Nos bastidores das grandes competições esportivas, muito além do glamour das arenas e do brilho das medalhas, há histórias que refletem desafios e superações que transcendem o esporte. Em cenários onde a resiliência se torna tão vital quanto a habilidade física, surgem narrativas que destacam o poder da determinação humana em meio a adversidades. Essas histórias, muitas vezes invisíveis ao olhar do público, revelam a luta silenciosa daqueles que encontram no esporte uma forma de resistência, esperança e expressão em contextos de extrema dificuldade.
É nesse cenário que surge Fadi Deeb, um atleta paralímpico palestino de 39 anos que, enquanto treina arduamente em Paris para os Jogos Paralímpicos, carrega consigo não apenas o sonho de conquistar pódios, mas também a dor e a esperança de um povo marcado pela guerra. Com uma bandeira da Palestina nas mãos, Deeb expressa sua determinação em mostrar ao mundo que seu povo ainda resiste, mesmo diante da destruição. "Estou aqui em Paris para levantar minha bandeira e mostrar que a Palestina não está morrendo," afirma Deeb, em entrevista ao portal da rede de notícias France 24, destacando a resiliência de sua nação.
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Deeb é o único representante de Gaza nos Jogos Paralímpicos e carrega a dolorosa experiência de ter perdido mais de 15 membros de sua família, incluindo seu irmão, durante o conflito entre Israel e Hamás. Sua participação nos Jogos não é apenas uma questão pessoal; para ele, é uma missão em nome dos milhares de palestinos que perderam suas vidas ou foram feridos durante a guerra. Desde os ataques de 7 de outubro, que intensificaram o conflito em Gaza, cerca de 400 atletas e membros de equipes de apoio foram mortos. Outros tantos não conseguiram treinar ou viajar devido aos bombardeios e às restrições impostas por Israel, de acordo com o Comitê Olímpico Palestino (COP).
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Natural de Shuja'iyaa, um distrito na cidade de Gaza, Deeb começou sua trajetória no esporte aos 10 anos, sob a orientação de Mohammed Elshekh Khalil, professor de educação física e árbitro internacional. Inicialmente, Deeb se destacou em várias modalidades, como futebol, voleibol, basquete, tênis e vôlei, chegando a competir por clubes locais. Aos 16 anos, ele integrou a equipe palestina de vôlei de Gaza, marcando o início de uma carreira promissora.
Porém, a vida de Deeb mudou drasticamente em 2001, durante a Segunda Intifada, quando foi atingido por um atirador israelense, ficando paralisado aos 17 anos. Mesmo diante dessa adversidade, Deeb decidiu que sua vida não estava encerrada. "Na cultura árabe, temos uma expressão que diz 'você deve ser como a água', o que significa que você precisa ser flexível, nada pode te parar," diz Deeb, explicando como sua fé e mentalidade positiva o ajudaram a se adaptar ao esporte adaptado. Ele migrou para modalidades como o basquete em cadeira de rodas e o tênis de mesa, e mais tarde começou a competir em eventos de arremesso de peso, disco e dardo, conquistando seis medalhas nos encontros internacionais de Túnis.
SÍMBOLO DE ESPERANÇA E REPRESENTATIVIDADE
Apesar dos desafios, como a falta de equipamentos adequados em Gaza, onde às vezes treinava com pedras ou peças de metal, Deeb persistiu. Agora, competindo em Paris 2024, ele representa não apenas seus próprios sonhos, mas também as esperanças de muitos palestinos que o veem como uma voz em um cenário global.
Além de sua carreira como atleta, Deeb também dedica tempo a treinar jovens com deficiência em Paris, através da associação Paris Basket Fauteuil. Ele acredita firmemente na importância de compartilhar seu conhecimento e apoiar pessoas de diferentes culturas e religiões, mostrando que a deficiência não impede ninguém de desenvolver talentos e alcançar grandes feitos. "Você pode usar sua deficiência para descobrir um talento. Não pense que sua vida acabou por causa disso; somos iguais a qualquer outra pessoa," afirma Deeb, que frequentemente realiza workshops em escolas e universidades para conscientizar o público sobre a vida dos deficientes.
MUITO ALÉM DO ÂMBITO ESPORTIVO
À medida que os Jogos Paralímpicos se aproximam, Deeb está ciente de que sua participação vai além do âmbito esportivo. Ele compete em nome dos mais de 40 mil mortos e 90 mil feridos em Gaza, recebendo diariamente mensagens de apoio de seus compatriotas. Deeb, que se comunica constantemente com amigos e familiares, carrega o peso de representar uma nação que luta por reconhecimento e justiça.
Mesmo após a recusa do Comitê Olímpico Internacional em excluir Israel dos Jogos, Deeb questiona o que os atletas israelenses pretendem mostrar ao mundo. Ele vê sua participação como uma forma de protesto silencioso e um lembrete ao mundo sobre a situação de seu povo. Com uma final de arremesso de peso marcada para 30 de agosto, Deeb espera que sua performance nos Jogos Paralímpicos envie uma mensagem poderosa: "Os palestinos têm esperanças, têm sonhos, e só querem ser tratados com a mesma dignidade e direitos que os outros povos."
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