O futebol é um território de paixões extremas, onde a linha entre o apoio incondicional e a pressão insuportável muitas vezes se torna tênue, e já não fica possível diferenciar uma situação da outra. Em um clube de massa como o Paysandu, o peso de sentar na cadeira da presidência vai muito além da gestão administrativa, andando lado a lado com situações distintas: o amor da torcida para os tempos de glória, ou a pressão sufocante quando o clube enfrenta períodos de turbulência.
Na Curuzu, a missão de conduzir o Papão acabou se tornando um fardo para o agora ex-presidente Roger Aguilera, que anunciou sua renúncia ao cargo nesta segunda-feira (22), em meio à uma crise finaceira e semanas após o clube viver a pior temporada da história em uma Série B, com apenas cinco vitórias e um rebaixamento antecipadamente como lanterna da competição.
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O dirigente, que havia sido eleito para o biênio 2025-2026, publicou uma carta de renúncua em que mencionou ter abdicado de sua família e saúde pelo clube, mas admitiu que os objetivos não foram alcançados. Além do fracasso esportivo, a gestão deixa um rastro de cerca de 14,6 milhões de reais em ações trabalhistas movidas por ex-jogadores.
Não foi o primeiro caso
A saída precoce de um mandatário, embora impactante, encontra um precedente amargo na história alviceleste, pois Roger Aguilera foi o segundo presidente na história do Paysandu a renunciar ao cargo. O primeiro a tomar essa atitude foi Sérgio Serra, em julho de 2017. Assim como Aguilera, Serra não completou o seu mandato e sucumbiu a um ambiente de extrema hostilidade.
Engenheiro elétrico de profissão, ele havia assumido em janeiro daquele ano, após ser vice-presidente nas gestões de Vandick Lima e Alberto Maia, mas sua trajetória foi interrompida após apenas seis meses no comando.
Saída sob ameaças
Diferente da crise técnica e financeira que sufoca o clube atualmente, o estopim para a saída de Sérgio Serra em 2017 foi um episódio de violência direta e ameaça de morte. Na época, Serra afirmou que em um domingo à noite, quando passeava com sua esposa e seu filho em uma praça de Belém, dois homens em uma moto o abordaram e um deles encostou um revólver no rosto de Serra. O dirigente afirmou que o criminoso ameaçou acabar com a vida do presidente e de seus familiares caso o Paysandu fosse rebaixado para a Série C.
Abalada pelo trauma, a família de Serra posicionou-se de forma enfática sobre o ocorrido. Após o ocorrido, aua irmã desabafou nas redes sociais classificando o futebol como um ambiente contaminado e lamentando o desperdício do talento de seu irmão em um meio que ela definiu como "coisa de bandido". Ela destacou que Sérgio era um idealista que sacrificou tempo precioso com a família por um clube que era sua paixão de infância, mas que a segurança dos seus entes queridos precisava vir em primeiro lugar.
Após sofrer a ameaça, Sérgio Serra renunciou o cargo de presidente e se mudou de Belém. O conselho do clube e outros dirigentes manifestaram solidariedade ao homem e sua família, repudiando a covardia que vitimou o profissional.
Serra retornou ao clube em 2018, eleito como o mais votado para o Conselho Deliberativo bicolor, e em 2021 assumiu as categorias de base do Paysandu.
Dois momentos, duas crises
Ao comparar os dois momentos, percebe-se que as renúncias de Serra e Aguilera ocorreram sob o peso de campanhas deficitárias na Série B e instabilidade política. Em 2017, mesmo com a conquista do título estadual, a torcida não aprovava a gestão de Serra devido à eliminação na Copa Verde e à insistência com contratações que não apresentavam qualidade. Naquele período, o grupo Novos Rumos, que havia trazido esperança de profissionalismo ao clube anos antes, começava a demonstrar sinais de racha interno e rivalidades que prejudicavam o trabalho.
Já em 2025, a crise sob Roger Aguilera apresenta contornos financeiros muito mais graves, com o clube enfrentando um colapso administrativo com um passivo trabalhista que chega a 14,6 milhões de reais, envolvendo atrasos de salários, direitos de imagem e FGTS de diversos atletas, além de uma temporada desastroda que encerrou com o rebaixamento à Série C.
Em ambos os casos, a renúncia foi vista como uma tentativa de abrir caminho para uma renovação e aliviar o clima insustentável na Curuzu. Assim como Tony Couceiro assumiu o lugar de Serra em 2017, o Paysandu agora passa a ser presidito por Márcio Tuma em uma tentativa de reerguer a instituição após a pior campanha de sua história na era dos pontos corridos.
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