
No calor das luzes da cidade e no burburinho dos bares, ninguém espera que um gole possa custar a vida. Mas, nos últimos dias, consumidores de bebidas alcoólicas em São Paulo sentiram na própria pele o risco invisível que ronda garrafas aparentemente comuns. Entre a bebida e a morte, o fio condutor pode ser um líquido incolor, inflamável e mortal: o metanol.
A ABCF (Associação Brasileira de Combate à Falsificação) divulgou no último domingo (28) uma nota levantando a suspeita de que o metanol usado para adulterar bebidas alcoólicas poderia ser o mesmo empregado pelo PCC (Primeiro Comando da Capital) para adulterar combustíveis.
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A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo confirmou que pelo menos duas pessoas morreram após consumir bebida contaminada com a substância. Um dos casos ocorreu na capital paulista e outro em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Outros 10 casos, todos na capital, estão sob investigação por suspeita de intoxicação.
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Segundo a ABCF, "o fechamento nas últimas semanas de distribuidoras e formuladoras de combustível diretamente ligadas ao crime organizado, que importam metanol de maneira fraudulenta para adulteração de combustíveis, conforme já comprovado por investigações do GAECO e do MP de SP, podem ser a causa dessa recente onda de intoxicações e envenenamentos de consumidores que ao tomar bebidas destiladas em bares e casas noturnas, apresentaram intoxicação por metanol."
DESTILARIAS CLANDESTINAS
A associação aponta ainda que, "a facção e seus parceiros podem eventualmente ter revendido tal metanol a destilarias clandestinas e quadrilhas de falsificadores de bebidas, auferindo lucros milionários em detrimento da saúde dos consumidores."
O anuário da falsificação da ABCF 2025 indica que o setor de bebidas foi o mais prejudicado pelo mercado ilegal no último ano, com perdas estimadas em R$ 88 bilhões, sendo R$ 29 bilhões em sonegação de tributos e R$ 59 bilhões em faturamento perdido pelas indústrias.
RISCOS DO METANOL À SAÚDE
A megaoperação deflagrada no mês passado para desarticular o esquema de fraudes no setor de combustíveis identificou que a importação irregular de metanol era realizada pelo Porto de Paranaguá, chegando ao país com documentação que indicava destinação legítima a empresas químicas ou de biodiesel. Motoristas, entretanto, desviavam o produto para postos de combustíveis da Grande São Paulo e outras regiões.
O metanol, substância líquida, incolor e inflamável, apresenta alto potencial de intoxicação. Quando ingerido, mesmo em pequenas doses, pode provocar morte. O envenenamento ocorre pela interação das enzimas hepáticas com o metanol, formando formaldeído e ácido fórmico, compostos altamente tóxicos que podem causar cegueira, acidose metabólica, depressão do sistema nervoso central, convulsões e coma.
ALERTA URGENTE
O MJSP (Ministério da Justiça e Segurança Pública) emitiu recomendação urgente a bares, restaurantes, casas noturnas, hotéis, mercados e plataformas de entrega, orientando atenção especial a produtos com lacres violados, impressão irregular e preços muito baixos. Também alertou para sintomas como visão turva, dor de cabeça e náusea, e orientou que os consumidores sejam encaminhados imediatamente a atendimento médico e os casos comunicados às autoridades competentes.
CONFIRA A NOTA ABCF NA ÍNTEGRA:
"A ABCF vem lutando a anos para debelar as quadrilhas de falsificadores de bebidas,com ações de inteligência e posteriores denúncias, em conjunto com as polícias em todo o país, entretanto, a entrada de facções do crime organizado no mercado ilegal de bebidas, vem trazendo desafios cada vez maiores para um combate efetivo, dada a capacidade financeira e rede de distribuição que possui o crime para levar tais bebidas até os pontos de venda, principalmente em áreas de média e baixa renda nos grandes centros consumidores do país.
O alerta foi feito pela ABCF as autoridades, de que desde o desligamento do Sicobe, sistema de controle de produção de bebidas que era operado pela RF e pela Casa da Moeda do Brasil, os volumes de bebida falsificadas no país aumentaram muito, em bilhões de litros, bem como a sonegação fiscal advinda dessa atividade criminosa. Mas nada impacta mais esse mercado do que os prejuízos a saúde. I a consumidores, que ao consumir bebidas ilegais, pode ter graves problemas de saúde, falência hepática, renal, cegueira, dentre outros problemas advindos de intoxicação por compostos que não podem, nem devem estar nas bebidas.
O fechamento mas últimas semanas de distribuidoras e formuladoras de combustível diretamente ligadas ao crime organizado, que importam metanol de maneira fraudulenta para adulteração de combustíveis, conforme já comprovado por investigações do GAECO e do MP de SP, podem ser a causa dessa recente onda de intoxicações e envenenamentos de consumidores que ao tomar bebidas destiladas em bares e casas noturnas, apresentaram intoxicação por metanol.
Ao ficar com tanques repletos de metanol lacrados e distribuidoras e formuladoras proibidas de operar, a facção e seus parceiros podem eventualmente ter revendido tal metanol a destilarias clandestinas e quadrilhas de falsificadores de bebidas, auferindo lucros milionários em detrimento da saúde dos consumidores. De acordo com o anuário da falsificação da ABCF 2025, o setor de bebidas foi o mais prejudicado pelo mercado ilegal no último ano, com perdas estimadas em 88 bilhões de reais, 29 bilhões em sonegação de tributos e 59 bilhões restantes de perdas de faturamento das indústrias que sofrem com tais fraudes e falsificações.
Somente com a retomada da rastreabilidade de produção que era efetuada pelo Sicobe, será possível combater de maneira mais efetiva a atuação do crime organizado no setor, a falsificação, a lavagem de dinheiro, a sonegação de tributos e principalmente, mitigar os prejuízos à saúde dos consumidores. A ABCF entrou com uma denúncia junto ao TCU defendendo a retomada do Sicobe, pois a lei que disciplina o tema, continua em vigor, apesar da decisão ilegal tomada em dez 2016 por um funcionário de terceiro escalão da RF, que desobrigou a rastreabilidade e o controle de produção que era efetuado pela RF. O TCU decidiu em julgamento ocorrido no plenário da Corte de Contas esse ano, que o desligamento do Sicobe foi ilegal e determinou a retomada imediata da rastreabilidade, dados os prejuízos a arrecadação do estado e a saúde dos consumidores. Entretanto, a RF, através da AGU recorreu da decisão e o caso hoje encontra-se no STF, nas mãos do Ministro Cristiano Zanin.
A ABCF vê com muita preocupação a letargia da RF em tomar as medidas necessárias para o pronto restabelecimento do sistema, operado pela Casa da Moeda do Brasil em conjunto com o órgão arrecadador, que seria um golpe duro no crime organizado e dificultaria sobremaneira a produção, distribuição e entrada dessas bebidas ilegais, contaminadas com metanol no mercado, trazendo prejuízos sérios à saúde e segurança dos consumidores."
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