Interligando dois importantes largos que marcavam a paisagem da capital paraense ainda no início de sua formação, os antigos Largo do Palácio e Largo de São João, a pequena rua que hoje recebe o nome de Dona Tomázia Perdigão já foi curiosamente chamada de Ilharga do Palácio, por se situar ao lado do antigo Palácio dos Governadores, obra do arquiteto Italiano Antônio Landi e que hoje abriga o Museu do Estado do Pará. Em uma breve visita à rua estreita e ainda marcada pela forte presença de casarões históricos, é fácil perceber a referência.
A mudança do nome da via de Ilharga do Palácio para Rua Dona Tomázia Perdigão ocorreu ainda no século XIX, em 1895, e é exemplo de uma tradição destacada pelo historiador Ernesto Cruz, a de homenagear figuras ilustres da cidade dando seus nomes a ruas da capital paraense.
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No livro, Ernesto aponta que o nome é uma homenagem “à venerada senhora Tomázia Perdigão, mãe de Paulo Maria e Marcelino Perdigão, ambos figuras destacadas da Câmara Municipal de Belém, no agitado período da Cabanagem”.
A historiadora e antropóloga Dayseane Ferraz destaca que, quando se analisa a história da formação da cidade de Belém, também é importante considerar a organização desse território como uma disputa pelas memórias que se perpetuariam através da nomenclatura das ruas e travessas.
“É interessante que a gente pense que a Tomázia Perdigão era uma das senhoras das elites da vivência política de Belém e os filhos, em sessão da Câmara Municipal, tomaram a defesa do nome da rua como Tomázia Perdigão”, reforça.
“Esse é um traço importante para se considerar, as ruas delegando nome de pessoas influentes. A história da cidade é também um território dessas disputas pela memória de quem vai ficar no panteão da história. Você não vai ter o nome de um ‘cidadão comum’ batizando as ruas”.
Nesse sentido, Dayseane considera que é importante historicizar os nomes que são dados às ruas e que tanto são repetidos no cotidiano da população, pensando que a mudança ocorre a partir da demanda política e da demanda pública. “Então, quando a gente pensa a história das cidades a partir dessa disputa de qual memória vai ser elencada, a gente compreende esse outro aspecto da formação histórica”.
Rua liga obras de Antônio Landi
Outra característica evidenciada pela Rua Tomázia Perdigão diz respeito à própria forma de organização do espaço urbano ainda no início da formação da cidade de Belém, quando seus traçados urbanísticos partiam dos chamados largos, lugares amplos que se configuravam como espaços de sociabilidade das cidades e que normalmente abrigavam instalações oficiais ou de congregações religiosas.
A rua em questão faz a ligação entre dois importantes largos da época do período colonial de Belém, o Largo do Palácio, que hoje é a Praça Dom Pedro II, e o Largo de São João, que se estabelecia em frente à Igreja de São João Batista.
Reforçando a importância histórica e patrimonial que a via mantém para a cidade de Belém, a Rua Dona Tomázia Perdigão inicia e termina em duas grandes obras do arquiteto italiano Antônio José Landi, responsável por grandes transformações no cenário da Belém ainda em formação da segunda metade do século XVIII.
Seu início, na ilharga, é marcado pela presença do Palácio do Governo (hoje Museu do Estado do Pará), e o seu término se dá em de frente para a Igreja de São João Batista, uma das primeiras igrejas de Belém. Apesar das grandes modificações sofridas na via ao longo dos séculos, ainda hoje é possível contemplar e visitar tais construções, assim como avistar os vários casarões históricos que se alinham ao longo da rua e que hoje, em sua maioria, abrigam órgãos públicos.
MARCOS
Chamada inicialmente de Ilharga do Palácio, a Rua Dona Tomázia Perdigão inicia na lateral do antigo Palácio do Governo e finda de frente para a Igreja de São João Batista, grandes marcos históricos da cidade de Belém. Saiba um pouco mais sobre eles.
- Palácio do Governo
Foi construído para ser a sede administrativa e residência dos governadores da capitania. Para esse palácio, foram realizados três projetos do arquiteto italiano Antônio Landi. Assim que ele terminava um projeto, tinha que enviá-lo para a Corte para ser aprovado e esperar voltar a Belém.
O terceiro projeto, que detém maior número de detalhes, tem dezessete desenhos. A construção do Palácio durou três anos, tendo sido iniciadas em 1768. De características monumentais, o palácio tinha dimensões maiores do que o Palácio do Governador Geral de Salvador e o do Rio de Janeiro. Hoje, o palácio abriga o Museu Histórico do Estado do Pará (MHEP).
- Igreja de São João Batista
Foi uma das primeiras igrejas de Belém. Antes de Antônio Landi chegar à então capital do Grão-Pará, a igreja era feita de taipa e coberta de palha, tendo sido construída pelo Capitão-Mor do Grão-Pará, Bento Maciel Parente.
A igreja que o arquiteto italiano desenhou é, portanto, a terceira versão da igreja. Entre os destaques da construção estão o desenho de composição das quadraturas feitas por Landi, técnica artística de desenho arquitetônico em perspectiva aplicado na parede que produz uma sensação visual de tridimensionalidade.
Ainda hoje, as quadraturas podem ser vistas na Igreja de São João Batista, tanto no altar principal, como também nos dois altares laterais da igreja.
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