Deltan Dallagnol, procurador da República e coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, montou um plano de negócios de eventos e palestras para lucrar com a fama e contatos obtidos durante as investigações do caso, segundo apontaram mensagens obtidas pelo The Intercept Brasil. As informações são da Folha de S. Paulo.

Segundo as mensagens, Deltan e um colega da Lava Jato discutiram a constituição de uma empresa em que não apareceriam formalmente como sócios, visando evitar questionamentos legais e críticas.

Em um diálogo com a mulher, Deltan explica que a organização de congressos e eventos, além de garantir lucro, seria “um bom jeito de aproveitar nosso networking e visibilidade”.

Deltan e outro integrante da força-tarefa cogitaram ainda, uma estratégia para criar um instituto e obter elevados cachês, além da realização de parcerias com uma firma organizadora e outras duas empresas de eventos.

No entanto, a lei proíbe que procuradores gerenciem empresas, permitindo apenas, que essas autoridades sejam sócios ou acionistas de companhias.

As mensagens analisadas pela Folha e pelo Intercept apontam que Deltan ocupou os serviços de duas funcionárias da Procuradoria em Curitiba para organizar sua atividade pessoal de palestrante no decorrer da Lava Jato.

Os diálogos mostram ainda, que Deltan incentivava outras autoridades ligadas ao caso a realizar palestras remuneradas, entre eles o ex-juiz e atual ministro da Justiça e da Segurança, Sérgio Moro.

FATURAMENTO

Cerca de três meses antes de iniciar o grupo sobre a abertura da empresa, Deltan informou a esposa sobre a lucratividade das palestras apuradas até setembro de 2018. 

"As palestras e aulas já tabeladas neste ano estão dando líquido 232k [R$ 232 mil]. Ótimo... 23 aulas/palestras. Dá uma média de 10k [R$ 10 mil] limpo."

No mês seguinte, o procurador manifestou a expectativa para o fechamento de 2018.

"Se tudo der certo nas palestras, vai entrar ainda uns 100k [R$ 100 mil] limpos até o fim do ano. Total líquido das palestras e livros daria uns 400k [R$ 400 mil]. Total de 40 aulas/palestras. Média de 10k limpo", disse o procurador.

Caso tenha atingido a meta de faturamento líquido de R$ 400 mil em 2018, a remuneração pode ter superado a soma dos salários de Deltan como procurador da República naquele ano.

As mensagens obtidas pelo The Intercept Brasil de uma fonte anônima, indicam troca de colaboração entre Moro e a força-tarefa da Lava Jato, porém, segundo a lei, o juiz não pode auxiliar ou aconselhar nenhuma das partes do processo.

Desta forma, o vazamento pode levar à anulação de condenações proferidas por Moro, caso haja entendimento que ele era suspeito (comprometido com uma das partes), incluindo o julgamento do ex-presidente Lula.

Deltan convidou o juiz responsável pela Lava Jato, Sergio Moro, na época, para participar de um evento e contou como estava cobrando pela atividade. Foto: Reprodução

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