Alfredo de Souza Lima, 98 anos, testemunhou uma vasta gama de eventos ao longo de sua longa vida. Desde a bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki até guerras mundiais, a Guerra Fria, a ditadura militar no Brasil e o holocausto, momentos marcantes do último século.
Morador de Porto Alegre, ele sobreviveu à enchente de 1941, quando sua casa foi alagada pela primeira vez. Agora, em maio de 2024, ele enfrenta uma situação semelhante à vivida quando tinha apenas 15 anos: a pior enchente da história da capital gaúcha, obrigando-o a deixar sua casa novamente.
Assim como em 1941, a cheia do Rio Guaíba ocorreu em maio, um mês considerado incomum para esse tipo de evento climático. Naquela época, o rio atingiu a marca de 4,76 metros, causando grandes estragos, como desalojamento e desabrigo de pessoas, embora com poucas mortes. Este ano, no entanto, o rio ultrapassou os 5,33 metros, com 107 mortes já confirmadas até o momento.
"Naquela época, a água subiu lentamente. Foi subindo gradualmente. Não houve tantas mortes como agora. Pelo que me lembro, houve apenas uma pessoa eletrocutada que caiu na água", disse o idoso em entrevista à TV Globo.
83 anos depois...
Esta semana, Alfredo precisou deixar sua casa novamente e se abrigar com a filha em outra residência, no bairro Bom Jesus, na Zona Norte de Porto Alegre.
Na enchente de 1941, ele ficou na casa de um irmão e de amigos até que o período de chuvas passasse. Naquela época, segundo ele, a água subiu gradualmente, ao contrário do que foi registrado nos últimos dias, onde a força da natureza não deu chance para muitas pessoas escaparem.
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Segundo o professor Fernando Dornelles, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS, na época, 24 dias consecutivos de chuva nas bacias que drenam para o Guaíba causaram a enchente. Este ano, apenas quatro dias de chuva no Rio Grande do Sul ultrapassaram a cota de inundação na capital.
Quando perguntado se temia passar por um evento histórico como o de 1941 novamente, Alfredo expressou preocupação, especialmente porque já havia morado em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, e viu os temporais afetarem também esse município.
Durante a cheia deste mês, ele estava no bairro Navegantes, na Zona Norte, na casa da filha, quando percebeu a água subir rapidamente. Ambos foram resgatados de barco. Outros familiares espalhados pela cidade também enfrentaram situações semelhantes e foram levados para outros municípios.
Afetados em 41
Em 1941, cerca de 15 mil pessoas foram afetadas, resultando no deslocamento de 70 mil, em uma época em que a população da capital era de cerca de 272 mil habitantes. Um terço das indústrias e do comércio ficaram inundados.
Naquele período, além da intensidade das chuvas, um vento sudoeste, de acordo com estudos, teria represado as águas da Lagoa dos Patos e as direcionado para o Guaíba, contribuindo para a inundação. Uma dinâmica semelhante está ocorrendo agora.
Os danos causados pelo temporal levaram à construção do Muro da Mauá, no Centro Histórico de Porto Alegre. A construção, realizada entre 1971 e 1974, possui três metros abaixo do solo e três acima, cobrindo 2.647 metros de extensão. Esse muro é parte de um sistema antienchente, que inclui diques e comportas.
Tragédia de 2024
Os temporais que assolaram o estado do Rio Grande do Sul desde segunda-feira (29) resultaram em 107 mortes, conforme boletim divulgado nesta quinta-feira pela Defesa Civil. O órgão também informa que há um óbito em investigação. O número de feridos chega a 374, enquanto 136 pessoas estão desaparecidas.
A Defesa Civil do estado contabiliza mais de 164,5 mil pessoas deslocadas e 67,5 mil abrigadas. No total, 425 dos 496 municípios do estado enfrentaram algum tipo de problema, afetando cerca de 1,5 milhão de pessoas.
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