionais. São movimentos das próprias mulheres em busca de maior proteção e tranquilidade para poderem torcer em paz. Ainda assim, muitas delas ainda não se sentem à vontade no meio da galera.

“Existe um movimento forte de que o espaço do estádio é legítimo para as mulheres, embora ainda haja a necessidade de se afirmar. Embora em qualquer espaço a mulher ainda precisa sempre ficar se provando, seja no trabalho ou num estádio de futebol”, disse. “Uma mulher que enlouquece numa arquibancada está sujeita a reprimendas, ao passo que aquilo é normal para um homem. É um comportamento normal de uma arquibancada”, completa Mayra.

Trabalho foi feito com base em entrevista de oito torcedoras e pesquisou as relações de gênero nas torcidas Foto: Arquivo Pessoal

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