Sintomas do novo coronavírus e várias desculpas para “se livrar” da CPI da Covid, não fizeram com que o ex-ministro da Saúde e general da ativa Eduardo Pazuello ficasse em casa. Mesmo que todas as orientações sejam para não aglomerar ou manter o distanciamento correto entre as pessoas, ele ignorou mais uma vez tudo isso para estar próximo ao presidente Jair Bolsonaro.
Porém, dessa vez Pazuello pode ser punido. Será que a conta chega?
Ao participar de ato político em favor do presidente neste domingo (23), no Rio de Janeiro, o ex-ministro chamou atenção de muitos colegas de farda e até superiores hierárquicos. Pazuello tinha a intenção de passar despercebido, mas ao subir no palanque no Monumento aos Pracinhas, ele admitiu que cometeu “um erro”.
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Pazuello infringiu o Regulamento Disciplinar do Exército (RDE) que proíbe a manifestação política de militares da ativa sem a autorização prévia dos seus superiores.
O questionamento foi aberto pela revista Época que ouviu alguns militares que deixaram claro o descontentamento da cúpula do Exército com a ida de Pazuello ao Rio. O general se descolou de Brasília para à capital fluminense no avião da Força Aérea, ao lado do presidente, que levou a comitiva do governo.
Vale lembrar, que a única agenda de Bolsonaro na cidade era um passeio de motocicleta com apoiadores a favor dele.
A carona pode ter sido “inofensiva”, mas foi o primeiro erro cometido pelo ex-ministro da Saúde. Pazuello fez questão de subir no carro de som contratado por apoiadores do governo para Bolsonaro e outros políticos discursarem. O general, mesmo falando muito pouco, estava em um ato político.
Ele chegou a mandar uma mensagem ao comandante do Exército, de acordo com interlocutores, assim que o ato terminou, reconhecendo que estava errado e se mostrou arrependido. Aos mesmos interlocutores, ele justificou que acabou sendo “empurrado” a ir parar do lado do presidente. O general afirmou ainda que estava de máscara o tempo todo até subir no caminhão de som.
Os militares ouvidos ainda disseram para a Época que a atitude do ex-ministro da Saúde atingiu a imagem da corporação. Eles afirmaram que era dever do general "se preservar" e lembraram que ele teve apoio do novo comandante do Exército durante a ida dele à Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga as ações do governo na pandemia, a chamada CPI da Covid.
No entanto, para os oficiais, “ele derramou o caldo”.
Nesse momento é necessário que o comandante Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira precisa punir Pazuello, porque senão abriria um flanco para que outros militares, de qualquer patente, subissem em palanques no período eleitoral que se aproxima. Além disso, se não punir, também estaria cometendo uma transgressão.
O ex-ministro chegou a explicar aos colegas de fardas mais próximos que “não fez pronunciamento político”. “Falei como cidadão, não falei como oficial-general”, justificou ele a um interlocutor via Whatssap. Mesmo insistindo que não falou nada com cunho político, comentou apenas agradeceu “a galera” e disse que “não podia perder esse passeio de moto”, “que era imperdível” e encerrou sua participação. Pazuello nunca falou em entrar para a política, mas algumas pessoas próximas já apostam neste caminhos após a aposentadoria.
Ele passou o restante do domingo ouvindo reclamações dos colegas de farda. Confidenciou que, se pudesse, "voltaria atrás no tempo e não teria ido lá". Nesta segunda-feira, Pazuello, que está sem função e mora no Hotel de Trânsito de Oficiais em Brasília, vai “se apresentar” no Quartel General. Ele sabe e já espera que deve ser punido pelo que fez. E reconhece ainda que não tem nem o que dizer mais sobre o assunto.
Uma solução para a punição do general começou a ser construída logo após as primeiras imagens dele em cima do trio elétrico passaram a circular. A cúpula do Exército espera construir um consenso para evitar nova exposição interna e evitar novo constrangimento ao comando pelo gesto que desde que saiu do governo, em março, e voltou à caserna.
Pode ser que Pazuello sofra uma “advertência” pela sua atitude e que seja “pressionado” e, mais do que isso, “instado” a pedir transferência para a reserva, embora “por direito” tenha pelo menos mais um ano de permanência no serviço ativo.
O enquadramento de Pazuello deverá ser feito com base no item 57 que trata de manifestar-se, publicamente, o militar da ativa, sem que esteja autorizado, a respeito de assuntos de natureza político-partidária.
Apesar de a ida de Pazuello ao palanque poder lhe custar a punição com advertência, o general ainda tem a seu favor o seu histórico militar, que contém muitos atenuantes já que sua carreira é considerada impecável. Segundo a classificação resultante do julgamento da transgressão, existem seis punições disciplinares que podem ser aplicadas, que começam com advertência, passam por repreensão, detenção e licenciamento.
A advertência, que militares ouvidos apostam que deverá ser a opção do comando, significa mais um gesto político, de demonstração de autoridade, e de satisfação e alerta aos demais militares, para que fiquem atentos que não haverá condescendência com esse tipo de ato. Na prática, não terá nenhuma consequência mais grave, além de constar na ficha militar do general três estrelas.
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