Um atentado sem precedentes na vida de várias pessoas que deve deixar marcas não só naqueles que tiveram uma criança ou uma das educadoras mortas. Saudades, cidade do oeste de Santa Catarina, vive o momento de luto.
O Governo de Santa Catarina decretou luto oficial de três dias, após o atentado com arma branca na creche municipal de Saudades, que vitimou três crianças, uma professora e uma auxiliar da instituição. O autor desferiu golpes também contra o próprio pescoço, além de abdome e tórax e foi encaminhado em estado gravíssimo ao Hospital em Pinhalzinho.
Durante a manhã desta quarta-feira (5), os moradores poderão participar de celebrações religiosas organizadas pela comunidade e pela prefeitura, para marcar o velório coletivo das vítimas do ataque à escola infantil Aquarela.
Assassino da creche tem 18 anos e perfil "quieto"
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Os corpos das três crianças, da professora e uma agente educativa, mortas ao serem atingidas por Fabiano Kipper Mai, de 18 anos, estão nas dependências do Parque de Exposições Theobaldo Hermes. O Bispo Dom Odelir José Magri, da Diocese de Chapecó, vai celebrar uma missa no local.
O prefeito de Saudades, Maciel Schneider, classificou o dia 4 de maio como o “mais triste da história do nosso município”. Ao todo, 25 psicólogos de toda a região Oeste estão trabalhando para dar amparo à comunidade e aos familiares.
APOIO E INVESTIGAÇÃO
A Polícia Militar deslocou 23 profissionais para a cidade, em nove viaturas. A Polícia Civil, por sua vez, deslocou homens de Pinhalzinho, Modelo, Chapecó, Nova Erechim, além do helicóptero da corporação que atua na região.
Vítimas
- Keli Adriane Aniecevski, de 30 anos, professora. Trabalhava na creche Aquarela há 10 anos
- Mirla Renner, 20 anos, era agente educacional
- Sarah Luiza Mahle Sehn, de 1 ano e 7 meses
- Murilo Massing, de 1 ano e 9 meses
- Anna Bela Fernandes de Barros, de 1 ano e 8 meses.
Rapaz chegou à escola vestindo roupas pretas e começou os ataques sem dizer nada, dizem testemunhas
As professoras da Escola Municipal Infantil Pró-Infância Aquarela, onde ocorreu o atentando, se trancaram nas salas de aula com as crianças para tentar conter a ação do agressor. Com as restrições da pandemia, havia cerca de 20 pessoas no local, segundo fontes ouvidas pela reportagem.
Uma das funcionárias que não quis se identificar contou à reportagem [da agência Folhapress] que estava na sala dos professores no momento do atentado, se preparando para retornar para a sala de aula, quando ouviu gritos de Keli, primeira vítima atingida pelo rapaz.
Segundo ela, a professora o abordou logo que ele entrou na escola, perguntando do que ele precisava, mas, sem maiores explicações, foi atacada pelo rapaz, que vestia roupas pretas.
A funcionária conta que, pelo tamanho e características, chegou a pensar que a arma fosse um cacetete. Logo que percebeu a agressão, ela e outra professora se trancaram na sala de materiais da escola. Ela percebeu depois que as colegas fizeram o mesmo em outros ambientes, na tentativa de impedir os ataques.
Ela afirmou que, ao sair para pegar o celular, viu o homem tentando quebrar os vidros com o facão e entrar nas salas, enquanto as professorAs e agentes de educação seguravam as portas.
Ao retornar para a sala de materiais, a professora disse ter ouvido muitos gritos e barulhos que pareciam disparos de arma de fogo. Segunda ela, depois soube que ele soltou estalinhos durante a ação.
Quando o barulho diminuiu, ela pulou a janela da sala em que estava para verificar como estavam as crianças das quais cuidava. Naquele momento, o agressor já havia sido capturado por vizinhos da escola.
Segundo relato de outra funcionária, que também pediu para não ser identificada, a segunda vítima do rapaz foi Mirla, que chegou a ser socorrida, mas morreu no hospital. Após atacar as funcionárias, ele conseguiu entrar em uma das salas de aula, onde atingiu as crianças.
Uma das fontes ouvidas pela reportagem disse que foi tudo muito rápido e que tentou pegar as crianças no braço, mas não teve força suficiente. O jovem teria vindo, então, em sua direção, e ela correu até o portão para pedir socorro, conseguindo escapar.
Colegas de trabalho falam sobre educadoras mortas no atentado
Uma das professoras ouvidas pela reportagem contou que Keli era formada em Sistema de Informação e, para problemas de informática, ela era o "socorro" das colegas. Disse ainda que era adorada pelas crianças.
Já Mirla é descrita pela colega como uma menina quieta e sonhadora, mas muito prestativa, e que gostava de artes e desenho. Ela tinha 20 anos e cursava Engenharia Química na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).
O prefeito decretou luto no município, suspendeu todas as aulas na rede municipal, colocou profissionais de saúde, especialmente psicólogos, à disposição de familiares das vítimas e testemunhas e conta que está recebendo suporte em serviços de outros municípios vizinhos.
Maciel se emocionou ao comentar a tragédia. Prefeito de primeiro mandato, ele tem um filho de um ano e um mês, idade próxima das vítimas, e conhecia a maioria dos envolvidos no episódio.
"Nós conhecemos todas as pessoas, aqui é uma cidade pequena. Conheço as crianças, os pais das crianças, os avós das crianças, a gente conhece todas as pessoas", disse ele à reportagem, por telefone.
Ele conhecia também os pais do jovem suspeito do ataque. Segundo o prefeito, o rapaz não tinha vínculo com a escola, professores ou alunos e morava distante do local, onde chegou de bicicleta na manhã desta terça. "Não se sabe o que passou na cabeça dessa pessoa", diz ele.
Polícia ainda tenta descobrir as motivações do crime
Mais cedo, a Polícia Militar de Santa Catarina divulgou que, segundo relatos de pessoas que estavam no local, o jovem disse ter sofrido bullying, mas nunca estudou no local.
Vereador no município, Alfeu José Schuh (PT), é tio-avô de uma das crianças mortas no atentado, uma menina de cerca de um ano e meio de idade. "O município está transtornado, é uma coisa inacreditável, não caiu a ficha ainda do que aconteceu", afirmou ele.
Segundo ele, o jovem responsável pelo ataque é de família simples, filho de um homem que cuida de uma chácara. "A mãe dele é uma pessoa muito simpática, meiga. Perante a sociedade, nunca imaginaríamos que ele faria algo assim", diz o vereador.
A Escola Municipal Infantil Pró-Infância Aquarela atendia crianças na faixa etária do chamado berçário, de 0 a 3 anos. Pelo plano de contingência do município, durante a pandemia do novo coronavírus, havia cerca de 50% do público normal no local.
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