Constituída por quatro séries, a exposição multimídia “Miro lo que Pasa” faz uma conexão entre desenhos, textos e vídeos sobre a vida urbana da cidade de Belém do Pará. Trata-se da primeira mostra individual do artista visual Elton Galdino,que abre à visitação nesta sexta-feira, 14, na Galeria Ruy Meira, na Casa das Artes.

A obra foi contemplada no ano passado com o Prêmio de Produção e Difusão Artística da Fundação Cultural do Pará (FCP). Com curadoria de Luana Peixe e Romário Alves, “Miro lo que Pasa” quer inspirar as pessoas a refletirem sobre a ocupação de espaços da cidade, diz o artista. “Estou fazendo essa exposição para que as pessoas se sintam representadas para ocupação de territórios. Eu sou educador de jovens e artistas, então vejo como uma vitória o fato de ocupar esses espaços de Belém. Todo trabalho que faço é para algo que vai além de ego enquanto artista”, diz.

O título da mostra, em espanhol, conta Elton, tem um sentido bilateral, fruto de sua arte, que contempla, que escuta e que é capaz de perceber o cenário à sua volta com um olhar artístico, em meio ao caos urbano. “Eu brinco com esses dois significados, tanto no espanhol quanto no português. Essas palavras têm um significado em espanhol, mas em português têm outro significado, que em tradução direta poderia ser: “Observo o que acontece”. Mas se formos parar para pensar, essa expressão deve nos sugerir a pensar no momento de inspirar o desenho, ela me faz pensar ‘espero que as cenas aconteçam para que eu as pegue’”, explica.

EXPOSIÇÃO

A confusão do ambiente urbano e suas paisagens, entre rios e palafitas, formam o corpo das séries de Galdino, que trazem em sua composição as casas abandonadas, as multidões. Sob o olhar do artista, esses elementos ganham conotações poéticas do ser que habita esse espaço. “A exposição é um compilado dos últimos dez anos, desde o período em que entrei na universidade. A maioria das coisas que estão lá, nunca tinha pensado em expor. Mas no decorrer do tempo, fui começando a perceber que uma coisa tinha relação com outra. São desenhos relacionados a fatos urbanos, desde anotações a rascunhos de coisas que acontecem no cotidiano”, detalha.

Elton diz que não tinha pretensão de que as peças resultassem em exposição. “A maioria deles não foi pensada para isso. Depois achei que dava para fazer uma construção narrativa juntando as peças. De repente, na fila da padaria, tinha algo que poderia resultar em desenho. Também são relatos pessoais, a partir de cadernos artesanais e colagens”, conta.

Na obra “Cadernos”¸ Elton expõe doze cadernos artesanais com desenhos, escritos e colagens que narram viagens e percursos cotidianos. A série “Avulsos” é composta de mais de 70 desenhos, rascunhos e anotações em papéis de diversos formatos.

Filho de família nordestina, Elton Galdino carrega consigo a história e os questionamentos de sua origem, e essa sensação de estranheza surge em seus desenhos, que são a base da exposição. Em Belém, ele traça um diálogo com outros destinos que visita. Em “Mora Dias”, são representadas seis casas, três da ocupação Emanuel Guarani Kaiowá, em Belo Horizonte (MG), e três casas da Cidade Nova, em Ananindeua (PA), que estão em processo de abandono. O trabalho traz questões sobre habitação e especulação imobiliária, que fazem muitas famílias não terem onde morar, embora haja muitas casas abandonadas à ação do tempo.

Em “Foto-vídeo-processo”, uma série audiovisual, o artista se coloca como desenhista em meio à calçada e, nos ônibus, faz do mundo seu ateliê.

Foto: Divulgação

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