Arquidiocese determina auditoria em paróquia de padre Júlio

Em tempos de tensões internas e disputas políticas, a Igreja Católica também vive seus momentos de ajuste fino, em que decisões administrativas acabam ganhando peso simbólico muito além dos gabinetes episcopais. Quando fé, gestão e visibilidade pública se cruzam, qualquer movimento passa a ser observado com lupa, especialmente quando envolve figuras que extrapolam os muros das paróquias e dialogam diretamente com a sociedade.

Foi nesse contexto que a Arquidiocese de São Paulo determinou a realização de uma auditoria financeira na paróquia de São Miguel Arcanjo, no bairro da Mooca, zona leste da capital. A igreja é comandada há cerca de quatro décadas pelo padre Júlio Lancellotti, referência nacional por seu trabalho pastoral junto à população em situação de rua. A informação foi divulgada pela colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo.

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A decisão partiu do cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, após o recebimento de informações relacionadas ao funcionamento administrativo da paróquia. Segundo pessoas ligadas à Igreja, o procedimento faz parte de uma avaliação mais ampla conduzida pela Arquidiocese.

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O próprio padre Júlio minimizou o caráter excepcional da medida. Para ele, auditorias financeiras fazem parte da rotina institucional. "Auditoria financeira tem sempre", afirmou, ressaltando que outras paróquias da cidade também passam por processos semelhantes.

MEDIDAS RESTRITIVAS

A apuração ocorre, no entanto, em meio a uma série de decisões recentes que atingem diretamente a atuação pública do sacerdote. Dom Odilo determinou a suspensão das transmissões ao vivo das missas celebradas na paróquia, o afastamento do padre Júlio de todas as atividades nas redes sociais e não descartou a possibilidade de removê-lo da São Miguel Arcanjo, onde atua desde a década de 1980.

As celebrações vinham sendo exibidas pela Rede TVT (TV dos Trabalhadores), pelo portal ICL e pelo YouTube. Segundo o religioso, as medidas foram apresentadas como uma orientação pessoal do arcebispo. "Dom Odilo me pediu para dar um tempo. Ele acha que é uma forma de recolhimento e de proteção", relatou.

QUESTÃO DE HIERARQUIA

Questionado sobre sua posição diante das determinações, padre Júlio adotou tom de obediência à hierarquia eclesiástica. “Tenho apenas que obedecer”, disse. A Arquidiocese de São Paulo segue avaliando os próximos passos e ainda não definiu oficialmente se o sacerdote permanecerá à frente da paróquia da Mooca, um espaço historicamente ligado à sua trajetória pastoral e social.