O sonho da casa própria é a meta de muitos brasileiros que suam para conquistar um lugar todo seu para morar. No entanto, nem sempre as taxas de juros dos financiamentos imobiliários agradam os trabalhadores que recebem salários mais baixos, o que acaba fazendo com que o desejo do imóvel seja adiado. No entanto, uma nova e atraente oportunidade pode mudar esse panorama.
Em breve será possível usar o saldo futuro do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para financiamento imobiliário. Na prática, a utilização se assemelha a um crédito consignado, em que o dinheiro é descontado antes mesmo de cair na conta do FGTS do trabalhador.
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O uso do saldo futuro pode ser positivo, mas, como tudo na vida, o consumidor precisa ficar atento e tomar alguns cuidados antes de assumir este compromisso financeiro.
O especialista em mercado imobiliário José Urbano Duarte afirma que a novidade vai ser benéfica principalmente para o consumidor. Segundo ele, a medida vai beneficiar principalmente dois públicos: quem não consegue comprovar a renda de financiamento imobiliário e quem gostaria de comprar um imóvel maior do que conseguiria com a própria renda.
Confira abaixo perguntas e respostas sobre o tema:
Quem vai poder usar o FGTS futuro?
O uso do FGTS futuro para compra de um financiamento imobiliário vai ser limitado às famílias com renda mensal bruta de até R$ 4.400.
Como vai funcionar?
O uso futuro do FGTS vai funcionar como um empréstimo consignado. O dinheiro será descontado do saldo futuro do FGTS antes mesmo de cair na conta do trabalhador. Quando a modalidade vai entrar em vigor? A expectativa é que o uso esteja liberado a partir do próximo ano.
Quando a modalidade vai entrar em vigor?
A expectativa é que o uso esteja liberado a partir do próximo ano. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), o decreto que autorizou o uso do saldo futuro será avaliado pelo Conselho Curador do FGTS para que a modalidade seja regulamentada.
Qual será a taxa de juros dos financiamentos que usarem o FGTS?
Ainda não há informação oficial. Urbano diz que, como o FGTS é uma garantia às empresas que vendem imóveis, há grandes chances que o consumidor consiga taxas de juros mais baixas.
Quais as vantagens?
A planejadora financeira pela Planejar (Associação Brasileira de Planejadores Financeiros) Eliane Tanabe afirma que a iniciativa vai fazer com que mais pessoas consigam comprar a casa própria — isso porque o valor do FGTS poderá ser usado para compor a parcela do financiamento.
Com a mudança, o saldo do FGTS pode ser usado para ajudar a compor a renda familiar da pessoa. A parcela do FGTS que poderá ser usada ainda vai ser regulada pelo Conselho Curador do FGTS.
Hoje o FGTS pode ser usado para aquisição de imóvel novo ou usado ou para amortização, liquidação e pagamentos de parcelas.
Para quem vale a pena?
Tanabe diz que a modalidade é indicada para quem já fez um planejamento financeiro e que sabe que vão conseguir cumprir o pagamento das parcelas. Ficar sem pagar o financiamento pode fazer com que a pessoa perca o imóvel e, consequentemente, todo o dinheiro.
Vale usar porque FGTS rende pouco
Urbano diz que usar o FGTS pode ser financeiramente vantajoso para o consumidor pensando nos juros. Os financiamentos imobiliários nos grandes bancos variam de 9% a 10% ao ano, enquanto o FGTS rende 3% ao ano.
Hoje existem opções de investimento com rendimento muito acima do FGTS. Para o especialista, é melhor o consumidor deixar parte do dinheiro investido em outros produtos que rendam mais e usar uma parcela do FGTS, que rende menos.
"Do ponto de vista financeiro, os juros do FGTS são menores do que os dos financiamentos. Trazer do fundo para o financiamento para acelerar a quitação do imóvel ou para fazer a parcela do financiamento pesar menos no orçamento familiar seria uma troca inteligente", afirma Urbano.
Como parte da população já usa o FGTS para pagar a casa própria, Urbano considera que essa é mais uma forma de facilitar os financiamentos aos brasileiros. Não pode fazer falta no futuro: Para Tanabe, o trabalhador precisa ter certeza de que quer usar o saldo do FGTS para que o dinheiro não faça falta no futuro. O saque do FGTS só pode ser sacado em situações específicas. Alguns exemplos são quando o trabalhador completa 70 anos, está há três anos sem carteira assinada, em caso de doenças graves ou demissão sem justa causa.
Tanabe afirma que o FGTS tem uma função social caso a pessoa perca o emprego, para que ela consiga se manter enquanto procura uma nova oportunidade no mercado de trabalho. Para a especialista, como o financiamento imobiliário é um compromisso de muito tempo -existem opções de até 35 anos-, a pessoa é preciso ter certeza de que aquele dinheiro do saldo do FGTS não vai fazer falta no futuro.
"O uso vale a pena desde que seja uma boa oportunidade de financiamento e não tire o equilíbrio financeiro do futuro da família. Se a pessoa erra nesse momento, pode se tornar uma desvantagem no futuro. A maior desvantagem é perder o tempo e dinheiro tentando comprar o imóvel e voltar à estaca zero", afirma Tanabe. Urbano também diz que o ponto negativo desse financiamento é que ele pode fazer falta no futuro, principalmente durante a aposentadoria.
Gasto maior que salário
Fabio Louzada, economista, fundador e CEO da escola Eu me Banco, afirma que mesmo que a rentabilidade do FGTS seja baixa, usar os depósitos futuros é uma escolha arriscada, porque na prática o trabalhador vai se comprometer a pagar um valor de parcela maior do que caberia no bolso de acordo com seu salário.
O que acontece se o trabalhador perder o emprego?
Tanabe afirma que caso a pessoa perca o emprego, ela terá que arcar com as parcelas do financiamento sem contar com o FGTS. Segundo ela, o valor que seria pago usando o FGTS entra no valor da dívida que ainda precisa ser paga pelo comprador.
Por isso Tanabe afirma que a opção é boa apenas para os trabalhadores que sentem que estão em um emprego estável ou pelo menos que tenham uma renda a mais para pagar o financiamento em caso de demissão.
"Se o trabalhador for surpreendido com a demissão e não tiver renda mensal suficiente para arcar com as parcelas, pode não conseguir pagar essa dívida. Se não fizer os pagamentos poderá ter a casa tomada", pontua Fábio Louzada.
Quem recebe o FGTS?
O FGTS é pago aos trabalhadores com carteira assinada. O valor mensal depositado corresponde a 8% do salário bruto pago ao empregador, e os trabalhadores não têm nenhum tipo de desconto salarial. O dinheiro fica em uma conta da Caixa Econômica Federal e tem rendimento de 3% ao ano mais TR (taxa referencial).
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