As lideranças indígenas estão há anos tentando chamar atenção do governo Bolsonaro para a crise humanitária causada pelo garimpo na Terra Indígena (TI) Yanomami. Dados divulgados no último sábado (21), chocaram o país, onde pelo menos 570 crianças morreram só de desnutrição nos últimos quatro anos do último governo.
De acordo com o levantamento do Ministério da Saúde., a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, declarou: "Os Yanomami foram muito afetados pela desassistência, falta de medicamentos e invasões. A situação é caótica".
Durante a gestão de Bolsonaro, o governo Federal já estava ciente dessa crise humanitária a partir do momento em que membros de lideranças indígenas como Dario Kopenawa Yanomami, da Hutukara Associação Yanomami, tomaram partido e foram até Brasília expor a situação real e pedir a expulsão dos garimpeiros, porém, nada foi feito.
"Eles falavam há tempos sobre o cenário, mas não tinham os dados exatos. O acesso a essas informações estava difícil durante o governo Bolsonaro", diz Priscilla Oliveira, pesquisadora e ativista da Survival International em entrevista ao Terra.
Dificuldades em visitar áreas remotas da TI, equipes independentes se arriscaram em lidar com diversos tipos de ameaças dos invasores.
"Era difícil calcular esse número com um governo que não tinha a menor intenção em fazer esse acompanhamento e publicar esses dados. Foi um apagão dos números", lembra Priscilla.
"Requer ação urgente para evitar mais mortes, principalmente das crianças." Disse Joenia Wapichana, líder da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).
De acordo com levantamentos indígenas, estima-se que mais de 20 mil garimpeiros invasores estejam no território revirando os fundos de rios e florestas em busca de ouro. Após denunciarem, o governo Bolsonaro tratava tudo como “exagero”. Frase dita pelo vice-presidente, Hamilton Mourão, durante entrevista com jornalistas estrangeiros da qual a DW participou.
"A atuação dos garimpeiros não causa só impacto ambiental, de desmatamento, de revirar solo. Há problemas de contaminação de rio com mercúrio, dos peixes, da água usada de diversas formas pelos indígenas. A presença dos garimpeiros espalha malárias, covid e outras doenças", diz a ativista da Survival International.
Cerca de 11.530 casos de malária foram registrados no Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami só em 2022, onde foram distribuídos entre 37 polos. A faixa etária dos infectados era entre maiores de 50 anos, seguida pela dos 18 a 49 anos, e dos cinco aos 11 anos de idade.
De acordo com uma carta enviada ao presidente Lula em dezembro de 2022, mulheres yanomami narraram os conflitos e a violência que viveram dentro do território.
"Os rastros de garimpeiros fazem crescer a malária. Antes, quando não tinha tantos garimpeiros, as doenças eram poucas. Em algumas regiões do território Yanomami, nossas crianças estão morrendo por malária, desnutrição, pneumonia e até por infestação de vermes."
"Essa malária é muito forte e não tem medicamentos para tratá-la. O governo de Bolsonaro acabou com o estoque de cloroquina do Brasil e agora nós sofremos pela sua má gestão. Não queremos ficar chorando porque as pessoas morrem, não queremos ficar chorando até a madrugada. Já temos muitas cinzas mortuárias", relata o documento.
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