A presença de cinco ministros do Supremo Tribunal Federal em um evento promovido pelo Lide, grupo da família do ex-governador paulista João Doria, mudou a rotina de uma badalada rua do centro de Nova York.
Um pequeno mas barulhento grupo de bolsonaristas começou a se concentrar no fim da tarde de domingo (14) em frente ao hotel Sofitel, na rua 44, onde os participantes da Brazil Lide Conference estão hospedados. O evento em si ocorre a menos de 50 metros, no New York Harvard Club, entidade ligada à famosa universidade homônima.
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"Vim aqui porque vocês roubaram o Brasil", disse a manifestante Maria para jornalistas que estavam no local, com o argumento usual de quem integra os protestos do gênero no Brasil. O grupo alternou o Pai Nosso com o Hino Nacional ao longo de sua vigília, na qual hostilizaram os ministros Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e seu principal alvo, Alexandre de Moraes, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral.
"Ei, Xandão, seu lugar é na prisão", gritavam, em referência a um dos apelidos de Moraes. O ministro não quis comentar o episódio. Também presente ao evento, o ex-presidente Michel Temer (MDB) também foi objeto de xingamentos.
Todos deixaram o hotel no domingo sob escolta. Barroso, em um vídeo publicado em redes sociais, foi xingado por uma manifestante ao passear na Times Square, ponto turístico da cidade. Ele pediu a ela para "não ser grosseira".
Na manhã da segunda (14), o movimento engrossou um pouco, com cerca de 40 pessoas com cartazes pedindo intervenção federal, socorro às Forças Armadas e chamando o STF de corrupto. "Isso tudo é porque eles perderam a eleição?", questionou Michael, que trabalha em um restaurante ao lado do burburinho.
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Um morador à frente do protesto colocou um cartaz na janela dizendo "Bolsonaro perdeu", por sua vez. Com a chegada dos participantes, às 7h30 (9h30 em Brasília), a gritaria subiu vários decibéis e a a polícia, que havia passado a noite em frente ao hotel a pedido do Lide, estabeleceu um cordão de isolamento na calçada para permitir o trânsito das pessoas.
As autoridades entraram por um acesso ao grupo pela parte traseira do edifício, mas logo os manifestantes descobriram a tática e cercaram o Harvard Club.
Os gritos foram ouvidos. "Manifestação é um direito, mas agressão não encontra abrigo na Constituição, é lamentável", afirmou Gilmar, questionado sobre os atos. "Os derrotados precisam admitir a derrota", disse o ministro Luís Roberto Barroso.
Também está no evento Dias Toffoli, que protagonizou uma cena curiosa. Antes da saída em bloco do grupo de ministros e Doria, rumo a um almoço em local não divulgado, ele colocou um gorro, óculos escuro e máscara. "Já posso sair", brincou -evidentemente, a tática falhou.
Houve muitos gritos, mas os ministros e o ex-governador saíram rapidamente, sem incidentes. Sobrou para os jornalistas que os acompanhavam, acusados de golpismo, manipulação de urnas eletrônicas e de estarem carregando dólares distribuídos por Doria.
O blogueiro Allan dos Santos, foragido da Justiça no inquérito das fake news tocado por Moraes no Supremo, apareceu para fazer um discurso contra os ministros e o processo eleitoral brasileiro.
"Polarização é útil, mas a radicalização, não. Lamentavelmente, isso ocorre neste instante, aqui em Nova York", disse Temer, que também foi hostilizado à frente do hotel no domingo. Depois, ele afirmou estar preocupado com o nível de volatilidade no Brasil, lembrando que basta uma pessoa armada para haver uma tragédia.
Em nota divulgada no site do STF, a presidente da corte, ministra Rosa Weber, disse que o tribunal repudia os ataques sofridos pelos ministros em Nova York.
"A democracia, fundada no pluralismo de ideias e opiniões, a legitimar o dissenso, mostra-se absolutamente incompatível com atos de intolerância e violência, inclusive moral, contra qualquer cidadão."
A Lide Brazil Conference ocorre nesta segunda (14) e terça (15) no centro de Manhattan. Em redes sociais, os manifestantes pediram para que um ato maior ocorra nesta terça, feriado da República no Brasil.
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