O trecho da ciclovia da avenida Niemeyer que desabou no último dia 21, matando duas pessoas, foi construído de maneira diferente do restante da via.

Ele tinha apenas uma viga, enquanto o restante tinha duas. A informação é do engenheiro especialista em pontes e consultor do Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) Antônio Eulálio Pedrosa Araújo, que acompanhou vistoria do órgão ao local do acidente.

Além disso, a empresa de pré-fabricados de concreto que forneceu os pilares e lajes usados na construção da ciclovia, a Engemolde, diz não ser responsável pelo material utilizado no trecho que desabou. Em nota, a Engemolde afirmou que o trecho foi executado por outra empresa.

A Engemolde foi contratada pelo consórcio responsável pela obra, composto por Contemat Engenharia e Geotecnica S/A e Concrejato Serviços Técnicos de Engenharia S/A, para fornecer peças pré-fabricadas para a obra.

Em depoimento à Polícia Civil exibido pelo "RJTV", da TV Globo, o geólogo Élcio Romão Ribeiro, da comissão da Prefeitura do Rio que fiscalizava a obra da ciclovia, disse que a viga que sustentava aquele trecho foi fornecida pela Premag. A empresa não se manifestou até a noite desta sexta (29).

Araújo critica a escolha de uso de material pré-fabricado. "O certo seria usar uma viga monolítica, que prendesse a pista aos pilares com mais firmeza. A pré-moldada tem a vantagem de poder ser feita mais rápido, atende a prazos curtos", diz Araújo.

Procurados pela reportagem para explicar por que esse trecho tem características de construção diferentes do restante da ciclovia, a Prefeitura e o consórcio Contemat/ Concrejato afirmaram que só vão se manifestar após a conclusão das investigações sobre o acidente.

A investigação criminal é conduzida pela 15ª Delegacia de Polícia, na Gávea, zona sul do Rio. O Ministério Público também abriu inquérito para investigar se houve improbidade administrativa na contratação do consórcio.

A Folha de S.Paulo mostrou que as empresas do grupo Concremat, do qual Contemat e Concrejato fazem parte, são rotineiramente contratadas pela Prefeitura do Rio justamente para evitar tragédias. Em quase metade dos casos, por emergência, sem concorrência.

Do total de 54 contratos assinados com três empresas do grupo (Concremat, Contemat e Concrejato) na gestão Eduardo Paes (PMDB), iniciada em 2009, 24 foram firmados por dispensa de concorrência, em acordos emergenciais. Eles representaram 30% do faturamento da empresa com o município, de R$ 409,3 milhões.

O grupo Concremat pertence à família do secretário municipal de Turismo, Antônio Pedro Figueira de Melo, que foi tesoureiro das últimas duas campanhas de Paes. Melo diz que nunca atuou pela empresa.

(Folhapress)

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