Em outros tempos talvez não fosse uma marca tão expressiva assim. Numa era em que atletas defendiam por anos e anos uma mesma camisa, atingir 100 partidas era apenas uma parte natural do processo. Mas, hoje em dia, no futebol dinâmico que se estabeleceu, um jogador como Eduardo Ramos chegar a atingir essa marca causa espanto. Especialmente sendo um jogador que acumula polêmicas e conquistas. O próprio jogador não sabe dizer se ultrapassou a marca em outros clubes na carreira.

“Talvez no Náutico, onde joguei por 1 ano e sete meses direto, mas não cheguei a contar o número de jogos. Fora isso, com certeza, no Goiás, onde atuei por muitos anos, mas nas divisões de base. No futebol profissional isso é uma coisa que está ficando cada vez mais rara e fico feliz de chegar aqui no Remo. Que venham os 150, 200, 300... O quanto o meu corpo permitir”, comentou o camisa 10 azulino.

Eduardo causou polêmica desde a chegada. Mas, nesse caso, não por culpa própria. Atleta chave do projeto Camisa 33, que acabou não decolando como o esperado, o jogador foi vítima das expectativas muito altas que criaram em torno do nome do jogador que assumiria a tal camisa e, na sua apresentação, em um amistoso contra o Londrina-PR, recebeu vaias.

De lá pra cá, conquistou dois títulos estaduais e o sonhado acesso da Série D para a C, onde foi um dos protagonistas. Ganhou o carinho da torcida com essas jornadas. Posteriormente, seria cobrado por não ser tão decisivo nas jornadas pouco produtivas em 2016, inclusive com sua candidatura a vereador (que não teve êxito) sendo vista como oportunista.

Em 2017, começou longe, retornou ao clube no Parazão e marcou um gol de empate num Re-Pa aos 49 do segundo tempo. Parecia um retorno aos melhores dias, mas supostos problemas extracampo e desentendimentos com o técnico Josué Teixeira o afastaram do time. Quando parecia que sua história no Leão havia acabado, voltou na Série C, jogando como titular de cara e sendo fundamental em campo. Ame-o, odeie-o, o fato é que Eduardo Ramos está aí já há 100 jogos. E que se há uma coisa que não se pode fazer com ele é ignorá-lo.

A relação entre o maestro e o Leão Azul é marcada por um turbilhão de emoções

Quando retornou ao Remo, ainda durante o Parazão, a contagem de jogos de Eduardo Ramos já era alta e alguns torcedores e o marketing do clube começaram a prever a chegada ao número 100. A dispensa às vésperas do jogo decisivo da semifinal contra o Independente de Tucuruí, veio como um balde de água fria. O atleta deixou de frequentar o clube, tentou um distrato legal cobrando os valores que o clube ainda lhe devia – cerca de R$ 3 milhões. O clima ficou pesado, parecia um caminho sem volta. Mas não foi. Após negociações, os ânimos serenaram.

O jogador retornou e, curiosamente o mesmo técnico Josué Teixeira, que chamou coletiva de imprensa para anunciar sua dispensa, o colocou como titular. Josué saiu, mas o jogador afirma que não guarda mágoa. Parte da torcida, no entanto, até hoje não perdoa o atleta. “Felizmente as coisas que precisavam ser resolvidas foram e, hoje em dia, é bola pra frente. Futebol é assim. Altos e baixos muito próximos às vezes. Uma hora está tudo bem, você é endeusado, na outra todo mundo reclama e quer até brigar. Vamos continuar trabalhando, como sempre fizemos, para trazer a torcida pro nosso lado”, comenta o jogador. Apesar da mágoa de parte da torcida, Eduardo diz que as reações de carinho são as mais numerosas. E o que mais o motiva. “Isso é o que de mais bonito tem no futebol, você receber a paixão do torcedor. Me disseram que há um menino Eduardo nascido depois que eu cheguei. Estávamos na época do jogo decisivo contra o Operário-PR, na Série D 2015, e a esposa dele estava grávida de 8 meses. Depois disso eles decidiram chamar o garoto assim em minha homenagem. Ainda não tive a felicidade de conhecer ele, mas espero conhecer”, relembra o atleta, que elege a campanha da Série D como seu ápice no Leão até aqui.

Quem sabe um acesso à Série B, este ano, não muda isso?

(Taion Almeida)

MAIS ACESSADAS