Uma história de dor, injustiça e descaso reacende a discussão sobre o uso prolongado da prisão preventiva no Brasil. A catarinense Damaris Vitória Kremer da Rosa, de 26 anos, morreu no último dia 26 de outubro, vítima de câncer de colo de útero, apenas dois meses após ser absolvida e deixar a prisão. Ela havia passado seis anos presa preventivamente por um crime do qual foi considerada inocente.
O caso, que ganhou repercussão nacional, levanta questionamentos sobre a morosidade do sistema judicial e as consequências humanas de prisões sem condenação definitiva.
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Damaris foi presa em 2019, sob a suspeita de ter envolvimento na morte de um homem em Salto do Jacuí (RS), em 2018. Segundo a denúncia, ela teria atraído a vítima para uma emboscada.
Desde o início, a defesa sustentou a inocência da jovem, alegando que o crime teria sido cometido por um então namorado, após ela ter relatado que sofreu um estupro da vítima. Apesar da falta de provas diretas que ligassem Damaris ao homicídio, ela permaneceu presa preventivamente por seis anos até ser absolvida pela Justiça em agosto de 2025.
Diagnóstico e luta contra o câncer
Durante o período em que esteve encarcerada, Damaris foi diagnosticada com câncer de colo de útero. Mesmo com o agravamento da doença, a defesa enfrentou dificuldades para obter sua libertação.
Em nota, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) afirmou ter analisado três pedidos de soltura apresentados pelos advogados. Segundo o órgão, um deles foi negado porque os documentos anexados eram “receituários médicos, sem apontar qualquer patologia existente e sem trazer exames e diagnósticos”.
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Vida após a liberdade
Depois de deixar a prisão, Damaris tentou retomar a vida fora das grades, mas já enfrentava um quadro avançado da doença. Nas redes sociais, compartilhava vídeos e fotos do dia a dia do tratamento e momentos de carinho com o namorado, Allen Silva.
Em uma das últimas postagens, feita em 13 de outubro, ela apareceu ao lado do companheiro e escreveu: “Quase morando no hospital já, mas ao menos tô sendo bem acompanhada.”
Despedida e indignação
Após a morte, Allen publicou uma homenagem emocionante e um desabafo sobre a injustiça vivida pela jovem.
“Vivemos muita coisa nesses dias, mas fica o sentimento da injustiça. No caso dela, por exemplo: ‘achamos que você participou, vamos te guardar preventivamente por seis anos’, aí depois de seis anos, ‘ah não, realmente você não participou, pode ir morrer em casa’. Foi isso que aconteceu.”
Ele também relembrou os momentos que compartilharam durante o tratamento — refeições no hospital, passeios na cadeira de rodas e conversas sobre literatura.
“Tua partida é prematura e amarga. Te prometi estar ao teu lado até o último segundo, e aqui estou contigo para sempre”, escreveu.
A morte de Damaris encerra uma trajetória marcada por negligência e sofrimento, mas também reacende uma discussão essencial: até que ponto o sistema prisional brasileiro tem sido justo com aqueles que ainda não foram condenados?
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