A Polícia Federal decidiu antecipar e reforçar o aparato de segurança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), principal adversário do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de outubro.
Episódios como o da última quinta-feira (7), quando uma bomba caseira foi lançada antes da chegada do petista a ato de pré-campanha no Rio de Janeiro, consolidaram a avaliação de que os candidatos estão sujeitos a risco mais elevado nestas eleições do que em anteriores.
Quanto a Lula, a ideia da PF é iniciar a proteção de forma gradativa a partir do dia 21, quando o PT realiza a convenção para oficializar seu nome como candidato. No final de mês, o petista passaria a contar com a estrutura completa.
A decisão representa uma antecipação ao que foi feito em pleitos passados, quando o policiamento em tempo integral ocorria com o início oficial da campanha partidária —neste ano, 16 de agosto.
Policiais federais ouvidos pela Folha apontam os evidentes sinais de campanha já em curso, como as motociatas de Bolsonaro, como justificativa para a antecipação.
No caso dos outros candidatos, a ideia também é, por questão de isonomia, antecipar o aparato de segurança para o momento da oficialização dos nomes nas convenções partidárias, que vão de 20 de julho a 5 de agosto. Assim que a homologação é feita na convenção, o candidato precisa enviar a solicitação e a PF começa em seguida a fazer a segurança.
No mínimo 27 policiais estarão envolvidos com a proteção a Lula, número que pode aumentar a depender da análise de risco que será feita pelos agentes federais a cada agenda.
Integrantes da cúpula da campanha petista encarregados de cuidar da segurança têm pressionado a PF a entrar em campo o quanto antes. Cristiano Zanin, advogado do ex-presidente, tem feito contatos com o comando da corporação sobre o assunto.
Frente ao cenário de polarização e tensão política, bem como o histórico de violência em 2018, a PF reforçou a operação de garantia da segurança dos postulantes ao Palácio do Planalto.
Aquele pleito foi marcado pela facada em Jair Bolsonaro e ameaças à campanha do petista Fernando Haddad (PT).
O assassinato de Shinzo Abe, premiê que por mais tempo permaneceu no cargo na história do Japão, na sexta (8), foi assunto entre os policiais que vão atuar na campanha no Brasil. Abe foi baleado enquanto discursava num ato de campanha eleitoral na cidade de Nara.
Três delegados foram destacados para fazer a segurança da campanha do ex-presidente: Andrei Augusto Passos Rodrigues, Rivaldo Venâncio e Alexsander Castro Oliveira. Rodrigues será o coordenador da equipe. Oliveira, o chefe operacional, e Venâncio, operacional substituto.
O coordenador da equipe fez a segurança da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2010 e era próximo do ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo.
O presidente da República conta com o aparato de segurança do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), e não da PF, inclusive durante toda a campanha à reeleição. A quantidade de policiais envolvidos é sigilosa. ​
Uma instrução normativa específica para a segurança dos candidatos foi editada. Ela estabelece diretrizes que devem ser seguidas pelos agentes e com recomendações aos políticos.
Os policiais fizeram uma análise de risco das campanhas, avaliando os aspectos que envolvem cada presidenciável, e definiram o tipo e o tamanho de equipe que será colocada para cada político, num nível de risco de 1 a 5.
Não há definição sobre um número máximo de agentes a ser empregado na segurança dos candidatos. No total, mais de 300 policiais estarão envolvidos em todo o processo.
Na campanha de Lula será usada a matriz de risco de mais alto grau.
Na quinta-feira (7), uma bomba caseira foi lançada antes da chegada de Lula à Cinelândia, centro do Rio, palco do primeiro ato da pré-campanha em espaço público. O artefato foi lançado do lado de fora da área isolada em frente ao palanque.
O suspeito, André Stefano Dimitriu Alves de Brito, 55, teve a prisão em flagrante convertida em preventiva neste sábado (9).
No dia 15 de junho foi registrado um outro episódio. Lula esteve em Uberlândia (MG) para um evento de pré-campanha com a presença do ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD).
Quando esperavam a liberação para entrar no local, apoiadores do ex-presidente foram atingidos por um líquido lançado por um drone que sobrevoou a região de um evento com o petista em Uberlândia (MG). O relato era que o líquido exalava odor parecido com o de fezes.
O agropecuarista Rodrigo Luiz Parreira, 38, apontado como um dos autores do ataque, foi preso dias depois a pedido do MPF (Ministério Público Federal), que abriu apuração sobre o caso.
Após esses episódios, o comando da campanha petista reforçou o esquema de segurança para ato deste sábado (9), em Diadema (SP). Cem agentes de segurança foram contratados exclusivamente para revista do público com uso de detectores de metal portáteis.
Na condição de ex-mandatário, o petista conta atualmente com segurança pessoal sob a responsabilidade do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) da Presidência da República. Os seguranças foram indicados pelo ex-presidente e receberam treinamento do GSI.
Entre os militantes há também gente treinada para ajudar na proteção ao petista.
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